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Colunas Ética na escola

Confira os artigos de Terezinha Azerêdo Rios, doutora em Educação, a respeito das dúvidas e dos desafios enfrentados pelos gestores no dia a dia da escola

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Terezinha Azerêdo Rios
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Curiosidade, sim; fofoca não

Investigar o mundo e as pessoas que nos rodeiam é diferente de bisbilhotar e usar informações para depreciar alguém

POR:
Terezinha Azerêdo Rios

A curiosidade é um elemento impulsionador da busca do conhecimento. Ela tem levado os seres humanos a investigar para poder explicar e compreender o mundo de que fazem parte e sua própria existência. Por isso é que se fala, na escola, em desenvolver uma Educação que estimule a curiosidade e leve alunos e professores a assumir uma atitude crítica e a transformar a realidade.

Entretanto, ao lado desse aspecto positivo, encontra-se outro que pode gerar uma situação problemática. É muito frequente a referência ao mito grego de Pandora, mulher de Epimeteu, irmão de Prometeu, que havia roubado dos deuses uma centelha do fogo do conhecimento. Zeus deu a Pandora como presente uma caixa que não devia ser aberta, pois continha um segredo mortal. Curiosa, ela abriu a caixa, deixando sair todas as desgraças que caíram sobre os seres humanos. Esse mito chama nossa atenção para o excesso de curiosidade, associando-o a malefícios e prejuízos.

O escritor português Eça de Queiroz (1845-1900), em sua obra Notas Contemporâneas, menciona esse aspecto, pois afirma que a curiosidade, por um lado, pode levar a descobrir a América, mas, por outro, pode levar a escutar atrás das portas... Essa segunda face de que ela se reveste se encontra também nos boatos, nos mexericos e nas fofocas, comuns em todas as instituições e que não deixam de se manifestar na escola.

O respeito pelo outro implica, em primeiro lugar, o conhecimento desse outro. Portanto, identificar as características daqueles que nos rodeiam e percebê-los como diferentes é algo exigido no contexto da ética. O que se aponta como negativo é a bisbilhotice, a invasão da privacidade, a criação ou divulgação de relatos duvidosos, a distorção de fatos com a intenção de expor as pessoas e, muitas vezes, de prejudicá-las.

Há uma tendência a considerar a fofoca como algo normal no contexto social. Basta perceber o que se encontra na mídia, nas redes sociais, nas relações de toda natureza. "Você já está sabendo que...?" é a expressão que faz "rolar a notícia", frequentemente carregada de sarcasmo, deboche ou maledicência. A escola não está imune a essas manifestações. É por isso que se requer da equipe gestora uma disposição efetiva para evitá-las, um olhar atento para reconhecê-las e uma intenção crítica e uma ação enérgica para afastá-las.

"Quem conta um conto, aumenta um ponto!" é o que muitas vezes se afirma, procurando justificar a presença do boato e da fofoca. O que se esquece é que eles carregam comumente informações depreciativas e o "ponto aumentado" é indicador do desrespeito, da injustiça e da ausência de solidariedade.

A brincadeira que se julga inofensiva pode ser um gesto de bullying. A estória "engraçada" que se conta sobre um colega ou um aluno pode ter consequências negativas. Não é fácil reconhecer os valores duvidosos presentes nessas situações. Por isso é necessária a atitude para identificá-las e garantir o espaço para a construção do bem de todos. Esse empenho, na escola, cria espaço para o aprimoramento da qualidade do trabalho. E para o estímulo à curiosidade criadora de uma vida melhor e mais bonita.