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Como acabei com o vandalismo na minha escola

POR:
Willmann Costa
Dentro da escola, o jovem precisa se sentir acolhido, e não como se estivesse em território inimigo. (Foto: Willmann Costa)

Vou dividir com vocês uma experiência que tive há alguns anos, quando dirigi uma escola conhecida por ter uma clientela com dificuldades em obedecer a regras. Ao entrar no prédio pela primeira vez, logo na portaria, percebi que os alunos não gostavam daquele espaço. As paredes dos corredores, das salas e, principalmente, dos banheiros eram pichadas. Quis entender a razão daquela situação. A diretora adjunta que já trabalhava na escola há mais de quatro anos fez o seguinte relato:

“Os alunos aqui não são ruins, mas não podem ver nada limpo que saem sujando. Parece que querem viver na sujeira. Desistimos de ficar pintando paredes. Se querem paredes imundas, terão paredes imundas. Outra coisa: não adianta colocar papel higiênico nos banheiros que eles entopem todos os vasos sanitários”.

Confesso que fiquei muito incomodado com aquela fala. Passei cinco dias observando a rotina da escola e registrando em um caderno as minhas impressões sobre o ambiente. Penso que, se desejamos educar uma criança, precisamos de um ambiente sadio, no qual o jovem se sinta acolhido. O aluno que passa o dia como se estivesse em território inimigo não consegue desenvolver suas competências de maneira satisfatória. Além disso, tem mais chance de brigar com professores e gestores.

No início da semana seguinte, conversei com a equipe para colocar papel higiênico nos banheiros. Disse que era constrangedor para o aluno ter de ir à secretaria todas as vezes que quisesse usar o sanitário. Houve resistência de alguns colegas, mas todos acabaram concordando em fazer uma nova tentativa.

No primeiro dia, alguns vasos ficaram entupidos, causando transtornos na rotina da escola. Fui pressionado por membros da administração a admitir que os alunos não eram merecedores de tal “regalia”.

Não desisti. Decidi ir às turmas fazer alguns combinados. Expliquei que a escola era de todos e que eles tinham o direito de ter banheiros limpos, bem cuidados e com papel higiênico. Nos períodos seguintes, os problemas foram diminuindo, diminuindo... Até que alunos perceberam definitivamente a importância de manter os banheiros em plenas condições de uso.

A essa altura, já tinha convencido minha equipe da importância de ter os adolescentes como aliados, e não como inimigos. Eles passaram a experimentar a sensação de pertencimento. As pichações também diminuíram, mas ainda aconteciam com certa frequência. Comecei a promover eventos na escola, sempre atendendo aos interesses dos alunos: concurso de rap, rodas de capoeira, festival de talentos etc. Sentia que o clima da escola melhorava a cada dia! E não tardou para que a depredação de maneira geral ficasse no passado.

Certo dia, um aluno foi pego com um tubo de tinta spray, pichando o banheiro. Quis conversar com o jovem para entender o que motivava aquela atitude. Ele disse: “Diretor, vou me abrir com o senhor, porque já senti que é gente boa. Eu adoro deixar minha marca por onde passo. Pode me dar uma suspensão que eu mereço. Não vou fazer mais isso”.

Conversamos por mais ou menos uma hora. Expliquei que só queria entender qual era a motivação para aquela atitude. Ele me explicou a diferença entre grafite e pichação. Falamos de arte, de adequação, de respeito.

Bem, no final da conversa, chegamos à conclusão de que seria importante criar um painel para que os amantes do grafite pudessem se expressar e fossem valorizados. A professora de Arte também abraçou a ideia.

LEIA MAIS: Pixação é vandalismo?

Com essa experiência, tive a certeza de que um gestor precisa estar atento ao que acontece na escola. Assim, ele transforma um problema em uma ferramenta de promoção da Educação de excelência.

Um abraço,

Willmann Costa

Willmann Costa é diretor geral do Colégio Estadual Chico Anysio, no Rio de Janeiro-RJ, e professor de Língua Portuguesa e Literaturas. Tem mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade, pela Universidade Veiga de Almeida. Atuou como tutor do programa Gestão da Aprendizagem Escolar na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).