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Como fiz para envolver os responsáveis na vida escolar dos alunos

POR:
Willmann Costa
Sala lotada: Willmann conseguiu levar as famílias para dentro da escola. Foto: Divulgação

Não é novidade para nenhum gestor a dificuldade que temos de envolver os responsáveis na vida escolar dos jovens, principalmente para os que dirigem escolas em grandes cidades. Mas essa relação não foi sempre assim. Lembro-me que, na minha época de estudante da Educação Básica, a relação que as famílias tinham com a direção e o corpo docente era diferente.

Tudo que a escola propunha, seja o fazer pedagógico ou sanções impostas aos alunos, era endossado pelas famílias. Atualmente, não é bem assim. Com a massificação da informação, nas últimas quatro décadas, a escola perdeu a posição do saber educar. Apareceram vários métodos pedagógicos. Qualquer segmento social, se assim desejasse, poderia dar palpites sobre o assunto. Discutir Educação, sem a presença de educadores, não é nada incomum.

Assim, fomos perdendo o prestígio. A escola se sentindo desamparada, na tentativa de buscar de volta sua posição, passou a reclamar dos alunos e da família. A partir desse novo cenário, muitos responsáveis começaram a procurar a escola só para questionar, com ou sem motivo, alguma coisa que feriu suas expectativas. Justificavam a ausência, alegando falta de tempo pela nova estrutura familiar que obriga não só o pai, mas também a mãe a trabalharem fora de casa. Dessa forma, criou-se um abismo entre a família e a escola.

Relato aqui uma devolutiva que recebi certa vez de uma mãe em uma reunião de pais. Em uma manhã de sábado, na primeira reunião do ano letivo, fiquei assustado, pois havia poucos responsáveis no auditório. Incomodado com o baixo quórum, iniciei a reunião falando do Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola e, em seguida, tentei apresentar nossa agenda de encontros para os próximos meses.

Ainda não tinha concluído minha fala, quando uma mãe levantou o braço e, com a voz irritada, falou algumas frases que me fizeram entender o motivo de seu nervosismo. “Diretor, não adianta vir com essa conversa de reuniões a cada bimestre, eu não venho. Vocês dizem sempre a mesma coisa, só sabem falar mal de nossos filhos, não vou perder meu tempo com isso, já sei o que vou ouvir”, disse ela.

Ironicamente, a jovem senhora começou a falar frases soltas, “imitando” o que diriam os professores em reuniões de pais: “Seus filhos não prestam atenção nas aulas”;  “Se continuarem assim vão ficar reprovados”; “Esses meninos têm que trazer educação de casa”;  “Quem não quiser estudar não venha pra escola”; “ Escola é o lugar de aprender, não de fazer bagunça”.  

Ela continuou falando: “Me explique por que eu tenho que ouvir as coisas erradas dos filhos dos outros? Vim nessa primeira reunião só para que o senhor saiba que meu filho tem mãe.” Olhei para pequena plateia de pais e percebi que todos apoiavam aquele desabafo. Decidi, naquele momento, ouvir a demanda de cada um. Era meu primeiro ano como diretor geral naquela instituição. Fiquei curioso para saber o que cada um achava dos encontros bimestrais.

Terminada minha escuta atenta, estava cheio de argumentos para atrair aquelas pessoas para escola. Disse que concordava com a fala de todos, pois também não compactuava com a exposição do que era individual para o público. Aproveitei a oportunidade para falar da importância da formação de nossos jovens. Disse que a escola deveria ir além da preocupação com as notas bimestrais. Nas reuniões, gostaria de dar um panorama geral das turmas, do que deu certo ou não em cada bimestre. Se existissem casos individuais, eu chamaria, no decorrer do bimestre, o responsável pelo aluno, na tentativa de, juntos, encontrarmos uma solução para os eventuais problemas.

Aos poucos vi as fisionomias mudando. Naquele momento, começou a nascer uma nova relação com as famílias. Falei que faríamos fóruns com temas relevantes como: sexualidade, drogas e redes sociais. Disse que era equivocado achar que poderíamos educar nossos jovens da mesma forma como fomos educados, porque o mundo mudou e precisaríamos atentar para os novos acontecimentos da contemporaneidade. Nesse dia, percebi que quebrei a resistência dos responsáveis presentes naquela reunião. Voltei a falar do calendário das reuniões, e agendamos o primeiro fórum para o mês seguinte.

Em nosso primeiro evento, falamos sobre as características da geração Z (jovens nascidos entre o fim dos anos 1980 e o começo dos anos 2000). Seus desejos, suas formas de comunicação e como esses jovens lidam com o poder hierarquizado. Para ajudar a funcionária encarregada de convidar os responsáveis para o fórum, fiz um roteiro que facilitasse a comunicação por telefone e também enviamos convites por escrito. Convidamos um psicólogo e um pedagogo para abordar o tema. Eu mesmo fiz a mediação. Cada palestrante falou durante 20 minutos e depois os pais puderam fazer perguntas. Foi uma ótima experiência!

Assim, conseguimos trazer a família para escola, criamos laços mais fortes e passamos a ter uma relação de confiança.  Agora, estamos trabalhando para continuar neste caminho.

Um abraço,

Willmann Costa

Willmann Costa é diretor geral do Colégio Estadual Chico Anysio, no Rio de Janeiro-RJ, e professor de Língua Portuguesa e Literaturas. Tem mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade, pela Universidade Veiga de Almeida. Atuou como tutor do programa Gestão da Aprendizagem Escolar na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).