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Diretor pode negociar com traficante? E chamar a polícia?

Cinco respostas sobre como enfrentar a violência na escola

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Os portões arrombados da EM Themistocles Pinheiro Gadelha, em Manaus, são o indicativo do problema e da solução. Em um contexto violento, as escolas tendem a se fechar, quando a abertura e a confiança na comunidade são o melhor caminho para tornar o local mais seguro. Foto: Laís Semis

1. COMO FAZER COM QUE A COMUNIDADE RESPEITE A ESCOLA?

Reverter a situação é difícil. Afinal, a escola reflete as questões de segurança do ambiente em que está inserida. Caren Ruotti, pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência da USP, aponta um caminho: "O que a gente tem de exemplos mais positivos em segurança são as escolas que se abrem para a comunidade. Não são as que se fecham, que colocam grades e vigilância".

O ideal é que a segurança das escolas seja como nas cidades: funciona sob os "olhos da rua", como conceitualizou Jane Jacobs em seu livro Morte e Vida de Grandes Cidades. Isso significa ter diferentes pessoas – mesmo sendo desconhecidas – observando os locais públicos. Essa providência funciona como uma medida de manutenção de segurança e liberdade.

Como conseguir isso? Exemplos de boas práticas seriam deixar os espaços da escola abertos e chamar as famílias para participar do dia a dia da instituição. É o que acontece na EM Professor Waldir Garcia, também na capital amazonense. Os horários de uso da quadra foram definidos no início, em reunião entre escola e comunidade. A penalidade – decidida conjuntamente – para quem não cumpre as regras é a perda do horário. "Não sofremos com roubos ou depredações porque eles cuidam do nosso espaço, e essa relação é muito boa", diz a diretora Lúcia Cristina Santos.

Em São Paulo, após duas décadas comandando a EM Campos Salles em Heliópolis, o diretor aposentado Braz Nogueira tem muito a compartilhar sobre o dia a dia em uma das maiores favelas da metrópole. Ele foi além da abertura da quadra: por anos dividiu as chaves da escola com a comunidade - pais, líderes comunitários e representantes de igrejas católicas e evangélicas. "Eu tinha 12 conjuntos de chaves que eram compartilhados com esses grupos", relata. "A escola é da comunidade. Ela é muito mais deles do que foi minha como diretor", afirma Braz.

LEIA MAIS: Além do Rio: violência explode nas escolas de Manaus

2. QUANDO CHAMAR A POLÍCIA?

Nas situações categorizadas como crime pelo Código Penal: entrada de armas na escola, ameaças efetivas, perseguições contra alunos, invasões de criminosos, entre outras. "Não se pode acionar a polícia para resolver conflitos cotidianos. Isso é péssimo porque as pessoas perdem a confiança nesse espaço, em que passam grande parte da vida delas", explica Miriam Abramovay.

3. PALESTRAS COM A POLÍCIA SÃO INDICADAS E SÃO EFETIVAS?

Melhor evitar. É preferível convidar especialistas em temas como drogas e violência. "Os jovens desconfiam da polícia porque ela costuma ser violenta com eles", explica Miriam. Braz Nogueira completa: "Escola e comunidade têm de assumir o que é de solução pedagógica. O meu trabalho com a Guarda Municipal, por exemplo, foi para evitar conflitos da guarda com os alunos".

4. COMO LIDAR COM O USO DE DROGAS DENTRO DO ESPAÇO ESCOLAR?

O mais indicado é ter uma conversa franca com os alunos flagrados. "É preciso deixar claro que a escola não é espaço para isso", defende Miriam. Adotar políticas de repressão, como impedir o uso dos banheiros, não resolve. "A maioria dos alunos não é usuária de drogas, mas eles também acabam sendo impactados por essas medidas", diz a especialista.

5. PODE NEGOCIAR COM TRAFICANTE?

Não. A gestão é a responsável por definir horários de abertura e fechamento, assim como dias letivos e o uso dos espaços da escola. Mas todas as pessoas interessadas no cotidiano da escola precisam ser chamadas para contribuir em reuniões com a comunidade. "Negociar e conversar são coisas diferentes", defende Miriam. Braz concorda: "Não interessa se é traficante. Se é da comunidade, eu tenho que me aproximar".

Colaboração: Renan Borges Simão

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