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Qualidade e avaliação na creche: como dar conta?

Especialistas discutem formas de acompanhamento e atendimento a crianças de até 3 anos

Educação Infantil: especialistas discutem como avaliar a qualidade   Foto: Arquivo/Agência Brasil

Nos últimos 20 anos, o número de crianças matriculadas na Educação Infantil cresceu praticamente sete vezes. Não à toa, o debate sobre como oferecer uma Educação de qualidade nas creches ganhou mais visibilidade, como ficou claro no evento Parâmetros de Qualidade e Avaliação na Creche. Realizado no dia 28 de junho em São Paulo, o encontro reuniu especialistas em Educação Infantil para discutir os pontos levantados pela pesquisa da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (FMCSV), instituição parceira do Conviva Educação.

“Em 1998, o total de matrículas em creches brasileiras era de menos de 500 mil crianças. Em 2017, passa de 3 milhões e 400 mil. O salto nesses quase 20 anos é impressionante!”, afirmou Daniel Domingues dos Santos, da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEARP/USP). “Na pesquisa, buscamos revisar na literatura científica as características de boas escolas infantis voltadas para o público de 0 a 47 meses e identificar com 19 personalidades influentes no debate nacional quais seriam os pontos de vista e especificidades de nossa cultura que acrescentam ou modificam a qualidade da creche”, completou.  

Realizada nos últimos 2 anos com financiamento da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, a pesquisa traz análises sobre os pontos de tensão no debate nacional e que influenciam a definição do que seria qualidade de creche, conforme citado por Daniel no vídeo abaixo:

Parte do grupo de 19 entrevistados estava presente no encontro, como Beatriz Abuchaim, Maria Malta Campos, Zilma Oliveira, Carolina Velho, Cláudia Costin, Rita Coelho, Cleuza Repulho, Maria Thereza Marcílio, Patrícia Lacerda e Sílvia Carvalho. Esses e os convidados vindos de secretarias municipais de educação, universidades, Undime, institutos e fundações dedicadas à educação refletiram sobre a pesquisa apresentada e procuraram redigir orientações para os governos federal, estadual e municipal em relação ao atendimento na creche. A sistematização desses pontos será finalizada e organizada pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal para posterior compartilhamento.

Andrei Alberto Müzel, Dirigente Municipal de Educação de Itapeva (SP), comentou: “Neste trabalho, fica reforçada a ideia de que nós, das secretarias de Educação, devemos estar atentos à prática docente e ao desenvolvimento da criança quando pensamos em oferta de vagas e qualidade do atendimento”.

Especialistas analisam o estudo feito pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal em evento em São Paulo   Foto: Acervo pessoal

Destaques da pesquisa
A seguir, veja trechos dos quatro pontos controversos indicados no resumo executivo pela equipe do pesquisador:

Percebe-se claramente uma divergência entre os entrevistados que gostariam que fosse puramente educacional ou um espaço de promoção de desenvolvimento infantil em sentido mais amplo. Em um extremo, alguns entrevistados propõem um serviço orientado pelo tipo de atividade que lá ocorre, ou seja, primeiro se estabelece um currículo e depois se organiza o serviço em função da melhor forma de cumpri-lo. Em outro extremo, outros propõem um serviço orientado pelo perfil da demanda”.

“O segundo ponto de discórdia está relacionado a quão estruturado o contexto da creche pode ser. Nem todos os entrevistados simpatizam com a ideia de que haja uma rotina a ser seguida. Os principais argumentos em favor de uma rotina e da escolha por determinadas atividades propostas pelo educador são de que existiria evidência científica de que algumas atividades produzem estímulos importantes para a criança. Contrários a este ponto de vista, outros entrevistados argumentam que atividades estruturadas podem deixar de ser lúdicas, e muitas vezes acabam envolvendo apenas parte da turma, visto que os estágios de desenvolvimento são muito heterogêneos nessa faixa etária”.

“O terceiro debate ocorre em torno de qual seriam as métricas adequadas para se mensurar a qualidade. Em princípio, é possível aferir a qualidade desse serviço tanto medindo se foi dado aos educadores e à equipe da creche condições para que pudessem realizar seu trabalho de modo satisfatório (o que chamamos neste estudo de medidas de insumo), quanto se os educadores fizeram o melhor uso dos insumos disponíveis de modo a oferecer à criança as melhores experiências que seriam possíveis a partir dos mesmos (processos), quanto ainda se a transformação ocorrida em decorrência desse serviço foi a melhor possível (resultados).”

“O último ponto de divergência está relacionado ao uso que poderia ser feito de medidas de qualidade. Para muitos, a educação infantil é um segmento muito coeso e sem cultura de avaliação, e nada que não seja pactuado entre múltiplos atores será aceito e resultará em um sistema efetivo de mensuração. A forma de introduzir estas ideias seria através da autoavaliação participativa, onde diversos atores seriam chamados para definir democraticamente quais indicadores de qualidade seriam adequados. No outro extremo, críticos dizem que autoavaliação é sempre inflada, e que transmite por isso a falsa mensagem de que as coisas estariam melhores do que realmente estão”.

 

*Este texto foi publicado originalmente na plataforma Conviva Educação e adaptado para o site de Gestão Escolar

Conviva Educação é uma iniciativa da Undime e 12 instituições criada em 2013 para apoiar os Dirigentes Municipais de Educação no trabalho cotidiano. Há conteúdos, ferramentas e áreas de trocas de experiências disponibilizadas gratuitamente. Para conhecer, acesse: www.convivaeducacao.org.br