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Como a articulação em rede pode transformar a Educação

Empreender ações conjuntas em prol de resultados comuns é um caminho cada vez mais valorizado

POR:
Lúcia Cristina Cortez
Crédito: Getty Images

Os novos arranjos no território com a formação de redes que visam proporcionar uma Educação transformadora têm sido vistos cada vez mais como um dos caminhos para o fomento da qualidade da Educação. Foi com muita alegria que recebi um convite inédito, como gestora da Escola Municipal Waldir Garcia, para participar da oficina do Programa Escolas Transformadoras no 17º Fórum Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação justamente sobre este tema.

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Trabalhar em parceria com as diferenças e empreendendo ações conjuntas em prol de resultados comuns é um caminho cada vez mais valorizado para a transformação da Educação e da sociedade. Ser capaz de liderar processos de transformação de forma colaborativa, assumindo papéis diferentes e complementares é uma competência a ser cultivada e apreendida em todas as etapas da Educação Básica. Esses comportamentos são fomentados pelas competências gerais nove e dez da Base Nacional Curricular Comum (BNCC).

O QUE DIZEM AS COMPETÊNCIAS 9 E 10 DA BNCC

“09. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, como acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.”


Mas essas competências não devem se limitar aos estudantes. Elas também são essenciais na relação entre os diferentes atores que compõem o ecossistema da Educação. Ela inclui os familiares e outros responsáveis pelos estudantes, profissionais que atuam em redes e secretarias de Educação, parceiros do território e universidades, por exemplo.

A implementação da BNCC e a Meta 7 do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê o fomento a qualidade da Educação Básica em todas as etapas e modalidades, encontra o cenário ideal para novos arranjos e colaboração de territórios. Nesse contexto, redes e equipes de secretarias assumem um papel relevante e de coliderança no processo.

Na oficina houve a exibição de trechos da série “Corações e mentes, escolas que transformam”, em que a nossa escola, a Waldir Garcia, é uma das protagonistas. Em seguida, se deu uma roda de conversa composta por mim e por representantes de outros segmentos da Educação.

QUEM ERAM OS OUTROS PARTICIPANTES DA NOSSA CONVERSA

Carlla Vicna dos Reis Martins, 20 anos, estudante. Ex-aluna de escolas públicas de Manaus e hoje estuda engenharia da computação na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Fundou um projeto social de ensino de astronomia, chamado Projeto Cosmos.  Acredita que a astronomia é poderosa para encantar os jovens e ser a porta de entrada para estimular conversas sobre Ciências. Foi reconhecida jovem transformadora pela Ashoka.

Ceane Simões, professora e mãe atuante no movimento de famílias pela Educação integral e democrática em Manaus (Coletivo Escola Família Amazonas). Professora de cursos de licenciatura da Universidade Estadual do Amazonas (UEA). Suas áreas são gestão educacional, currículo da Educação Básica e políticas públicas em Educação.

Euzeni Araújo Trajano, mestre em Educação pela UFAM e especialista em gestão de sistemas educacionais. Graduada em Pedagogia, com habilitação em supervisão educacional. Atual subsecretária de gestão educacional da Secretaria Municipal de Educação de Manaus.

Zilene Trovão, pedagoga e especialista em gestão escolar. Atual gestora do CMEI Hermann Gmeiner, em Manaus, reconhecida como uma escola transformadora e inovadora que valoriza e respeita a primeira infância pela RedSOLARE/Brasil.

Helena Singer, doutora em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado pelo Laboratório de Estudos e Pesquisas sobre  Ensino e Diversidade da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Líder da estratégia de juventude da Ashoka.

Flavio Bassi, mediador do debate. Líder da estratégia de infância e vice-presidente da Ashoka na América.


Dialogar com estes diversos atores da Educação foi um momento de muita interação e aprendizagem. Na apresentação das experiências, podemos perceber que estamos exercitando a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação em busca de uma Educação democrática, transformadora, inclusiva e integral de qualidade.

Ao ouvir Carlla Vicna, fiquei emocionada pelo seu protagonismo, força e determinação em fazer a diferença na sociedade. “A juventude  que vibra de energia, vontade e empatia”, disse a estudante. Para ela, a grande questão é como as instituições, famílias e a sociedade como um todo pode trabalhar para empoderá-la cada vez mais, sem minar a criatividade e o espírito de liderança. “Estamos conscientes dos problemas  sociais que vivemos e temos que acreditar no poder  das nossas crianças e jovens de apresentar soluções para os problemas que os rodeia e de executar seus projetos e iniciativas de transformação social.” 

Um evento simples mudou os rumos da articulação territorial em Manaus. Em 2015, o Coletivo Escola Família Amazonas procurou a secretaria e apresentou a proposta para realização de um seminário “Mudar a Escola, Melhorar a Educação: Transformar Vidas”. O objetivo era mobilizar a comunidade educadora e refletir sobre concepções e práticas de educação mais abertas, plurais e democráticas. Depois deste evento, a secretaria criou um grupo de trabalho composto por educadores, técnicos e as famíias para discutir e construir coletivamente a proposta pedagógica de Educação Integral em Manaus. Daí inicia-se a trajetória de transformação de escolas – inclusive a nossa – e das nossas relações com a secretaria e famílias.

Fomos desburocratizando as relações, estabelecendo vínculos afetivos, engajamento pelo diálogo, mudanças atitudinais, quebrando paradigmas. Tivemos que aprender a aprender, a conhecer, a fazer, a conviver, a ser e a ouvir.

Assumimos compromissos coletivos. Antes, vivíamos num cabo de guerra entre secretaria e escola. Mas passamos a perceber que éramos aliados e tínhamos muito a ganhar com uma relação amigável e colaborativa. Fomos tecendo novas possibilidades de nos relacionarmos.

Estabelecemos um arranjo colaborativo entre sede, universidades, sociedade e terceiro setor, estabelecendo conexões de negociação, cooperação e fazendo pactuação entre todos os atores envolvidos no processo. Um verdadeiro exercício de trabalho em rede.

Temos objetivos comuns, sendo o principal deles garantir o direito a aprendizagem de todos. Conforme diz a subsecretária Euzenir Trajano: “Tivemos que colocar o foco nas pessoas para garantir que as crianças aprendessem de forma adequada. Isso porque a aprendizagem depende de vínculo, afetividade, acolhimento e compromisso”.

Assim, pudemos compartilhar nossas vivências de gestão horizontal, compartilhada e de diálogo com os Secretários Municipais presentes na oficina do Fórum da Undime. Esperamos que outras experiências decolem em um processo democrático de ensino aprendizagem nas escolas de todo Brasil. Que os educadores possam desenhar novos arranjos de colaboração em suas redes com a mediação e interlocução da equipe, sabendo ouvir e respeitar aos profissionais, pais e alunos que estão no chão da escola.

Um abraço,

Lúcia Cortez

Lúcia Cristina Cortez é professora de Língua Portuguesa e especialista em gestão escolar, com 34 anos de experiência; diretora da Escola Municipal Professor Waldir Garcia, em Manaus, AM, desde 1995.

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