Chegou um estagiário na escola, e agora?
A gestão escolar tem um papel essencial para que o acolhimento e experiência do estágio sejam positivas para ambas as partes
POR: Paula SalasQuando estamos na universidade, a escola é, provavelmente, o espaço em que passamos o maior tempo de nossas vidas. Imagine chegar em um espaço tão familiar, mas ao mesmo tempo desconhecido? Assumir uma nova identidade e relação com o espaço escolar é apenas um dos desafios vividos pelos estudantes de Pedagogia e licenciaturas.
O estágio é um momento privilegiado para fazer essa transição entre o indivíduo como aluno e como futuro professor. “É importante que quando ele volte, vivencie experiências para que seja visto como um professor e não como um aluno”, afirma Flávia Medeiros Sarti, pesquisadora do grupo Docência, Formação de Professores e Práticas de Ensino (DOFPPEN) e professora na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Ela explica que é comum que, no início, o estagiário se comporte como um aluno – isto é, usar o banheiro dos alunos ou comer no pátio com os demais alunos –, porque se trata da dinâmica que ele conhece. Por isso, é papel do gestor escolar garantir que o estagiário esteja sendo acolhido na equipe e que ele comece a se enxergar nesse outro papel que ele passará a assumir. “É preciso que o estagiário seja chamado para as conversas cotidianas e que se sinta confortável na sala dos professores”, diz Flávia.
Claro que o estágio é um momento de muita aprendizagem sobre a prática docente, mas a parceria entre a escola e o estagiário não precisa ser uma via de mão única. Ambas as partes podem (e deveriam) tirar proveito da situação. “A escola é um espaço formador para todos e é essencial que o estagiário esteja lá para aprender, mas é possível construir coisas juntos”, reforça Marina Basques, coordenadora pedagógica da EMEI Nelson Mandela, em São Paulo. Por isso, é interessante ter uma postura colaborativa para ampliar o olhar e entender o que cada uma das partes pode aprender.
O estudante de Pedagogia ou de licenciatura deve ser visto um futuro profissional em formação e não como alguém estranho à escola. Portanto, é importante que ele comece a criar reconhecimento dentro do espaço escolar desde sua formação inicial. Para ajudar a pensar no acolhimento do estagiário entre a equipe, separamos dicas do que levar em consideração antes de sua chegada, no primeiro dia de estágio e durante o período em que ele estará na escola:
Antes da chegada
A EMEI Nelson Mandela é conhecida por ter um trabalho sólido no acolhimento dos estagiários. A coordenadora pedagógica Marina explica que, antes da chegada do estudante, ela conta para os professores um pouco do estagiário, de onde ele vem e pergunta quem poderia ficar responsável por receber o estudante.
A principal orientação da gestão para os professores, nesse momento, é sobre a importância do feedback e de ter momentos de conversa para entender como está a experiência e se o estagiário gostaria de fazer outras atividades ou se envolver mais como, por exemplo, interagir mais com os alunos ou participar da formação da equipe.
Os gestores também são responsáveis para que não apenas os professores saibam da chegada do estagiário, mas toda a escola. “O estagiário chega muito inseguro, por isso é importante que ele seja reconhecido sem estranhamentos”, afirma Flávia.
No dia da chegada
Sabe quando você viaja para uma cidade desconhecida e faz um tour pelos arredores para entender onde você está? O mesmo acontece na escola. Quando um estagiário chega é importante mostrar a escola para ele e não apenas os lugares físicos.
Marina conta que eles apresentam a escola, o projeto político pedagógico (PPP) e os projetos que estão sendo desenvolvidos para mostrar a narrativa da escola. Flávia reforça a importância de ambientar o estudante: “que alguém gaste um tempo com ele para conversar sobre as prioridades da escola, as dificuldades, as estratégias, o clima escolar, o perfil dos professores, como são os alunos”, afirma.
Durante a apresentação da escola é preciso mostrar espaços que o estagiário, quando era aluno, não conhecia. “Apresentar lugares que são da equipe da escola. Parece um detalhe, mas não é. Ficar da porta do pátio para lá não é acolhimento”, diz Flávia.
Além do cuidado em aproximar o estagiário do ambiente, uma estratégia de acolhimento é demonstrar interesse em saber quem ele é. Marina conta que costuma fazer uma conversa para conhecer o estagiário. “Perguntar de qual lugar ele fala, sua história de vida, suas vivências, quais matérias já teve na faculdade, qual disciplina o trouxe para a escola”, exemplifica.
Durante o estágio
Para Marina, o seu papel como coordenadora pedagógica da escola é de intermediar a relação entre o estagiário e o professor. Para tal, ela busca estabelecer uma comunicação constante com os estudantes. “Estou sempre circulando. Quando o encontro pela escola pergunto se está tudo bem, se quer conversar”, afirma a coordenadora.
É importante que a gestão faça um acompanhamento próximo dos estagiários. Quando é estágio com foco na gestão escolar é mais fácil, porque é o próprio gestor que recebe e é responsável pela formação desse estudante. No entanto, quando o estágio é de sala de aula, é preciso acompanhar a experiência e orientar o professor nesse trabalho formativo. Como, por exemplo, é interessante pedir que o professor reserve um tempo para discutir com o estudante sobre o trabalho que está sendo feito em sala de aula.
Então, além de se mostrar disponível para conversar e verificar como está a vivência do estagiário na escola, é importante colher feedbacks dos professores que recebem e do estudante para ter um cenário real da situação e entender os pontos a serem ajustados.
Outro ponto importante de ressaltar é em relação aos demais momentos da rotina do professor fora da sala de aula. É possível que o próprio estagiário peça participar de um momento formativo da equipe, como pode ser que ele não saiba que é possível ou não tenha coragem de perguntar. De qualquer forma, se ele não pedir, é interessante oferecer a possibilidade. É essencial que o estudante tenha contato com todas as atividades que envolvem a docência. “Não ficar apenas na sala de aula, porque o professor não fica apenas nesses espaços. O estagiário precisa entender isso desde o começo e participar de outros espaços”, explica Flávia.
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