Pacto pela saúde
Ao estreitar o contato com os profissionais do posto médico do bairro, a escola diminuiu a interferência de doenças no processo de aprendizagem
POR: Adriano RolindoTemos consciência de que a maioria dos problemas de ensino deve ser resolvida em sala de aula, investindo na formação de professores. Porém, muitas vezes, há questões de saúde que não só fazem com que os alunos faltem muito às aulas como também podem impedir o progresso deles na aprendizagem. Uma miopia não diagnosticada, por exemplo, pode comprometer a leitura e a visão do quadro. Da mesma forma, um distúrbio na fala é capaz de prejudicar o avanço de uma criança na leitura e na escrita. Muitas famílias não conseguem dar a devida atenção ao assunto. Como gestor, eu acredito que posso e devo ajudá-las. Sempre orientei os professores da nossa escola, a EE Doutor Manoel Alexandre Marcondes Machado, em Campinas (a 100 quilômetros de São Paulo), a me avisar quando suspeitassem de um caso de quadro clínico desfavorável em sala de aula para que eu, dependendo do que fosse, chamasse os pais para conversar ou escrevesse um bilhete a eles, sugerindo a ida ao posto de saúde. No entanto, era muito difícil ter um retorno. Com isso, eu ficava sem saber se o estudante tinha sido levado ao médico, se o problema havia se confirmado ou não e se ele estava se submetendo a um tratamento regular.
Para resolver essas situações, resolvi incluir na pauta das reuniões de acompanhamento pedagógico o item saúde dos alunos. Essa proposta fez parte do meu trabalho de conclusão de um curso de especialização para gestores oferecido pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo em 2011. Assim, no início do segundo semestre de 2012, além das reuniões com toda a equipe docente, eu e a vice-diretora começamos a nos reunir uma vez por mês com cada professor para acompanhar o percurso das turmas e de cada aluno. Fora a análise dos registros dos educadores e do resultado das avaliações, pedimos para todos prestarem atenção em possíveis problemas de saúde que pudessem interferir no rendimento.
Para viabilizar o trabalho, procurei o diretor do posto médico do bairro e expliquei nossas dificuldades, pedindo ajuda no monitoramento dos casos quando eles aparecessem. Ele e a equipe foram tão receptivos que combinamos, inclusive, visitas periódicas à escola. Tínhamos certeza de que, ao fazer exames e conversar com os alunos, os profissionais da saúde teriam um olhar muito mais certeiro. Em outubro, uma enfermeira e três agentes comunitários estiveram na escola. Conseguimos, por exemplo, encaminhar o caso de quatro irmãos que viviam em situação de extrema pobreza. Eles faltavam muito e, quando apareciam, era comum estarem com micose, queimaduras leves e sintomas de desnutrição. Planejamos então uma visita conjunta à casa da família. A princípio, a mãe se mostrou resistente. Depois de muito conversar para deixar claro que a nossa intenção não era cobrá-la, e sim oferecer apoio, reforçamos a importância de os filhos comparecerem às aulas e de ela levá-los ao médico assim que notasse alguma coisa que os incomodasse. Ainda demos uma série de orientações sobre os cuidados básicos de higiene e alimentação.
Agora, quando temos a suspeita de alguma doença, continuo alertando os pais - mas não só. Entro em contato também com os médicos para saber detalhes do problema, se as crianças estão sendo acompanhadas e volto a falar com a família para perguntar se necessitam de alguma ajuda. Certa vez, soube que os pais de um garoto com distúrbios na fala estavam com dificuldade para marcar uma consulta com um fonoaudiólogo. Pedi à equipe do posto que nos auxiliasse e logo foi agendado um horário no centro especializado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Para o meu controle, registro em uma planilha os dados desses alunos, incluindo um breve histórico do problema. Atualizo o documento conforme vou obtendo as informações.
Nosso próximo passo é promover uma série de debates e palestras para os pais, abordando questões de cuidados com o corpo e com a saúde e, claro, a importância de acompanhar a vida escolar dos filhos. São iniciativas simples, mas que trazem um benefício enorme ao nosso trabalho pedagógico.
Adriano Rolindo é diretor da EE Doutor Manoel Alexandre Marcondes Machado, em Campinas (SP).
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