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Colunas Ética na escola

Confira os artigos de Terezinha Azerêdo Rios, doutora em Educação, a respeito das dúvidas e dos desafios enfrentados pelos gestores no dia a dia da escola

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Terezinha Azerêdo Rios
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Felicidadania para nós

A participação responsável dos gestores favorece a construção da cidadania plena na escola

POR:
Terezinha Azerêdo Rios

O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nos desafia nos versos de seu poema Receita de Ano Novo: "Para ganhar um Ano Novo/que mereça este nome,/ você, meu caro, (...)/ tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,/ mas tente, experimente, consciente". Pois é justamente para desejar um feliz período que se inicia que cumprimentamos uns aos outros todo começo de ano. E, se desejamos que, além de novo, o ano seja feliz, temos de fazê-lo ser assim na família, entre amigos e no trabalho.

Na escola, proporcionar um ano feliz é um desafio para a equipe gestora e deve fazer parte de suas atribuições. Realizar seu trabalho de maneira competente é uma forma de procurar garantir o bem a si próprio e aos outros. Implica colaborar na construção do que o sociólogo Herbert José de Souza, o Betinho (1935-1997), chamou de "felicidadania": cidadania plena, vida feliz. Mas o que isso significa no dia a dia da escola? A noção de felicidade é bastante complexa e são muitas as definições que encontramos. O que faz você feliz? Se a felicidade tivesse um cheiro, qual seria? Quer ganhar a felicidade sem gastar muito? Essas e outras perguntas são usadas em anúncios de empresas e de produtos. Ainda bem que não vamos atrás das respostas porque, se nos dispuséssemos a buscá-las, constataríamos que elas variam de acordo com as pessoas que respondem. Há, porém, uma afirmação com a qual todos parecem concordar: a felicidade é algo sempre procurado pelos seres humanos e, segundo Aristóteles, no livro Ética a Nicômaco, é o fim último da vida das pessoas em sociedade.

Do ponto de vista ético, felicidade significa vida plena em companhia dos outros. Ela é o outro nome para o bem comum, que é o horizonte da ética. Tem a ver, portanto, como nos aponta Betinho, com a ideia de cidadania, que é a possibilidade de exercer direitos, de ser reconhecido pelos outros e de participar da organização da sociedade e da cultura. Se a escola se propõe a colaborar na construção da cidadania e do bem comum, os gestores devem estar preocupados em criar condições para que isso se efetive no contexto escolar, no trabalho dos professores e na relação com a comunidade. Isso pode ser feito, por exemplo, ao deixar claros quais são os objetivos da escola, que métodos são adotados e que formas de avaliação são propostas, levando em conta as necessidades concretas do contexto social. Assim, não é exagero afirmar que a felicidade deve estar incluída no currículo e no projeto político-pedagógico.

A felicidade não deve ser vista como algo romântico ou ligado a uma concepção utilitária e consumista, tão distante que jamais conseguiremos alcançar. Ela pode emergir se os educadores realizarem um trabalho de boa qualidade em todas as dimensões que o constituem - técnica, estética, política e ética.

Aos gestores, cabe preocupar-se com seu envolvimento e sua participação responsável para que isso ocorra ao longo de todo o ano letivo. Porque a felicidade, assim como a competência, não é algo estático nem se encontra solitariamente. Ela pressupõe um caminhar e uma convivência - uma vivência em companhia. E não é fácil, como afirma Drummond. Mas vale fazer como ele sugere: tentemos, experimentemos, conscientes. E todos podemos ser beneficiados!

Terezinha Azerêdo Rios

É graduada em Filosofia e doutora em Educação.