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Leia dicas e respostas da especialista em Psicologia da Educação, Catarina Iavelberg, sobre a vida escolar dos alunos e sobre a relação entre a instituição e a família

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Catarina Iavelberg
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Livre das influências do consumismo

Ajudar os alunos a entender a dinâmica do consumo é fundamental para uma formação mais autônoma

POR:
Catarina Iavelberg
Catarina Iavelberg. Foto: Tamires Kopp Nosso Aluno

Catarina Iavelberg é assessora psicoeducacional especializada em Psicologia da Educação

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A oferta de bens de vestuário a que crianças e adolescentes estão expostos preocupa pais e educadores. A moda invade os muros da escola: meninas usam maquiagem, sandálias de salto alto, shorts curtos, blusas decotadas e sutiãs coloridos, enquanto os garotos vestem calças abaixo da cintura e deixam a cueca à mostra. A vontade de muitos é poder transitar no pátio com roupas e calçados do momento tendo em mãos um celular de última geração.

Há décadas, a cultura de massa estimula padrões de comportamento e consumo nos adolescentes e jovens. As crianças também são alvo daquilo que o filósofo e sociólogo alemão Theodor Adorno (1903-1969) nomeou de indústria cultural. Infelizmente, em grande parte das instituições, o modo de se vestir é determinante para a aceitação no grupo. Para muitos, a escola representa o principal lugar de reconhecimento - é lá que eles desenvolvem as relações interpessoais e buscam projeção social.

Um dos maiores temores dos estudantes é não ter amigos, não ser aceito, ficar isolado na hora do intervalo, não ser convidado para programas e festas nos fins de semana. Sem nenhum constrangimento, eles procuram usar os artigos que supostamente permitirão que façam parte da turma e sejam felizes.

As famílias - inclusive as menos favorecidas financeiramente - se veem reféns dessas demandas e muitas vezes se submetem a elas, pois temem que os filhos sofram se as mesmas não forem atendidas. Diferentemente do que se possa imaginar, a posse desses produtos restringe mais do que amplia a qualidade das relações entre os alunos.

A escola deve ajudá-los - assim como à família - a entender a dinâmica do consumo a que estamos submetidos e indicar caminhos possíveis para combater a lógica do "é preciso ter para ser". Isso pode ser feito por meio de ações curriculares coordenadas em que sejam problematizados os meios de comunicação de massa, a interferência da publicidade em nossa vida e o modo como os aspectos sociais e econômicos afetam o cotidiano. Além de conhecer a realidade, os jovens devem aprender a questioná-la e transformá-la. É se colocando como lugar de conhecimento, de criação e de troca de experiências que a escola desconstruirá essa inversão de valores e marcará a sua importância na sociedade como um espaço que promove o desenvolvimento e a capacidade de reflexão.

Para tanto, uma ação possível é analisar coletivamente a característica das roupas e dos objetos mais presentes na comunidade. Diferenciar a especificidade dos espaços coletivos (rua, igreja, shopping center) é uma aprendizagem que permite a construção de parâmetros sociais fundamentais. Precisamos esclarecer aos estudantes que os lugares têm funções que orientam a melhor forma de habitá-los. Em um ambiente educador, é importante adequar as vestimentas e os calçados às diferentes práticas corporais realizadas em seus espaços. Não se trata de moralizar, mas revelar as vantagens de uma interação com o outro que ultrapasse as aparências. Quanto menos reféns dos objetos e padrões de consumo, mais livres serão os alunos para se socializar de modo autônomo e autêntico.