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1º módulo: Leitura, literatura e literatura juvenil

Projeto de formação em literatura juvenil

POR:
GESTÃO ESCOLAR
Foto: Victor Malta
Foto: Victor Malta

Despertar no estudante o prazer pela leitura não é uma tarefa simples, ainda mais quando se trata de narrativas longas. Para ajudar você, coordenador pedagógico, nessa missão, João Luís Ceccantini, professor de Literatura Brasileira da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), campus de Assis, a 431 quilômetros de São Paulo, além de especialista em leitura, formação de leitores e literatura infantil e juvenil, preparou com exclusividade para NOVA ESCOLA GESTÃO ESCOLAR este projeto. Neste primeiro módulo, a proposta é discutir os conceitos de leitura e literatura.

Objetivo geral
Formar professores de Língua Portuguesa do 6º ao 9º ano e bibliotecários para o trabalho com narrativas
literárias longas.

Objetivos específicos
- Refletir sobre conceitos como leitura, literatura e literatura juvenil.
- Discutir as relações desses conceitos com a formação do leitor e o letramento literário.
- Despertar ou aprofundar no aluno o gosto e o prazer pela leitura do texto literário, particularmente as
narrativas longas.
- Propiciar o progressivo amadurecimento do aluno quanto à sua consciência de sujeito-leitor.

Conteúdos do 1º módulo

- Conceitos de leitura, literatura e literatura juvenil.
- Critérios de seleção de livros literários.

Tempo estimado
Dois meses.

Material necessário
- Cópias dos quadros publicados nas páginas deste módulo;
- Obras literárias disponíveis na escola (de preferência, as que tiverem muitos exemplares de um mesmo título);
- Textos teóricos sobre leitura indicados na bibliografia de apoio;
- Textos literários curtos para leitura inicial;

Desenvolvimento
1ª etapa: preparação do coordenador
 
Antes de iniciar o projeto, leia os textos indicados na bibliografia de apoio para poder promover debates mais ricos com a equipe. Durante a leitura, selecione os textos que achar mais interessantes para compartilhar com o grupo durante a formação.

CADEMARTORI, Ligia. O professor e a literatura: para pequenos, médios e grandes. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

COSTA, Marta Morais da. Sempreviva, a leitura. Curitiba: Aymará, 2009.

EVANGELISTA, Aracy Alves Martins, BRINA, Heliana, MACHADO, Maria Zélia (orgs.). A escolarização da leitura literária: o jogo do livro infantil e juvenil. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

4. MACHADO, Ana Maria. Contracorrente: conversas sobre leitura e política. São Paulo: Ática, 1999.

5. PEREIRA, Rony Farto; BENITES, Sonia Lopes (orgs.). À roda da leitura: língua e literatura no jornal Proleitura. São Paulo: Cultura Acadêmica; Assis: ANEP, 2004.

6. RITER, Caio. A formação do leitor literário em casa e na escola. São Paulo: Biruta, 2009.

7. SANTOS, Fabiano dos; MARQUES Neto, José Castilho; RÖSING, Tania M. K. Mediação de leitura: discussão e alternativas para a formação de leitores. São Paulo: Global, 2009.

8. SILVA, Vera Maria Tietzmann. Literatura infantil brasileira: um guia para professores e formadores de leitura. Goiânia: Cânone Editorial, 2008.

9. YUNES, Eliana. Tecendo um leitor: uma rede de fios cruzados. Curitiba: Aymará, 2009.

10. ZILBERMAN, Regina; RÖSING, Tania M. K. (orgs.) Escola e leitura: velha crise, novas alternativas. São Paulo: Global, 2009.

2ª etapa: leituras iniciais com os professores
 
Leia em voz alta um texto literário curto, de cunho metalinguístico, que aborde como tema a leitura ou a literatura. Uma sugestão é o poema Biblioteca Verde, de Carlos Drummond de Andrade. Ouça as impressões dos professores sobre o texto.

Para que eles adquiram maior consciência sobre o processo de leitura e se sintam mais preparados para a formação de leitores, proponha que leiam alguns dos textos indicados na bibliografia de apoio - que você também já deve ter lido - sobre os diferentes conceitos de leitura, sua natureza e suas funções.

Solicite que todos leiam o material em duplas e comparem com o ponto de vista defendido por Maria Helena Martins no quadro O que é leitura (abaixo). Faça um debate, enfatizando a ideia de compreensão presente no conceito exposto pela autora. Ressalte também a importância da contínua atribuição de sentidos que deve orientar a leitura na escola, em oposição a práticas mecânicas, nas quais se perdem o propósito principal da leitura e o horizonte da obra lida.

O que é leitura
Maria Helena Martins
(3ª edição, Ed. Brasiliense, São Paulo, 1984, pp. 30-31)

Seria preciso, então, considerar a leitura como um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas, não importando por meio de que linguagem. Assim, o ato de ler se refere tanto a algo escrito quanto a outros tipos de expressão do fazer humano, caracterizando-se também como acontecimento histórico e estabelecendo uma relação igualmente histórica entre o leitor e o que é lido. (...) As inúmeras concepções vigentes de leitura, grosso modo, podem ser sintetizadas em duas caracterizações:
1) Como uma decodificação mecânica de signos linguísticos, por meio de aprendizado estabelecido a partir do condicionamento estímulo-resposta (perspectiva behaviorista-skinneriana);
2) Como um processo de compreensão abrangente, cuja dinâmica envolve componentes sensoriais, emocionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos,
bem como culturais, econômicos e políticos (perspectiva cognitivo-sociológica).

3ª etapa: literatura x cultura de massa
 
Explique que, no próximo módulo, eles desenvolverão projetos temáticos de leitura com os alunos, fundados na leitura de narrativas longas da literatura juvenil brasileira (que serão chamadas de "textos geradores") em diálogo com outros textos (em linguagem verbal e não-verbal): um poema, uma canção, uma breve história em quadrinhos, uma charge, um desenho animado, uma página da internet, uma crônica, um conto, uma notícia de jornal etc.

Antes, porém, terão de desenvolver alguns critérios para selecionar obras literárias e vivenciar um pouco a experiência de leitor com preocupações específicas.

Solicite que os professores dividam uma folha de papel em duas colunas. Na primeira, eles indicarão o título de um romance que já tenham lido e considerem boa literatura. Na outra, o de uma obra que acreditam ser apenas cultura de massa ou mero produto da indústria cultural. Em seguida, devem elencar as razões e características que justificam as escolhas.

Distribua cópias dos fragmentos dos textos de Ana Maria Machado e Ricardo Azevedo (abaixo). Divida o quadro em dois e recolha as anotações do grupo, de maneira que se produza um debate sobre a natureza e as funções da literatura em oposição à cultura de massa. Existe algo que faz com que algumas obras sejam literárias e outras não? Há graus de literariedade? É possível definir com objetividade o literário? O que há de comum (ou de diferente) entre um romance de Machado de Assis (1839-1908) e um exemplar comprado em banca da série Sabrina?

Explore a oposição entre o trabalho criativo e original que se faz presente em diferentes níveis de determinadas obras (estrutura, abordagem dos temas, linguagem, composição das personagens, modo de narrar etc.) e a utilização, em outras, de fórmulas, clichês e recursos que operam no nível da redundância.

A didatização e a precária divisão de pessoas em faixas etárias: dois fatores no processo de (não) formação de leitores
Ricardo de Azevedo
Em Literatura e Letramento: Espaços, Suportes e Interfaces - O Jogo do Livro, de Aparecida Paiva (org.), 1ª edição, Ed. Autêntica, Belo Horizonte, pp. 79-81)

Falar em literatura, como sabemos, significa falar em ficção e em discurso poético, mas muito mais do que isso. Significa abordar assuntos vistos, invariavelmente, do ponto de vista da subjetividade. Significa a motivação estética. Significa remeter ao imaginário. Significa entrar em contato com especulações e não com lições. Significa o uso livre da fantasia como forma de experimentar a verdade. Significa a utilização de recursos como a linguagem metafórica. Significa o uso criativo e até transgressivo da língua. Significa discutir verdades estabelecidas, abordar conflitos, paradoxos e ambiguidades (um príncipe transformado num sapo ou uma menina, Raquel, que em sua bolsa amarela, guarda a vontade de crescer e de ser um menino, ou um personagem, Peter Pan, que se recusa a crescer). Significa, enfim, tratar de assuntos tais como a busca do autoconhecimento, as iniciações, a construção da voz pessoal, os conflitos entre gerações, os conflitos éticos, a passagem inexorável do tempo, as transgressões, a luta entre o caos e a ordem, a confusão entre a realidade e a fantasia, a inseparabilidade do prazer e da dor (um configura o outro), a existência da morte, as utopias sociais e pessoais, entre outros. São assuntos, note-se, sobre os quais não há o que "ensinar". Não são constituídos por informações atualizáveis ou mensuráveis. São temas, isso sim, diante dos quais adultos e crianças podem apenas compartilhar impressões, sentimentos, dúvidas e experiências.

Contracorrente: conversas sobre leitura e política,
Ana Maria Machado
(1ª edição, Ed. Ática, São Paulo, p. 88)

Uma sociedade que se quer democrática tem que (...) garantir a todos que seja saciado seu direito à leitura. E essa leitura, sobretudo em países que ainda estão se construindo, não pode ser apenas uma leitura de entretenimento e de aquisição de conhecimento - embora esse tipo de livro também seja importante e não possa ser desprezado. Mas é indispensável que também se leiam textos criadores, textos que tragam o prazer de pensar, interrogar, sonhar, ligar-se com o resto da humanidade (inclusive gentes de outras épocas e de outros lugares), textos que brinquem com a sonoridade das palavras, que aproximem conceitos díspares, que desenvolvam a inteligência e o espírito crítico. Textos que usem as palavras de maneira artística, rica, sublinhando a beleza que possa nascer do contato entre elas, valorizando a multiplicidade de significados possíveis que elas possam ter, se abrindo para a infinidade de conceitos que elas podem apontar. E, como, na maioria das vezes, grande parte da população só vai se tornar leitora se tiver contato com bons livros através da escola e do sistema de ensino, é de fundamental importância que a escola não desperdice essa oportunidade e não recomende bobagens nem desenvolva atitudes que funcionem como vacina contra a leitura, de tanto que criam anticorpos no leitor.

4ª etapa: análise de narrativas juvenis
 
Solicite que os professores, em duplas, selecionem no acervo da escola livros juvenis, procurando distinguir os literários dos paraliterários e dos informativos. Destaque que hoje há uma vasta produção de obras que:

- Assumidamente são informativas, como as que tratam de aids, bullying, racismo etc.

- Apresentam-se como literárias e narram histórias, mas são apenas um pretexto para 
discutir alguns temas.

- Discutem vários assuntos, mas têm o compromisso de contar bem uma história, apostando na plurissignificação - são essas que trazem a maior contribuição para a formação do senso estético e do espírito crítico do leitor.

As duplas deverão descartar as obras do primeiro tipo, uma vez que elas nem mesmo ambicionam ser literatura, e selecionar um par de títulos, de preferência sobre temas semelhantes, composto por obras das outras duas categorias.

Proponha, então, uma análise comparativa das duas obras que formam cada par, tomando por base as considerações dos autores teóricos e escritores lidos e debatidos na etapa anterior.

Crie momentos para que todos apresentem as análises, de tal modo que se obtenha um amplo painel de obras mais e menos literárias, sendo discutidos continuamente os critérios que levaram a essa ou àquela classificação. Perceber as diferenças entre uma e outra obra revela a maturidade do leitor - teremos aí o tão celebrado "leitor crítico".

5ª etapa: planejamento do questionário
 
Proponha a elaboração de um questionário que sirva de roteiro para um debate sobre uma obra literária. Essa experiência vai permitir que os professores vivenciem uma prática que a escola pouco explora (mas que eles devem priorizar com os alunos), que é incentivar outros níveis de leitura que não apenas o racional, o analítico, o reflexivo.

Na tradição escolar, além de se dar pouca voz ao aluno enquanto leitor - o que permitiria a ele se manifestar como sujeito sobre uma dada leitura e compartilhá-la com os colegas -, costuma-se ignorar ou minimizar os comportamentos leitores, como a relação afetiva que cada um estabelece com uma narrativa literária - pautada por inúmeras identificações e rejeições - e com a materialidade do livro.

Solicite aos professores que selecionem uma obra literária e a leiam. Peça, então, que elaborem questões como as sugeridas no quadro Exemplo de Questionário (abaixo) e criem outras específicas sobre o título escolhido. Esse roteiro servirá de guia para um debate com os estudantes para contemplar as instâncias do complexo processo configurado pela leitura.

Exemplo de questionário

Primeiro momento (explorando o livro como objeto e os seus aspectos materiais)
- A capa chamou a atenção? E a quarta capa?
- O título é atraente?
- O livro tem orelhas? Do que tratam?
- O livro faz parte de alguma coleção?
- Que observações podem ser feitas sobre o formato da publicação, a aparência e a textura do papel?
- O tamanho e a cor das letras são agradáveis?
- O livro é fino ou grosso?
- A obra tem ilustrações? Elas são atraentes e sugestivas e convidam à leitura?
- Outro aspecto ligado à dimensão material do livro chamou a atenção? Do ponto de vista do aspecto físico, o livro lembra outro já lido por você? Em quê?

Segundo momento (explorando as impressões de leitura e reação emocional)
- O que achou da obra? Por quê?
- Do que mais gostou? Por quê?
- Do que menos gostou? Por quê?
- Houve identificação com algum personagem? Algum lembrou alguém conhecido? Quem?
- Houve algum personagem que mais lhe agradou? Por quê?
- E de qual personagem gostou menos? Por quê?
- Você já viveu alguma situação parecida com aquelas apresentadas na narrativa?
- Suas expectativas iniciais se confirmaram durante a leitura?

Terceiro momento (explorando temas e formas, estabelecendo relações com o contexto e com a biografia do autor etc.)
- Quais as questões centrais da obra?
- Existem questões periféricas relevantes? Quais?
- Que aspectos da linguagem chamam mais a atenção? Os diálogos são convincentes?
- Que personagem da narrativa parece mais bem construído? Por quê? Que traços de sua psicologia sobressaem?
- A narrativa se parece com outras do mesmo autor? Em quê? Ou com outras de outros autores da mesma geração do escritor?
- As ilustrações têm sintonia com o texto verbal? Por quê? Enriquecem ou
empobrecem a leitura?

6ª etapa: preparando os projetos
 
Retome a importância de lutar pelos significados nas práticas de leitura ressaltando que, para tanto, é preciso ter acesso a obras de boa qualidade, pois elas oferecem a mais ampla gama de sentidos. Como preparo para o próximo módulo, peça aos docentes que separem as melhores obras analisadas na quarta etapa para a elaboração dos projetos de leitura.

Continuação do projeto de formação em Literatura Juvenil

2º módulo: Obras literárias complexas

3º módulo: Comparação entre obras

 

Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA

CADEMARTORI, Ligia. O professor e a literatura: para pequenos, médios e grandes. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

COSTA, Marta Morais da. Sempreviva, a leitura. Curitiba: Aymará, 2009.

EVANGELISTA, Aracy Alves Martins, BRINA, Heliana, MACHADO, Maria Zélia (orgs.). A escolarização da leitura literária: o jogo do livro infantil e juvenil. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

MACHADO, Ana Maria. Contracorrente: conversas sobre leitura e política. São Paulo: Ática, 1999.

PEREIRA, Rony Farto; BENITES, Sonia Lopes (orgs.). À roda da leitura: língua e literatura no jornal Proleitura. São Paulo: Cultura Acadêmica; Assis: ANEP, 2004.

RITER, Caio. A formação do leitor literário em casa e na escola. São Paulo: Biruta, 2009.

SANTOS, Fabiano dos; MARQUES Neto, José Castilho; RÖSING, Tania M. K. Mediação de leitura: discussão e alternativas para a formação de leitores. São Paulo: Global, 2009.

SILVA, Vera Maria Tietzmann. Literatura infantil brasileira: um guia para professores e formadores de leitura. Goiânia: Cânone Editorial, 2008.

YUNES, Eliana. Tecendo um leitor: uma rede de fios cruzados. Curitiba: Aymará, 2009.

ZILBERMAN, Regina; RÖSING, Tania M. K. (orgs.) Escola e leitura: velha crise, novas alternativas. São Paulo: Global, 2009.