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Conselhos de classe em mão dupla

Como dar mais dinâmica às reuniões bimestrais para avaliar o desempenho dos alunos

POR:
Cinthia Rodrigues
Foto: Paulo Wolfgang
SABE O QUE ELES ACHAM? A orientadora Marcia Stela mostra à equipe os resultados de questionários respondidos pelos alunos. 
Fotos: Paulo Wolfgang

A EM Luiz Real, em Rolândia, a 370 quilômetros de Curitiba, deu sentido duplo aos conselhos de classe, aquela reunião que acontece periodicamente para decidir o destino escolar dos alunos - e provoca calafrios naqueles que precisam de 1 ponto para passar. Os encontros entre os professores, a diretora, a coordenadora pedagógica e a orientadora educacional eram considerados improdutivos, pois a conversa girava sempre em torno do comportamento inadequado das crianças com base apenas na percepção dos docentes.

Em 2007, quando a orientadora educacional Marcia Stela Gomes começou a trabalhar na unidade (que atende 170 alunos do 1º ao 5º ano), a direção pediu a ela que pensasse em uma forma de tornar esses momentos mais relevantes para a aprendizagem. A equipe precisava pensar em como ajudar os estudantes com dificuldade. "Para melhorar as discussões do conselho, eu precisava ter um bom material prévio sobre o que acontecia em cada sala", lembra ela. Para "ouvir" as partes envolvidas, a orientadora criou um procedimento que chamou de pré-conselho. Com a ajuda de toda a equipe, ela desenvolveu dois instrumentos. O primeiro é a ficha do aluno - já adotada em algumas escolas, mas até então inédito na Luiz Real. Ela solicitou aos professores que mantivessem consigo em sala de aula uma folha para cada aluno e fizessem nelas anotações sobre os avanços e as dificuldades de cada estudante: como ele se envolve na roda de leitura, quais atividades despertam mais o interesse e quais causam dispersão, como ele está no aprendizado dos conteúdos e assim por diante. Uma semana antes do conselho, Marcia recolhe as fichas preenchidas pela professora regente, pela de Arte, pela de Educação Física, pela de Literatura e pela de Inglês e reúne os documentos por aluno e faz uma tabulação dos resultados.

A segunda ferramenta usada por ela é um questionário a ser respondido pelo aluno. São intercaladas perguntas objetivas e dissertativas. Algumas abordam a atuação em sala de aula (participação, pontualidade na entrega das lições e trabalhos, capricho na execução das tarefas etc.). Outras pedem que ele cite e comente algumas aulas - as mais interessantes e as mais difíceis, por exemplo. Assim, as crianças avaliam as dinâmicas da sala de aula e as atitudes frente às propostas dos professores.

O consultor Celso Vasconcellos, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo e autor de livros sobre planejamento pedagógico, afirma que a consulta aos alunos é fundamental. "Sistematizar um canal para ouvir a opinião da pessoa para quem estamos dirigindo nossas ações é básico. Infelizmente, a maioria das escolas passa 200 dias com os estudantes sem saber o que eles acham das aulas", diz.

Mudanças no planejamento

Foto: Paulo Wolfgang
TODOS PARTICIPAM Os alunos mais velhos servem de escribas para os mais novos para não haver problemas de compreensão

Uma semana antes da reunião do conselho, Marcia Stela escolhe com a coordenadora pedagógica, Márcia Ferreira de Paulo, e com os professores um dia em que as turmas podem dispor de 20 a 30 minutos para responder o questionário. Nas séries iniciais, os alunos mais velhos são chamados a colaborar como escribas dos menores. Orientadora e coordenadora recolhem e leem o material, tabulam as informações gerais e juntam as respostas dos alunos às fichas entregues pelos docentes. E é assim que as informações chegam à reunião do conselho. "É surpreendente como mesmo os mais novos conseguem apontar o que gostam e o que não gostam na rotina e dar justificativas coerentes", comenta a atual diretora, Araceli Trassacapa, que era professora regente quando o sistema começou a funcionar.

A professora de Artes Adriana Marcuz dá um exemplo de como as sugestões resultaram em mudanças no seu planejamento. Para apresentar um determinado pintor às turmas, ela costumava separar duas ou três reproduções que tem no seu material pedagógico e levar para a sala. Foi durante uma reunião do conselho de classe que ela descobriu que isso decepcionava os pequenos. "Ouvi dizer que o artista era o máximo, mas só conheço duas obras dele", observou um aluno do 3º ano no questionário do pré-conselho. "Comecei a levar as turmas para a sala de informática a fim de fazer pesquisas. Fico surpresa de ver como eles se interessam por explorar produções artísticas variadas."

A vez dos pais

Depois de um ano de funcionamento do pré-conselho, Marcia pediu aos familiares que respondessem perguntas sobre a vida escolar dos filhos nas reuniões de pais. Há questões sobre como a criança estuda, se alguém vê a agenda e acompanha a lição de casa e se foi observada alguma dificuldade no período.

Além desses instrumentos, o gestor deve enriquecer a reunião com dados consolidados sobre a quantidade de dias letivos previstos para o bimestre e os efetivamente garantidos, a frequência dos alunos e professores e as avaliações anteriores. Com tudo isso, é possível pensar nas variáveis que implicam no resultado dos alunos, caso contrário a equipe gestora fica refém das queixas e impressões de professores que costumam culpabilizá-los pelo fracasso sem pensar nas condições institucionais que podem ser melhoradas para que eles aprendam mais e melhor.

Veja aqui um projeto institucional elaborado com base na experiência da EM Luiz Real.

Quer saber mais?

CONTATO
EM Luiz Real, R. Voluntários da Pátria, 334, 86609-000, Rolândia, PR, tel. (43) 3240-1210 

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