Por que será que os alunos reconhecem alguns professores como autoridade e outros não?
Uma reflexão sobre a diferença entre autoridade e autoritarismo
POR: Flávia VivaldiNada mais atual do que a discussão acerca do binômio autoridade/autoritário na Educação. Atual, complexo e delicado!
Entendemos como atual por justamente trazer para o debate uma temática que é da sociedade contemporânea como um todo: vivemos ou não um momento de crise da autoridade? Essa discussão tem sido o foco de diferentes áreas de estudos e há pelo menos um consenso entre todas: Sim. Vivemos uma crise de autoridade (ou seria autoridade em crise?).
Já a complexidade da discussão está no fato de envolver um tema pra lá de delicado que é o poder. Ele está na natureza tanto da autoridade quanto do autoritarismo. Foquemos, então, a realidade da escola e as relações estabelecidas entre os adultos – autoridades – e os estudantes.
Na relação que temos com nossos alunos, há uma nítida assimetria de poder. Nossa experiência de vida e nossos conhecimentos, bem como a responsabilidade em compartilhá-los, nos conferem esse poder de autoridade. Assim como também conferea todo profissional gabaritado em desempenhar sua função, em relação às pessoas que desfrutam de sua competência. Entretanto, na relação professor/aluno, o que temos testemunhado de ambas as partes são eventos em que o professor não é visto e nem se sente autoridade. Não há necessidade de ilustrar aqui tais situações. São, infelizmente, conhecidas por muitos de nós.
Sendo o poder um elemento comum entre autoridade e autoritarismo, façamos uma única, porém, significativa distinção: uma autoridade tem seu poder legitimado por aqueles que a reconhecem como alguém admirável. Já o autoritarismo é o poder imposto, sem que haja com isso o reconhecimento daquele que é autoritário como alguém de autoridade. Parece confuso, mas é muito coerente: aquele que admiramos é autoridade para nós! Autoridade como ser humano, como profissional, enfim, admiramos quem é, o que faz e como faz! Portanto, autoridade tem a ver com admiração e respeito, não somente com obediência e submissão. Ser autoritário é justamente querer impor aquilo que não é legitimado.
Voltando a reflexão sobre a escola… Por que será que os alunos reconhecem alguns professores como autoridade e outros não? Quais as características do docente que se vê e é visto como autoridade? Essas perguntas já nortearam algumas pesquisas sobre essa temática – incluindo uma que fiz com a pesquisadora Betânia Dell’Agli, sobre a afetividade de estudantes com histórico de fracasso escolar. De maneira sucinta, os alunos apontam nos professores que admiram, e que, portanto, são autoridades com o poder legitimado, tanto aspectos referentes às personalidades quanto à atuação na docência, tais como: a maneira respeitosa de se relacionar com todos (alunos ou não), o olhar justo sobre as diferentes situações, a tolerância acolhedora para diferentes ritmos de aprendizagem, o domínio do conteúdo e a dedicação com a aprendizagem de todos. Embora sejam todas características que, de fato, justificam o reconhecimento do professor como uma figura de autoridade, não são percebidas pelos alunos em todo o corpo docente. Infelizmente! E essa constatação leva a outra: a busca pelo controle das situações de sala por parte dos professores não reconhecidos como autoridade se dá, prioritariamente, por atitudes autoritárias, em que o poder de adulto e da hierarquia se impõe, muitas vezes, de maneira arbitrária e parcial.
Quais as implicações disso tudo nas relações interpessoais e com o conhecimento? O professor/autoridade, como referência positiva, certamente conseguirá do seu trabalho resultados efetivos na formação dos alunos. Em contrapartida, o professor/autoritário, além de se desgastar infinitamente mais, terá sempre a sensação de insatisfação em relação aos estudantes e à própria prática.
E você? O que te faz reconhecer alguém como uma figura de autoridade? Compartilhe conosco. Sua participação nesse espaço é sempre bem-vinda.
Cumprimentos mineiros e até a próxima sexta!
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