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Colunas Ética na escola

Confira os artigos de Terezinha Azerêdo Rios, doutora em Educação, a respeito das dúvidas e dos desafios enfrentados pelos gestores no dia a dia da escola

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Terezinha Azerêdo Rios
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O poder da palavra

Ao responder às demandas cotidianas, o desafio dos gestores é ter clareza de limites e possibilidades da sua atuação para evitar frustrações e ressentimentos

POR:
Terezinha Azerêdo Rios

Georges Gusdorf (1912-2000), filósofo e educador francês, num livro profundo e bonito, intitulado A Fala (80 págs., Editora Edições 70, tel. 11/3855-6624, 67 reais), afirma que podemos nos definir como "animais que falam". A linguagem, segundo Gusdorf, "fornece a senha de entrada no mundo humano", uma vez que "a função da palavra, na sua essência, não é uma função orgânica, mas uma função intelectual e espiritual".

As palavras são, em primeiro lugar, utilizadas para a comunicação entre os seres humanos e para dar nome aos objetos com que lidam e às tarefas que realizam. A linguagem ganha seu sentido dentro de um sistema de referência, em um contexto específico. A palavra é proferida por um sujeito e recebida por outro - ela é um vínculo entre sujeitos que se comunicam. Expressa ideias, pensamentos, sentimentos, intenções. Ela "quer dizer". Mas... pode deixar de dizer! E, assim, em vez de revelar, pode ocultar significados e intencionalidades. Quantas vezes se diz que algumas pessoas se escondem por trás das palavras? Os discursos podem ser ambíguos, paradoxais, enganadores.

Vale pensar também na palavra emitida não só pela voz, mas pelo gesto. Gestos são palavras "ao vivo", linguagem ao vivo. Pretendemos com as palavras expressar nosso pensar e nosso sentir, e muitas vezes não conseguimos. Mas nosso corpo fala, mesmo quando não queremos. Às vezes, dizemos "sim" em palavras, mas nosso interlocutor sabe que é "não", pelo jeito como nosso corpo fala.

Devemos refletir, portanto, sobre o que é revelado e oculto nos gestos/palavras que constituem as relações no contexto escolar. O que a criança quer dizer com o olhar, a sobrancelha franzida, a mão estendida, o punho cerrado? O que o professor quer dizer com o dedo em riste, o dar de ombros, o desvio do olhar, ou até mesmo com o silêncio? O que os gestores dizem com o olhar impaciente ou surpreso diante de uma atitude dos professores?

É necessário que estejamos sempre atentos aos nossos gestos e às nossas palavras. Ao falar, ao dizer com o corpo, nos relacionamos e nos comprometemos com as pessoas e o trabalho. A ideia de compromisso nos traz ao terreno da ética. Comprometer-se é prometer junto, colocar-se próximo do outro num empreendimento, dar sua palavra. Promessa é algo que nos lança para o futuro, anúncio de algo que está por vir e que, portanto, gera uma expectativa e requer um empenho para que seja realizada. É preciso levar a sério as promessas que fazemos.

É nessa medida que devemos pensar nas solicitações, nas demandas que se fazem aos gestores e na ansiedade por elas gerada, o que os leva, às vezes, a fazer promessas que acabam por incomodá-los, na medida em que são difíceis ou impossíveis de serem cumpridas. Não há como envolver-se num compromisso se não há efetivamente possibilidade de ser realizado o que se promete. Este parece ser um dos principais desafios dos gestores: transitar de forma consciente entre "sins" e "nãos" sem prejudicar o relacionamento. Daí a necessidade da clareza de limites e possibilidades para evitar frustrações e ressentimentos. O que desejamos é que palavras e gestos da equipe gestora, assim como de toda a escola, sejam revestidos de sentido e impulsionem ações na direção da construção da cidadania ativa, da comunicação solidária e de um mundo mais criativo e melhor para todos.