Para conviver com a diversidade
Cabe a nós questionarmos a origem social, política, econômica ou cultural dos padrões estabelecidos para que os alunos respeitem as diferenças
POR: Catarina IavelbergCatarina Iavelberg é especialista em Psicologia da Educação e escreve sobre orientação educacional.
Aprender a viver em um ambiente de diversidade é um dos principais desafios do mundo contemporâneo - e, portanto, da Educação. Ao longo da vida escolar, os alunos se deparam com todo tipo de diferença: de gênero, raça, valores, religião, expressão da sexualidade, ritmos de aprendizagem, configurações familiares etc. Diante dessa realidade, nós, educadores, pregamos o discurso da tolerância e do respeito. No entanto, nem nos perguntarmos sobre a origem das atitudes discriminatórias.
A diversidade é uma construção social. Isso significa que as distinções não existem em si mesmas. Elas são sempre produto da cultura. Ao definirmos pessoas ou atitudes como estranhas, estamos comparando-as a parâmetros previamente estabelecidos. O que entendemos por normal, correto e direito? Quem dita ou reforça os padrões culturais e estabelece as normas são os grupos e as instituições com capacidade de influenciar a sociedade - ou seja, a escola, a família, os amigos, a televisão, os jornais, as revistas, a internet, as redes sociais etc. Mas qual o poder da escola diante de atores tão pouco abertos à tolerância?
Primeiro, devemos perceber que a falta de abertura não significa necessariamente rejeição. O outro é visto com frieza ou até mesmo com desconfiança e temor por representar uma ameaça ao universo conhecido. Sob esse ponto de vista, a reação agressiva ou indiferente àqueles que subvertem nossas convicções sobre o "verdadeiro modo de ser" funciona como uma forma de autoproteção.
Quando ocorre a reação defensiva, o aluno precisa ser orientado a sair da posição de quem está sendo atacado nas certezas e passar a se relacionar com as diferenças por meio de uma perspectiva integradora. Para transformar a reação dos alunos diante das diversidades, o trabalho educacional tem de instigar o questionamento sobre a origem histórica - social, politica, jurídica, econômica, cultural - dos padrões estabelecidos.
Contudo, além de buscar o entendimento racional daquilo que foge à nossa familiaridade, é preciso sentir e experimentar o outro, deixando que ele nos afete emocionalmente. Acredito que o contato afetivo é o único capaz de transformar a qualidade das relações pessoais. O que me encanta no outro? O que me incomoda? O que me aterroriza? Provocar essas perguntas e despertar a curiosidade nos alunos também é tarefa da escola.
A animação Dia e Noite, dirigida por Teddy Newton e produzida pelos estúdios Disney Pixar, ilustra bem a perspectiva integradora da diversidade. Os personagens, o Dia e a Noite, primeiramente se estranham e rivalizam por causa das divergências. Porém, aos poucos eles se fascinam pelas características que não possuem: o Dia descobre as estrelas e a Noite se encanta pelo calor da praia.
Recomende aos professores trabalhar esse vídeo em sala de aula. Certamente haverá alunos com atitudes e convicções opostas - como as do Dia e da Noite. O exemplo pode servir de estímulo para conhecer e vivenciar o modo de ser do outro.
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