Ir ao conteúdo principal Ir ao menu Principal Ir ao menu de Guias
Colunas

Colunas Ética na escola

Confira os artigos de Terezinha Azerêdo Rios, doutora em Educação, a respeito das dúvidas e dos desafios enfrentados pelos gestores no dia a dia da escola

TAR
Terezinha Azerêdo Rios
5 4 3 2 1

Tempo de confraternização

Estar disponível para reconhecer o outro e o melhor presente que podemos dar uns aos outros, na escola e na sociedade

POR:
Terezinha Azerêdo Rios

Outro dia eu estava numa lanchonete e, enquanto esperava o lanche, lia uma revista cuja reportagem de capa tratava da arte de envelhecer. Quando chegou o sanduíche, deixei a publicação sobre o balcão. Sentou-se ao meu lado uma moça. Olhando a revista, sorriu e comentou: "Importante esse tema. Vale para todo mundo, inclusive para os jovens!". Olhando as outras manchetes, chamou-lhe a atenção uma sobre cortesia: "Isso, sim, faz falta neste nosso mundo. Parece tão fácil ser atencioso, mas tenho a impressão que esse tipo de atitude anda esquecida. No trabalho, por exemplo, as pessoas costumam ser amáveis com os superiores mas não tratam os subordinados do mesmo jeito".

Conversamos sobre quanto é bom ser acolhido, receber um sorriso e se sentir importante para os outros. Contei a ela sobre um cartaz de uma cafeteria italiana, divulgado na internet, com os dizeres: "Um expresso: 3 euros. Um expresso, por favor: 2 euros. Bom dia! Um expresso, por favor: 1 euro". Ela achou graça e disse que o cartaz revelava bem o significado da delicadeza no trato com os outros. Terminou seu lanche, agradeceu ao rapaz que a havia servido, e me deu um abraço, dizendo: "Gostei muito de você!".

Foi o que bastou para meu dia ficar luminoso e eu me esquecer de um contratempo que havia enfrentado momentos antes de ir à lanchonete. Um abraço. Um gesto tão simples e tão afetuoso. Acho que ela nem percebeu quanto aquilo significou para mim - e talvez seja isto o que dá maior valor ao seu gesto: a sua gratuidade e sua espontaneidade.

A reportagem sobre cortesia chama a atenção para o risco de um gesto amistoso ser falso ou mal-intencionado. Por isso, algumas pessoas, como meu amigo Alípio Casali, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, preferem falar em cordialidade, palavra que aponta para algo que vem do coração. No fim do ano, ocasião de festas, são frequentes os apelos à solidariedade e à compreensão - que muitas vezes se mantêm apenas no discurso. Como a escola também é envolvida nesse clima, é importante a atenção dos gestores para garantir que a convivência seja marcada pela cordialidade e pela possibilidade de aprofundamento de laços afetivos. Confraternização é o nome que se dá aos encontros, às brincadeiras de amigo secreto e à troca de presentes. A ideia de confraternizar remete ao convívio como irmãos, e, estendendo seu significado, como irmãos amigos.

A escola é um espaço específico de convivência, não necessariamente de amizade. Mas devemos lembrar, como afirma o educador francês Philippe Meirieu, que ela "é uma instituição onde as relações entre as pessoas, o conjunto da gestão cotidiana e todo o ambiente material conspiram - etimologicamente, respiram juntos - para instituir uma forma particular de atividade humana fundada em valores específicos: o reconhecimento da alteridade, a exigência de precisão, de rigor e de verdade, a aprendizagem conjunta da constituição do bem comum e da capacidade de pensar por si mesmo". Se realmente acreditarmos nisso, saberemos que todo tempo é tempo de confraternizar e que o melhor presente que podemos dar uns aos outros, na escola e na sociedade, é a disponibilidade para o reconhecimento de cada um e a construção de uma vida feliz para todos.