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7 ações para examinar o trabalho escolar

Aproveite o fim do bimestre para refletir sobre o desempenho dos alunos, analisar as condições oferecidas e elaborar um plano de ação

POR:
Karina Padial
Relógio e agenda colocados em cima de uma mesa de fundo verde azulado
Foto: Getty Images

No começo do período letivo, diretor e coordenador pedagógico, junto com os professores, se reúnem para fazer um balanço do ano anterior, atualizar o projeto político-pedagógico (PPP) e planejar os meses seguintes. Eles reveem os conteúdos a ser trabalhados e as competências a ser desenvolvidas em cada segmento, analisam as principais sequências didáticas e decidem quais projetos institucionais serão mantidos, modificados ou iniciados. O tempo foi passando e, agora, mais um fim de bimestre (ou trimestre) se apresenta como uma grande possibilidade da comunidade escolar avaliar, com base em tudo o que foi previsto, como o processo de ensino tem acontecido.

Isso não significa apenas verificar quanto do livro didático cada turma conseguiu cumprir e decidir quais alunos serão encaminhados para a recuperação paralela. “É hora de olhar para a produção dos estudantes, os dados relacionados ao desempenho escolar, o trabalho desenvolvido pelo professor e as condições oferecidas pela instituição”, alerta Dayse Gonçalves, coordenadora pedagógica da Escola Carlitos, em São Paulo. E isso, segundo Elisabete Campos, pesquisadora do Observatório da Prática Docente, da Universidade Católica de Santos (Unisantos), não acontece apenas com um conselho de classe realizado em meia hora. “Planejamento é fundamental para que essas discussões, que devem ser coletivas, aconteçam em tempo e espaço adequados”, observa. Confira a seguir, sete ações que colaboram para tirar o melhor proveito dessa pausa avaliativa e traçar caminhos eficientes para os próximos meses.

1. Analisar os indicadores de aprendizagem

Uma semana é um bom tempo para diretor e coordenador pedagógico trabalharem juntos no levantamento de dados de aprendizagem – que inclui os índices de evasão, de aprovação e reprovação e distorção idade-série – e na retomada das metas estipuladas para essa área. As avaliações externas e internas podem servir de base para essa reflexão. Por meio delas, é possível identificar os conteúdos em que a garotada apresenta mais dificuldade.
Os portfólios individuais, com produções e atividades desenvolvidas ao longo dos últimos meses, também são instrumentos ricos em informação e permitem reconhecer o caminho percorrido por cada um. Comparar esse material com a sondagem inicial e com os resultados obtidos no bimestre ou trimestre anterior dá uma boa noção da evolução que as turmas e os estudantes tiveram. “Vale o alerta para não cair na armadilha de confrontar as notas de um aluno com as de outro, isso não contribui para identificar as necessidades dos que se saíram pior”, diz Neurilene Martins, colunista da revista NOVA ESCOLA e professora de Pedagogia do Centro Universitário Jorge Amado (Unijorge), em Salvador. O mais importante é refletir sobre quais intervenções e projetos funcionaram e quais precisam ser revistos.

Uma planilha com critérios divididos em área é o pontapé inicial do trabalho desenvolvido na EMEF Alexsandro Nunes de Souza Gomes, em Canaã dos Carajás, a 709 quilômetros de Belém. Esse documento é preenchido pelos professores e analisado pela coordenação pedagógica para diagnosticar quantos estudantes atingiram o desempenho esperado, quantos não alcançaram e onde estão as principais dificuldades. “A cada bimestre ele é atualizado, de modo a permitir o acompanhamento do progresso conquistado por cada um e pela turma. E, no início do ano, ele é preenchido junto com o docente da série anterior, favorecendo a troca de informações com quem já conhece aqueles alunos”, explica a diretora, Luceni da Costa Ribeiro.

2. Observar as condições oferecidas pela escola

Para que o ensino e a aprendizagem ocorram de maneira adequada, alguns aspectos precisam ser garantidos, como o cumprimento do calendário escolar. Você pode analisar esse item respondendo uma série de questões sobre a realidade vivida por cada classe. Maura Barbosa, consultora de GESTÃO ESCOLAR, sugere algumas delas: quantos dias letivos estavam previstos e quantos, de fato, aconteceram? Quantas vezes os alunos foram dispensados mais cedo? Por quais motivos? Quantos professores substitutos atuaram em cada classe? Qual foi o período da substituição? “Ao visualizar essas respostas, a equipe gestora pôde descobrir que o 6º ano A teve o dobro de aulas de Matemática que o 6º ano B e que isso pode ajudar a explicar um desempenho inferior dessa turma nas atividades de cálculo”, afirma.

Avalie, também, a situação dos espaços escolares, todos eles considerados ambientes de aprendizagem. Um banheiro em boas condições contribui para a segurança dos estudantes e os ensina sobre higiene e conservação do patrimônio. Além desses aspectos ligados à manutenção predial, é necessário estar atento ao uso que se faz desses lugares. Áreas como a biblioteca e a sala de informática precisam contar com um cronograma organizado. Verifique, portanto, como e com que frequência elas vêm sendo aproveitadas e estabeleça metas e ações para aprimorar essas atividades, caso seja necessário.

3. Refletir sobre as estratégias didáticas

Ao longo do bimestre, a coordenação pedagógica produz uma série de materiais, como registros das observações de sala, relatórios sobre os momentos de estudo e análise dos planos de aula dos professores e dos cadernos dos alunos. Agora é o momento de rever tudo isso e construir um panorama do que está acontecendo em cada turma.

É preciso saber se as sequências estão adequadas às necessidades da garotada, se há atividades planejadas tanto para os estudantes que estão com dificuldade como para os mais avançados, de forma a garantir que todos sigam progredindo, se os diferentes recursos pedagógicos estão sendo bem utilizados e, em especial, se os horários de trabalho pedagógico coletivo (HTPC) têm contribuído para melhorar as práticas em sala de aula. “É o olhar combinado para tudo isso que dá ao coordenador a possibilidade de identificar os pontos fortes e fracos de sua equipe e ajustar o planejamento das ações formativas para os meses seguintes”, observa Dayse, da Escola Carlitos.

4. Olhar para o trabalho da equipe gestora

Nesse momento de analisar todas as dimensões da escola, é fundamental a gestão incluir no pacote uma reflexão sobre suas próprias ações. Afinal, de que maneira suas práticas têm contribuído para que os alunos atinjam os objetivos de aprendizagem? Segundo Ângela Dalben, doutora em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e autora do livro Conselhos de Classe e Avaliação – Perspectivas na Gestão Pedagógica (192 págs., Ed. Papirus, 19/3790-1300, edição esgotada), para realizar essa reflexão vale considerar os diversos âmbitos de atuação. “Entre eles estão a relação com a comunidade interna e externa, a formação em serviço, o acompanhamento do desempenho dos alunos, a realização de reuniões com a equipe e o monitoramento dos projetos institucionais”, pontua.

Para colaborar com esse momento, é interessante elaborar previamente algumas perguntas avaliativas que possam ser usadas ao final de cada período. Essas questões funcionam como métricas e ajudam a sistematizar as ações e identificar lacunas. Com isso, tem-se a oportunidade de aprimorar o trabalho e, ainda, comparar o que foi alcançado em um bimestre com outro e até em relação a anos anteriores.

5. Envolver os demais segmentos no processo avaliativo

A comunidade deve estar alinhada em relação ao que se espera alcançar em termos de aprendizagem. Por isso, é preciso pensar em diferentes estratégias que permitam a todos identificar os avanços alcançados. Para os docentes, vale organizar uma reunião para, com base em dados levantados previamente, retomar tudo o que foi feito, compartilhar o andamento das situações didáticas e os ajustes necessários e socializar as boas práticas.

Já os pais podem receber um questionário sobre o desenvolvimento da criança, a participação deles nesse processo e as ações da escola. “Quantas vezes seu filho tem tarefa de casa?”, “Você acompanha a realização dela?” e “Está satisfeito com a quantidade e a qualidade das lições?” são algumas das perguntas que valem ser feitas aos responsáveis. “Ao estabelecer esse diálogo, consegue-se perceber, por exemplo, uma família que tem mais dificuldade de colaborar e passa-se a buscar alternativas para isso”, observa Elisabete Campos, da Unisantos. A pesquisadora, no entanto, faz a ressalva de que a comunicação não pode se restringir ao preenchimento desse questionário. Ela precisa acontecer também por outros meios e em outros momentos.

Na EE Professor José Félix, em Potim, a 173 quilômetros de São Paulo, que atende o Ensino Médio, a direção divulga um resumo de todas as reuniões no blog da instituição e convida os alunos para participar de momentos como o conselho de classe. Para que essa participação seja bem aproveitada, os representantes dos estudantes e os docentes são orientados sobre a postura que devem adotar no encontro, sem fazer críticas ou ofensas pessoais e respeitando a vez do outro de falar. “É uma forma de ouvi-los e de compartilhar com os professores suas impressões em relação a questões pedagógicas e de comportamento”, conta a diretora, Sheila Duarte.

6. Aprimorar o conselho de classe

De nada adianta realizar todo o levantamento indicado nos demais itens aqui relatados se o conselho de classe se concentrar na apresentação de notas, problemas de comportamento e reclamações (leia sobre como desenvolver um projeto institucional de conselhos de classe aqui). As informações coletadas pela equipe gestora devem pautar esse encontro e colaborar para que ele seja, de fato, concentrado nas dificuldades individuais dos alunos e não naquelas que são comuns à maioria da classe. Assim, consegue-se identificar as causas do baixo desempenho de alguns estudantes e pensar em intervenções que ajudem a resolvê-las.

Também com base nos dados, deve-se refletir sobre a progressão que cada um conseguiu alcançar, a participação em sala de aula, os trabalhos realizados individual e coletivamente, a frequência e o comportamento. “Da mesma maneira, é necessário olhar para as práticas pedagógicas desenvolvidas, a articulação entre o plano de ensino e as atividades realizadas em sala e as ações paralelas de apoio educacional”, diz Dayse, da Escola Carlitos.

7. Definir um plano de ação

Depois de identificadas as necessidades, é hora de sistematizá-las e elaborar ações adequadas para cada situação. Projetos institucionais ou de formação podem ser planejados para resolver questões que atinjam boa parte da comunidade, como o combate à indisciplina ou o incentivo à leitura.

Para dar conta das dificuldades individuais, vale estruturar o apoio pedagógico ou aprimorar as estratégias já oferecidas pela escola. As possibilidades são muitas. Neurilene, da Unijorge, aponta três caminhos que podem ser desenvolvidos paralelamente. O primeiro é um trabalho na sala de aula em que o docente planeja diferentes tipos de atividades, abordagens e situações que ofereçam aos alunos novas possibilidades de aprender, garantindo que todos avancem em seus conhecimentos. Isso acontece, por exemplo, quando, em vez de um exercício no caderno, é proposto um jogo para ser realizado por uma dupla em que cada aluno se encontra em nível diferente de aprendizagem. O segundo prevê que durante o período letivo sejam organizados novos reagrupamentos temporários entre estudantes de diferentes turmas ou séries de acordo com suas dificuldades. Nesse caso, os docentes também são divididos conforme o conteúdo que mais dominam. O terceiro e último estabelece um horário no contraturno para o atendimento individualizado. “O mais importante é qualificar a ajuda. Não adianta ter esses espaços se a responsabilidade for transferida a um estagiário sem preparo. Gestores, professores e pais devem estar mobilizados e atentos à execução e ao cumprimento dessas ações”, finaliza Neurilene.