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Quem tem medo do Saeb? Dicas para a escola lidar com a avaliação

POR:
Joice Lamb
Foto: Marcelo Horn/ GERJ

As avaliações externas sempre causam muitas dúvidas e controvérsias dentro das escolas, mas acredito que ninguém gostaria de responder “sim” à pergunta do título. Na minha região, ninguém diz ter medo do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb, a antiga Prova Brasil), mas muitos torcem o nariz para os resultados.

Geralmente, dizem que essas provas não conseguem abraçar toda a singularidade de uma escola e, por isso, não deveriam ser levadas em conta. Alguns apenas ignoram os resultados abaixo das expectativas, ou então, festejam os resultados acima da média. Além do lamento ou da comemoração, eu não vejo muita ação prática com os resultados.

Esse fato sempre me intrigou, porque eu também só acompanhava e divulgava os resultados, sem dar muita importância para eles. Estava, lá na minha “aldeia”, feliz que os resultados subiam, mesmo que lentamente.

Mas, como parece que tudo que é bom sempre acaba, chegou o dia de lamentar. Eu não gostei da experiência. O resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) dos anos finais tinha caído muito. De 4,9 em 2011 foi para 4,4 em 2013. Estávamos abaixo da meta em 0,4. Eu sabia que os alunos não estavam reprovando, então o problema deveria ser no aproveitamento. Na Prova Brasil, tivemos um aproveitamento de 18% em Português e 12% em Matemática, considerando os alunos com desempenho adequado. Por outro lado, a partir do nosso olhar para os alunos, não parecia que eles sabiam tão pouco. Então o que havia acontecido?

Levei meu questionamento para os outros membros da equipe e começamos a pensar no tema. Elencamos três hipóteses que consideramos mais relevantes.

1. Os alunos não dão importância para a prova, então não se concentram e “fazem de qualquer jeito”

2. Os alunos não estão acostumados com o tipo de prova e erram por não compreendê-la

3. Os alunos não têm conhecimento suficiente para realizar a prova

De nenhuma maneira queríamos que a terceira hipótese fosse a verdadeira. Apostamos, então, nas duas primeiras e desenvolvemos ações para resolvê-las. Em primeiro lugar, eu preparei uma apresentação e conversei com os alunos sobre a prova, o Ideb, os resultados do nosso município e da nossa escola. Mostrei como o Ideb havia caído e qual tinha sido o aproveitamento dos alunos. Também perguntei qual o desempenho eles achavam que teriam na prova e mostrei os resultados que eles mesmos tiveram no 5º ano.

Nos dias seguintes, as professoras de Português e Matemática realizaram simulados e finalizamos com um quiz competitivo entre as turmas. No dia da prova, os alunos estavam muito concentrados e tivemos certeza que eles se envolveram na ideia de ter um bom desempenho. Depois da prova, todos se juntaram no refeitório para um lanche coletivo e um bate-papo sobre as impressões do dia.

Em 2016, quando soubemos do resultado, divulgamos um agradecimento e parabenizamos os alunos pelo desempenho nas redes sociais. Nosso Ideb subiu para 5,3 e tivemos 45% de aproveitamento em Português e 33% em Matemática. Isso apenas com incentivo e orientação.

Esse exercício fez com que o resultado ficasse muito mais próximo da realidade e agora não temos mais dúvida de que o aproveitamento em Matemática é de apenas 33%. Quando nos deparamos com esse resultado em 2015, depois de festejar um pouco, nos debruçamos em como se dá o ensino na nossa escola e desenvolvemos o Projeto Institucional para o Ensino de Matemática, que pretende rever as aulas dessa disciplina desde a Educação Infantil. Esperamos que, neste ano, possamos festejar um pouco mais, antes de olhar atentamente para o  ensino de Português.

Posso dizer, com convicção, que nós não temos medo da Prova Brasil. Aprendemos que precisamos olhar para dentro e refletir sobre nossos resultados e sobre o que eles representam dentro da singularidade que é a nossa escola.

Joice Maria Lamb é professora da rede municipal de Novo Hamburgo-RS desde 1991 e já teve turmas em quase todos os anos do Fundamental I e II. Atualmente, atua como coordenadora pedagógica da EMEF Profª Adolfina J. M. Dienfenthäler. É formada em Letras, tem especialização em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica e foi uma das 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 2017.