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Ser coordenador do Fundamental 2 é realmente mais difícil?

POR:
Joice Lamb
Daniel Castellano / SMCS

Esta pergunta já foi feita para mim muitas vezes. Algumas vezes, chegaram a me dizer que os professores do Fundamental 2 são difíceis de lidar. Considerando que minha formação inicial foi em Letras e que eu fazia parte desse grupo dos “professores difíceis”, talvez eu possa ajudar a compreender de onde vem este pensamento.  

A formação dos coordenadores é em pedagogia, geralmente com ênfase nos anos iniciais do Ensino Fundamental (em letramento, alfabetização matemática, orientação educacional ou teorias da aprendizagem, ou seja, mais geral). O professor do Fundamental 2 é especialista em uma disciplina específica do currículo. Geralmente, só ele tem essa formação para lecionar na escola. Esta formação tem por vezes intimidado os coordenadores que se acham sem conhecimento e, em consequência, sem autoridade para lidar com os professores especialistas. Por outro lado, este professor se sente isolado na escola, sem outros profissionais para trocar experiências.

Enquanto professora de português dos anos finais, eu me sentia muito sozinha na escola. De certa forma, parecia que eu tinha muita liberdade, porque ninguém questionava as propostas que eu aplicava. Ao mesmo tempo, eu não tinha ninguém a quem recorrer quando enfrentava dificuldades.

A partir do momento em que eu aceitei a coordenação pedagógica, tentei trabalhar com os professores do Fundamental 2 da forma com que eu gostaria que tivessem trabalhado comigo. Trago aqui talvez algumas dicas para compartilhar:

1. O coordenador pedagógico pode não conhecer o conteúdo específico da disciplina, mas pode orientar nos processos de ensino e aprendizagem. Nos encontros individuais com os professores, coloque o foco inicial no ensino. Pergunte: quais propostas e quais atividades o professor escolheu para trabalhar seus conteúdos?

2. Faça reuniões que envolvam a equipe de professores em torno de um projeto comum, para que eles possam criar uma identidade de grupo e contribuir um com o outro. Na nossa escola, trabalhamos com a iniciação científica e todos os professores são orientadores de trabalhos e trocam experiências sempre.

3. Com uma carga horária extensa e muitos alunos, estes professores tem um volume grande de trabalho preparando aulas, provas, avaliações. Evite solicitar planilhas ou relatórios que não sejam realmente úteis. Muitas vezes, os coordenadores enchem estes professores com planilhas que não serão utilizadas depois, porque são só papel para arquivar e não servem para compartilhar informações. Crie um sistema de compartilhamento de informações virtual que todos os professores possam ter acesso. Assim, a informação circula e os professores percebem que suas observações servem para o crescimento do trabalho. Todos ficam mais felizes.

4. Seja sensível às questões de disciplina que os professores enfrentam e tente organizar uma forma de acompanhamento dos alunos e das turmas para que não demore muito entre os acontecimentos e as ações da direção. Como as turmas têm muitos professores, às vezes, demora muito para que o comportamento inadequado de algum aluno seja identificado e olhado com mais atenção. Na nossa escola, temos uma planilha que acompanha a turma, na qual os professores registram observações de cada aluno individualmente. A Orientação e a Coordenação olham esta planilha semanalmente e assim, identificam-se muito rapidamente os alunos que precisam de atendimento.

5. Ouça as queixas dos professores com atenção e procure soluções conjuntas para os problemas comuns. A fala dos coordenadores, muitas vezes, é de que os professores estão desmotivados, mas se seus problemas não são resolvidos é claro que eles ficarão sem vontade de desenvolver novos projetos.

6. Entenda os professores dos anos finais como uma equipe que precisa andar junta. As dificuldades que um determinado professor com uma ou mais turmas não pode ser considerado apenas como “falta de domínio de classe” e esquecido. É preciso que o coordenador conheça todos os lados do problema para ajudar a resolvê-los e faça com que sua equipe compreenda que todos são responsáveis.

Cada coordenador precisa encontrar o caminho com sua equipe, ouvindo e compartilhando informações. Os grupos de professores de Fundamental 2 tem características muito heterogêneas, por isso precisam que o coordenador realmente se envolva com as suas dificuldades e possa ajudar a criar uma proposta comum. Entendo, por experiência, que ser coordenador dos anos finais do Ensino Fundamental não é difícil, mas sim desafiador.

Joice Maria Lamb é professora da rede municipal de Novo Hamburgo-RS desde 1991 e já teve turmas em quase todos os anos do Fundamental I e II. Atualmente, atua como coordenadora pedagógica da EMEF Profª Adolfina J. M. Dienfenthäler. É formada em Letras, tem especialização em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica e foi uma das 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 2017.