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Aluno que chega sem uniforme escolar pode entrar?

Há muitas vantagens no uso do uniforme, mas ele nunca deve se colocar acima do direito do aluno de aprender

POR:
Marlucia Brandão
Uniforme é bom para a escola? Só se não ficar acima do direito do aluno de aprender   Foto: Getty Images

Até que ponto o uso do uniforme ajuda o aluno?

Eu entendo que esse ainda é um tema controverso. Várias instituições públicas e particulares adotam o uniforme como forma de identificação e organização. Muitos pais preferem, outros nem tanto, os alunos reclamam. Mas eu digo sempre que a escola é um universo mágico e complexo, que deve propiciar um diálogo aberto, para que pais e responsáveis possam confiar seus filhos à jornada do conhecimento – um bem necessário não apenas para tomar decisões no decorrer da vida, mas para que cresçam como indivíduos na mesma cultura do respeito. Portanto, tudo tem que ser negociado com a família.

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Sou gestora da EMEIEF “Boa Vista do Sul”, Marataízes-ES, que oferece desde a Educação Infantil (para crianças com 4 e 5 anos) até o Fundamental II, com um total de 345 alunos. Em nossa escola, o uso do uniforme é uma realidade aceita por pais e responsáveis. Isso se deve a alguns fatores importantes:

- A Secretaria Municipal de Educação disponibilizou dois uniformes completos para todos os alunos da rede em 2014/2015. De lá para cá, cada família assume a reposição de novas peças

- Em reuniões realizadas com as famílias, pontuamos como o uniforme escolar pode contribuir na economia das roupas de passeio. Esse é um fato com o qual as famílias concordam

- Com o uso do uniforme escolar, a diferença de classes é amenizada, pois todos se vestem da mesma forma

- Quando qualquer criança ou adolescente tenta cabular aulas, a comunidade escolar tem a possibilidade de identificar o aluno, através do uniforme. Isso já aconteceu algumas vezes, com o Fundamental 2, e sempre conseguimos resolver a questão

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Alunos uniformizados da EMEF Boa Vista do Sul, em Marataízes, no Espírito Santo   Foto: Acervo pessoal

Agora, é importante frisar que em nossa escola  nenhum aluno é dispensado por não estar usando o uniforme. Criança alguma jamais perderá aulas por essa razão. Não podemos, de forma alguma, privar o aluno do direito aos estudos por conta de uma vestimenta – ou pela falta dela.

Precisamos lembrar sempre que a Constituição Federal, art. 20 incisos I e II e art.208 §1º, garante a toda criança o direito de acesso à Educação e a obrigatoriedade escolar, logo nenhuma deliberação da escola deve se sobrepor ao direito desse aluno ao ensino.

Quando recebemos uma matrícula nova ou até mesmo na renovação de matrícula, a família tem a liberdade de informar quando poderá enviar o filho uniformizado. Escola e responsáveis procuram sempre honrar o prazo determinado.

Quando a família não tem condições de adquirir o uniforme, a escola se mobiliza para tentar amenizar a situação. Nós procuramos sensibilizar os pais dos demais alunos para que façam a doação de uniformes que não cabem mais nos filhos, e assim repassamos às famílias que precisam deles. Quando a criança não tem uniforme, pedimos aos responsáveis que enviem o filho à escola com uma blusa comum, de cor branca.

Como eu disse anteriormente, quando a instituição não adota o uniforme propicia o desnivelamento entre as classes sociais, enfatizando o poder aquisitivo de cada aluno. Em nenhum momento, o uso uniforme deve servir para desrespeitar ou desvalorizar a diversidade do aluno – nem deve interferir negativamente nas atividades pedagógicas.

Tenho certeza que se os alunos pudessem opinar no modelo do uniforme, através de um concurso promovido pela prefeitura, essa indumentária seria mais bem aceita. Ao se sentirem como parte do processo, colaborando na criação e no desenvolvimento, o uso do uniforme seria então algo natural.

Por último, o aluno pode associar o uniforme da escola que frequenta a de um time, em que os torcedores defendem a sua bandeira e a sua camisa. 

Espero que em todas as escolas, a aprendizagem esteja sempre muito acima da vestimenta do aluno.

Um abraço,

Marlucia Brandão é diretora da EMEIEF Boa Vista do Sul, em Marataízes-ES, desde 2016, e professora de Língua Portuguesa, com especialização em Linguística Aplicada ao Português, Psicopedagogia Institucional e Ciências da Educação. Deu aulas em todas as etapas, da alfabetização à Educação de Jovens e Adultos (EJA). Também foi Secretária de Educação de Marataízes entre 2011 e 2012.

Alunos uniformizados da EMEF Boa Vista do Sul, em Marataízes, no Espírito Santo   Foto: Acervo pessoal

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