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Projetos não precisam ser assustadores

Coordenador pedagógico tem papel em aspectos importantes como contexto, comunicação e motivação

POR:
Ewerton de Souza
Discussão de projeto
Foto: Getty Images

A organização da proposta educativa por meio de projetos tem sido muito estimulada por redes em todo o país como forma de tornar o ensino interessante a uma geração de crianças e jovens ansiosos por novas formas de aprender, mais conectadas, mais colaborativas, que traduzam a simultaneidade e a flexibilidade do tempo em que vivemos.

Certamente não existem receitas para a criação de projetos de trabalho, até porque eles dependem fundamentalmente dos contextos em que serão desenvolvidos. É a comunidade escolar e seu projeto maior – o Projeto Político-Pedagógico – que serão os orientadores das propostas que venham a se desenvolver na linha de uma metodologia de projetos.

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No entanto, também é certo que podemos pensar em alguns pontos que não podem faltar a projetos que desejem atingir os educandos que descrevemos há pouco. E é isso que proponho fazer nas próximas linhas: refletir sobre alguns aspectos desse método e qual o papel do coordenador pedagógico diante deles.

Contextualizar

Um dos pontos mais fortes de uma proposta de trabalho por projetos é sua facilidade para trazer as expectativas e necessidades da comunidade para dentro da escola. Num projeto os saberes, habilidades, atitudes devem estar colocados em favor de um caminho de desenvolvimento cognitivo cujo ponto de chegada – e de partida – é a relevância do aprendizado para a vida prática e inserida no contexto do sujeito aprendente.

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Não se contextualiza sem escuta. Daí que não se pode definir o caminho de um projeto sem ouvir os educandos, os pais, enfim, a comunidade no entorno da escola. É a escuta e a observação do território que possibilitará construir aprendizagens significativas.

Mas, quando falamos em contextualizar não queremos dizer que a escola deve se fechar no seu mundo imediato. Pelo contrário, a contextualização é o campo de diálogo aberto entre o local e o global, entre as demandas mais próximas da comunidade e as aspirações mais universais dos sujeitos.

Em vista disso, a construção de um projeto exige do coordenador pedagógico essa habilidade e sensibilidade para orientar seu grupo docente neste processo de mergulho e retorno da realidade dos educandos.

Comunicar

Me lembro de uma entrevista com Tom Zé na qual ele dizia algo como “antigamente era a ditadura do ouvido sobre o olho, agora é a ditadura do olho sobre o ouvido”. Não tem melhor leitura do nosso tempo que esta. Estamos mergulhados no mundo visual. Imagens nos bombardeiam o tempo todo numa sequência alucinante, e com elas estamos expostos a uma miríade de informações que nos levam ao desespero da inesgotabilidade.

O que parece desesperador para muitos de nós, está naturalizado para as crianças e jovens com os quais lidamos, e essa constatação exige que não negligenciemos nem por um segundo essa realidade em nossos projetos.

Aqui o caminho é garantir que a proposta a ser desenvolvida contemple a maior variedade de linguagens possíveis, seja para que os educandos tomem contato com a temática e os saberes envolvidos no projeto, seja para que eles possam escolher as mais adequadas para registro de suas aprendizagens. Diversidade de gêneros, de suportes, de mídias só enriquecem o trabalho e garantem que aquilo que, de repente, um aluno teve dificuldade em compreender numa linguagem, pode se tornar mais acessível em outra.

Ao coordenador pedagógico cabe inserir seu grupo docente nesta multiplicidade de linguagens, colocando-o em contato e lhe ajudando inclusive a superar dificuldades de ordem tecnológica para o domínio de suportes e plataformas que ainda lhes sejam desconhecidas.

Motivar

Ninguém aprende se não quer, e isso nos faz concluir que motivar é a tônica de qualquer aprendizagem. Num mundo de distrações e estímulos, é extremamente desafiador encontrar meios de motivar o educando e despertar nele a concentração necessária para o desenvolvimento cognitivo.

Nesse ponto, a proposta de trabalho por projetos também apresenta vantagem. Todo projeto, para que realmente possa ser chamado assim, deve desafiar o sujeito a produzir algo a partir dos conhecimentos de que se apropriou. E, desde que seja fruto de um diálogo entre educador e educando, este produto que resultará do projeto é altamente motivador.

É claro que não podemos descuidar de que o processo de aprendizagem proposto pelo projeto e o resultado desse processo estejam intimamente ligados. Seja qual for o produto, ele deve transpirar os saberes, habilidades, atitudes que os educandos aprenderam durante o percurso formativo.

Nesse caso, ao Coordenador Pedagógico cabe acompanhar o projeto estando atento e buscando auxiliar os professores a manterem os olhos tanto no processo de aprendizagem quanto no produto que, ao final, se espera dessa aprendizagem. O risco é uma exclusividade de foco em um ou outro, fazendo perder a essência de uma metodologia de projetos.

Ainda caberia pensarmos na questão dos tempos e espaços da aula e na relação dos professores com o conhecimento e entre si a partir de suas disciplinas. Mas isso fica para uma próxima oportunidade. Por ora, cabe a reflexão de que, embora haja inúmeras dificuldades para se colocar uma proposta educativa por projetos em andamento (eu as conheço bem como gestor de uma escola pública), o primeiro e principal passo é o desejo da comunidade (professores, funcionários, alunos, pais) em mudar a forma de fazer educação. Muito diálogo, paciência, convencimento é o caminho das pedras, mas, ao final, como diz o poeta, uma flor nasceu na rua!

Ewerton Fernandes de Souza é coordenador geral no CIEJA Clóvis Caitano Miquelazzo, escola da prefeitura de São Paulo que lida exclusivamente com Educação de Jovens e Adultos, especialmente na faixa etária dos 15 aos 18 anos. Foi um dos 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 de 2017.

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