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O que faz um bom coordenador pedagógico

O coordenador deve ter a capacidade de perceber os pontos fortes da equipe que coordena

POR:
Ewerton de Souza
O bom coordenador pedagógico tem que ser capaz de agregar   Foto: Getty Images

O curso de Pedagogia tem sido um dos mais procurados pelos ingressantes na graduação nos últimos 15 anos. Segundo o Censo da Educação Superior, mais de 860 mil pessoas se formaram em pedagogia no Brasil em 2016. Parte desses profissionais serão absorvidos em algum momento pela função de Coordenador Pedagógico. Portanto, pensar na formação desse profissional é um elemento importante se nossa intenção é elevar cada vez mais a qualidade do ensino oferecido no Brasil.

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Em texto anterior, tratei do papel decisivo do coordenador na formação continuada de docentes. A esse papel certamente se soma o do coordenador como articulador da proposta pedagógica da escola, sendo um ponto de intersecção entre professores, alunos e comunidade.

Mas, afinal, qual o perfil e o que é necessário saber para ser um bom coordenador pedagógico?

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Quanto ao perfil, uma das primeiras coisas que aprendi exercendo a função de coordenador pedagógico é de que este deve ter a capacidade de perceber os pontos fortes da equipe que coordena. Enfim, coordenar é dispor das variadas potencialidades dos integrantes de uma equipe em torno de um projeto comum.

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Mas coordenar também é perceber as vulnerabilidades (estruturais, formativas...) de uma equipe e estabelecer estratégias de minimização desses pontos fracos, traçando um plano de superação deles ao longo do tempo.

O coordenador tem que ser capaz de agregar. É comum que este profissional receba uma equipe já configurada, em vez de constituí-la. Considerando que sua função pressupõe uma série de interações humanas, ser capaz de criar condições de diálogo é fundamental. Portanto, um atributo imprescindível ao coordenador pedagógico é a capacidade de promover o projeto da escola, motivando as pessoas a aderir à proposta e empenhar seus esforços e potencialidades no sucesso dela.

A sensibilidade do coordenador pedagógico vai além das suas capacidades de diagnosticar e agregar. Como já disse várias vezes, ter discernimento dos tempos e da cultura da escola é tão essencial quanto outras habilidades. É necessário perceber o ritmo da equipe, como essa responde às solicitações do projeto e como as enxerga. Coordenar uma equipe é estar bem sensível à cultura de trabalho que está posta. Não significa de maneira alguma manter as coisas como estão. Significa, antes, perceber quais intervenções devem ser feitas, em que tempo, no sentido de gerar ganhos de qualidade para o trabalho, mudando gradualmente a cultura instalada por aquela que melhor atenderá ao projeto da escola.

Na minha experiência como coordenador pedagógico, aprendi a compreender que, mesmo entusiasmado com o desejo de inovar no projeto da escola, não se pode deixar de respeitar o tempo da equipe para a mudança. O projeto que vivenciamos em nossa escola, por exemplo, já está no seu quarto ano. Muita coisa mudou de 2015 para cá, no entanto, tratou-se de uma mudança gradual, pois foi necessário perceber o que cada profissional da equipe poderia dar momento a momento do projeto. E se o projeto é coletivo, é necessário ter o discernimento de saber quando é o momento de esperar a adaptação da equipe e quando é o momento de forçar a mudança, sempre tendo em mente que o processo deve ser discutido de modo a dar autonomia aos componentes da equipe, mas também chamá-los à responsabilidade quanto à dimensão das decisões que tomaram.

Claro que, antes de finalizar essa minha contribuição, não poderia deixar de ponderar que além de todas essas exigências quanto ao seu perfil, um último elemento a ser considerado é o do coordenador pedagógico como um profissional pesquisador.

Com o ritmo das mudanças sociais de nosso tempo, certamente o coordenador pedagógico não sairá da graduação conhecendo tudo que deveria saber. As demandas da escola imporão a necessidade de novos saberes, de outras informações e conhecimentos. Portanto, o coordenador deve estar aberto e ter capacidade de buscar o conhecimento que se fizer necessário ao desenvolvimento de seu trabalho como formador de docentes e articulador do projeto da escola. Em complementação à bagagem com a qual o pedagogo sai da faculdade, cabe considerar:

  • o conhecimento da principal legislação da área de educação e da legislação específica da rede em que atua (municipal, estadual). Por exemplo, a LDB e o Estatuto da Criança e do Adolescente, mas também as normas próprias de cada rede;
  • o conhecimento das publicações institucionais de caráter pedagógico da rede em que atua: os princípios de uma determinada rede, a metodologia a ser privilegiada, os documentos referentes aos processos de planejamento, acompanhamento e avaliação das aprendizagens;
  • os saberes referentes às respostas que a Pedagogia e outras áreas correlatas podem dar para as dificuldades dos educandos: principais teorias pedagógicas, do currículo, de avaliação;
  • as experiências desenvolvidas em escolas e redes diversas, pois possibilitam ao coordenador pedagógico buscar nos relatos de outros a resposta para demandas que eventualmente venha a enfrentar.

No mais, cabe lembrar que sendo o coordenador pedagógico um profissional que lida com interações humanas (alunos, professores, pais), ter presente que as relações com os sujeitos devem se pautar pela autonomia, pelo respeito à diferença e pelo princípio democrático sempre serão os principais atributos deste profissional. Além disso, o essencial é a abertura à aprendizagem, pois sendo o coordenador pedagógico um educador em sua essência, jamais deve perder de vista sua dimensão de aprendente.

 

Ewerton Fernandes de Souza é coordenador geral no CIEJA Clóvis Caitano Miquelazzo, escola da prefeitura de São Paulo que lida exclusivamente com Educação de Jovens e Adultos, especialmente na faixa etária dos 15 aos 18 anos. Foi um dos 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 de 2017. 

 

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