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O uso do espaço da sua escola reflete a proposta pedagógica dela?

Os espaços para o lazer são limitados nas escolas. Na impossibilidade de fazer reformas, é possível usar a criatividade para intervir no que já existe à disposição

POR:
Camila Zentner
A EPG Manuel Bandeira transformou um espaço que acumulava entulhos em um ateliê. Crédito: Porvir/Rodrigo Zaim - R.U.A Foto Coletivo

Para muitos especialistas, o brincar é considerado a principal atividade em que a criança aprende. Diante disso, cabe a pergunta: será que estamos oferecendo espaços para que as crianças brinquem na escola?

Precisamos reconhecer que, por vezes, os espaços para o lazer são limitados nas escolas. Os motivos têm as mais diversas origens: escolas instaladas em prédios antigos, que costumam trazer as características fabris em sua arquitetura com grandes salas de aula e grades; há também aquelas que são pequenas demais; e outras enormes, mas que não fazem bom uso do espaço disponível.

Trabalho em uma escola antiga, localizada em uma espécie de vale, que faz com que a escola esteja envolta de um grande “barranco”. Na sua construção só há salas de aula, refeitório, um parque externo e um grande pátio com um palco. Devido à idade do prédio (mais de 30 anos), a escola também sofre com a deterioração do tempo. Esse é o espaço que temos, mas que até poucos anos atrás não traduzia – muito menos favorecia – nossa proposta pedagógica. Precisávamos mudar.

A mudança do uso do espaço tem muito a ver com o olhar das pessoas que o utilizam. Em nossa escola tudo começou com a chegada de uma nova diretora e uma vice-diretora que, sem condições de fazer grandes reformas, foram criando outras possibilidades nos espaços já existentes. Assim, um corredor entre o refeitório e rampa de acesso ao segundo andar da escola virou um parquinho de motocas, gangorras e escorregadores de plástico para as crianças menores. O fundo de uma sala, onde costumavam ficar entulhos e materiais velhos, virou um ateliê ao ar livre com uma grande bancada e uma parede de azulejos para pintura. O parque externo ganhou em uma das paredes a pintura com tinta de lousa e criou-se ali um novo espaço para a brincadeira.

O uso criativo dos espaços passou a contagiar todo mundo e novas ideias foram surgindo entre as crianças e os professores. As crianças passaram a escorregar no barranco e com alguns papelões oferecidos pelos professores a brincadeira ficou ainda mais divertida! O Conselhinho de alunos solicitou um tanque de areia colorida no parque externo e assim foi feito.

O tanque de areia colorida foi solicitado pelas próprias crianças. Crédito: Acervo EPG Manuel Bandeira

O mesmo parque ganhou outro brinquedo novo: após uma visita ao Parque Ibirapuera, a professora de Arte iniciou a instalação de um parque sonoro (que você pode conferir na foto ao lado), com canos que alojados no chão, conectados entre si, viraram telefones que você tem que encontrar onde sai a voz pronunciada. Amarelinhas foram pintadas no chão do pátio e o palco recebeu livros e pufes, transformando-se em um cantinho de leitura.

O espaço escolar foi ganhando a nossa cara. Aos poucos, a nova organização do espaço mexeu até com as carteiras das salas, que desde então não ficam mais enfileiradas, passaram a ficar dispostas sempre em grupos ou em grandes círculos favorecendo a interação na aprendizagem. Mesmo assim, nem sempre o espaço da escola é suficiente para tudo que a gente deseja realizar, por isso, extrapolamos seus muros! Fazemos aulas-passeio pelo bairro, escutamos histórias no quintal de uma moradora e uma vez por ano fechamos a rua da escola para brincar. Nesse dia, crianças e adultos podem resgatar as brincadeiras de rua e ir se reapropriando de um espaço que fomos perdendo ao longo do tempo, mas que também pertence a criança e ao seu brincar!


O cantinho da leitura da EPG Manuel Bandeira. Crédito: Acervo EPG Manuel Bandeira

Todas as mudanças realizadas, como vocês puderam perceber, tiveram um custo muito baixo e revelam que a forma como a gente enxerga e planeja o espaço da escola tem mais efeito no desenvolvimento das crianças do que esperar por anos uma grande reforma ou a construção de um novo prédio. Vale dizer que ao coordenador não cabe assumir todo esse trabalho. Isso fica claro ao observar que no post de hoje falei mais do meu grupo do que de mim mesma. Contudo, a nós vale o trabalho de instigar através da formação continuada novas ideias, incentivar a mudança de quem tem a iniciativa e arregaçar as mangas quando elas começarem!

Abraços,

Camila

Camila Zentner Tesche é formada em Pedagogia com especialização em Educação Infantil pela Universidade de São Paulo (USP) e está na coordenação pedagógica da Escola da Prefeitura de Guarulhos Manuel Bandeira há nove anos. A EPG atende a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I e, desde 2015, faz parte do mapa de escolas inovadoras do MEC.