Conselho de Classe: 7 dicas para avaliar os alunos (sem dar "sentença")
As reuniões do Conselho de Classe não são o início nem o final da avaliação dos alunos
POR: Joice LambNão existe uma pessoa que tenha estado em uma escola (seja como professor, aluno ou pai), que não conheça o conselho de classe. E cada um, dependendo do espaço que ocupa, tem uma visão do que é este encontro e da sua importância. Se eu resgatar minhas memórias de aluna, vou lembrar que era um dia sem aula. Se procurar nas minhas memórias de professora, vou lembrar de um trabalho intenso de correção e fechamento de notas uns dias antes. Vou lembrar de noites sem dormir e do olhar de alguns colegas dizendo: “como é que ele tem nota em Língua Portuguesa, se escreve tudo errado?”. Como diretora, lembro que tentava participar, mas era interrompida o tempo todo para resolver outros assuntos da escola. Como mãe, recebo bilhetes informando sobre a realização do conselho. Como coordenadora, tento fazer com que o momento seja objetivo e significativo.
O objetivo deste texto não é trazer lamentos ou recriminações, mas pensar em como fazer esta reunião eficaz e satisfatória.
Inicialmente, é preciso dizer que o momento em que o conselho se reúne não é o início da avaliação dos alunos, nem o final dela. É um momento de parada em que todos os participantes podem opinar e mostrar os resultados do processo educativo que se promove na escola.
Os piores exemplos
Em escolas em que o conselho de classe não é entendido assim, temos os piores exemplos. Geralmente apenas os professores participam. “Dão” notas como se estivessem dando sentenças. Essas notas são justificadas com referências ao comportamento e à família dos alunos. A coordenação pedagógica não conhece os alunos e suas dificuldades. A direção não participa desse momento. Muitos professores não finalizaram a avaliação. Não existe um sistema de registro destas notas, então elas são “cantadas” durante a reunião para que alguém anote. Todos querem falar das suas frustrações porque não acontecem outras reuniões durante o bimestre/trimestre, entre outras tantas coisas...
Por outro lado, existem escolas nas quais o conselho de classe acontece sem estresse ou ansiedade. Isso é mesmo possível?
Vou compartilhar o exemplo que tenho dos Anos Finais do Ensino Fundamental na escola na qual trabalho e sou coordenadora. Quero esclarecer que trabalhamos em conjunto para realizar estas ações, então, quando digo “gestão da escola”, estou falando da diretora, da vice-diretora, das duas coordenadoras e da orientadora educacional.
Como fazemos
1) Acompanhamento pedagógico, disciplinar e de ausências
O acompanhamento pedagógico dos alunos pelos professores e pela gestão da escola inicia no primeiro dia de aula de diversas formas. Existe uma pasta que acompanha cada turma com a chamada e uma ficha de registro de cada aluno. Nesta pasta, os professores registram a chamada diária (cada professor possui a sua chamada individual oficial também) e podem também registrar eventos que acontecem com os alunos relacionadas às regras de convivência e as atividades escolares. Com este registro, a gestão da escola consegue verificar aqueles alunos que estão faltando muito às aulas ou que possuem muitas ocorrências de indisciplina para entrar em contato com as famílias. E, assim, tomar as providências cabíveis em cada caso ao longo do ano letivo.
2) Reforço ao longo do ano letivo
Também acontecem encontros da coordenação com os professores para identificar os alunos que precisam de reforço escolar. Estes alunos, uma vez sinalizados pelo professor e encaminhados para o reforço, são monitorados pela gestão da escola na sua frequência e desempenho. Os professores são orientados a oferecer recuperação preventiva no decorrer das aulas e a avisar quando algum aluno está em débito com alguma avaliação.
3) Planejamento pré-conselho
Um cronograma pré-conselho de classe é enviado para os professores lembrando das datas da reunião e das entregas de notas, pareceres e dados de frequência – que são entregues um dia antes do conselho.
Quando começa o encontro do conselho de classe, no qual participam os professores da turma, professores de apoio e a gestão, as avaliações já estão no sistema. Projetamos na tela a foto do aluno, a ata do conselho, o boletim e a ficha individual que temos do aluno. Apenas o boletim está no sistema da Secretaria de Educação o restante temos em planilha e documentos compartilhados na nuvem.
4) Discussões e encaminhamentos baseados em evidências
Cada aluno é analisado individualmente, mas não utilizamos o tempo do conselho para reunir dados, porque todos já estão lançados. Registramos o desempenho do aluno na Ata do Conselho e na ficha individual. Como temos os arquivos compartilhados, todos os professores podem registrar na ficha do aluno o que disseram de relevante, no momento em que estão falando. A coordenadora registra em ata também os encaminhamentos que deverão ser realizados e quem os realizará.
5) Ações pensadas coletivamente
Quando um aluno não está com o desempenho adequado, o professor da disciplina apresenta o aluno, explica as ações já realizadas e sugere outras ações a realizar ainda. Neste momento, se o professor da disciplina não está encontrando alternativas, os outros participantes são ouvidos para sugestões e encaminhamentos.
6) Feedback aos avaliados e seus responsáveis
Depois do conselho e antes da entrega de avaliações para as famílias, a gestão da escola dá um retorno para a turma junto com a professora regente e conversa individualmente com os alunos apontados.
A entrega de avaliações sempre acontece num sábado pela manhã e orientamos que os alunos estejam presentes com seus pais. Quem entrega o boletim é o professor regente e a gestão da escola aproveita este dia para conversar com os alunos que apresentam dificuldades no desenvolvimento.
Depois disso, o ciclo começa de novo com as reuniões com professores. Existem escolas que realizam conselhos participativos e pré-conselhos. Nós não realizamos porque todos os meses acontecem assembleias de turma, quando os alunos podem apresentar todas a suas reivindicações para os professores ou para a gestão da escola.
7) Não há culpados a serem apontados
Já tivemos seis anos para aprimorar nosso processo de avaliação e sempre estamos procurando novas ideias e soluções para os problemas que encontramos. O mais importante é perceber que o conselho é um momento em que se para, avalia e busca soluções. Não é um encontro de frustrações de fracassos. Entendemos que os alunos são responsabilidade de todos e quando um professor encontra dificuldade com um aluno, ele não precisa estar sozinho para resolver. Procuramos não apontar culpados, mas apresentar soluções e desenvolver ações que possam beneficiar os alunos na sua aprendizagem.
O conselho de classe pode ser um encontro inspirador.
E você, como faz esse processo em sua escola? Dê pra gente o seu conselho!
Um abraço,
Joice Maria Lamb
Professora da rede municipal de Novo Hamburgo-RS desde 1991 e já teve turmas em quase todos os anos do Fundamental I e II. Atualmente, atua como coordenadora pedagógica da EMEF Profª Adolfina J. M. Dienfenthäler. É formada em Letras, tem especialização em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica e foi uma das 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 2017.
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