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Visita a museus: 12 passos para organizar melhor a saída da escola

Aulas de campo podem ser trabalhadas para que os alunos possam ter contato com conteúdos de maneira diferente do que é feito na sala de aula

POR:
Camila Cecílio
Ida ao museu é complemento ao conteúdo trabalho em sala. Crédito: Andre Kist

Organizar uma visita da escola ao museu requer planejamento e logística. Agora, para aproveitar de fato todas as vantagens dessa pesquisa de campo, o primeiro passo é fazer com que saídas pedagógicas como essas façam parte do projeto político-pedagógico (PPP) e estejam alinhadas com diferentes disciplinas. História, Geografia e Arte, por exemplo, podem explorar as reflexões sobre o passado e presente, além de contribuir para a formação dos estudantes.

Trabalhar questões interdisciplinares não é das tarefas mais fáceis, mas se realizada de forma viva e orgânica, com vivência em campo, as escolas podem obter bons resultados. “Muitas vezes, a escola não consegue alcançar a compreensão total do aluno com a aula em sala, mas quando esse aluno sai, ele se depara com uma nova forma de compreensão e consegue concretizar aquele saber”, afirma a especialista em Avaliação Educacional Ana Luiza Mendes Borges, uma das diretoras da Tomara! Educação e Cultura.

Ana Luiza é uma das responsáveis pela criação de um caderno digital sobre educação em museus, o “Conexões Culturais – Museu, comunidade e escola”, publicado pela Tomara! Educação e Cultura em conjunto com a Associação Parceiros da Educação. Um dos objetivos da iniciativa é dar acesso a uma ferramenta de facilitação e de propagação de ações voltadas à socialização das coleções e dos bens culturais, históricos e artísticos, que se encontram salvaguardados e preservados nesses acervos públicos.

“Esse material é um modelo com várias orientações de que como os gestores escolares podem se organizar para qualificar essas saídas. Por isso, pensamos nos três momentos: pré-visita, visita e pós-visita, para que o trabalho não se resuma a apenas um passeio”, enfatiza a diretora.

Nova possibilidade de aprendizagem

Na Escola Estadual Ângelo Trevisan, de Curitiba, o projeto Aulas de Campos faz essa conexão entre a escola e o museu. Há mais de 10 anos, o projeto organiza visitas de modo que, a cada ano, turmas do 6º, 7º, 8º e 9º anos vão a instituições diferentes. Por exemplo, alunos que estão no 6º ano vão ao Museu Paranaense e os que cursam o 9º ano visitam o Museu do Holocausto de Curitiba. “O que os alunos veem nessas visitas geralmente é o que estão estudando em sala. O tema é trabalhado 15, 20 dias antes da aula de campo e a ida ao museu é um complemento para o conteúdo que já vem sendo desenvolvido”, afirma, Célia Regina Guernieri, diretora da escola estadual.

Alunos observam mapa no Museu do Holocausto de Curitiva. Crédito: Acervo

A experiência da escola paranaense mostra que aulas de campo são outra forma de entender, aprender e ampliar o conhecimento. “Os alunos sentem prazer nessa atividade e o que chama atenção é que as turmas que, em geral, dão mais ‘trabalho’ são as que mais aproveitam porque encontram uma nova possibilidade de aprendizagem”, observa a diretora Célia Regina Guernieri.

Passo a passo para organizar a visita

Uma vez que o projeto já faz parte do PPP da escola é preciso viabilizar as saídas. Na escola de Curitiba, os agendamentos são feitos já no começo do ano letivo, durante a semana pedagógica, junto aos museus. O segundo passo é pedir a autorização dos pais, pois sem ela a direção não tem autorização para tirar o aluno do ambiente escolar. Se a escola trabalhar com agendas, a dica é incluir no caderno um modelo de autorização para que o estudante não perca o documento, que deve ser assinado pelo responsável legal.

No caso do colégio curitibano, os custos com a visita variam de R$ 12 a 15 por aluno. Esse valor é para ajudar a custear o aluguel do ônibus que fará o transporte da turma. Uma dica que deve ser seguida à risca é dar muita atenção à empresa que fará esse serviço. “Nosso maior desafio é sempre a segurança desses alunos, então precisamos verificar se tudo está ok com a empresa, com o motorista e, claro, com o veículo”, diz a diretora.

Confira algumas dicas baseadas no caderno “Conexões Culturais – Museu, comunidade e escola”:

1ª etapa: antes da visita

1. Pesquise sobre o museu
Acesse o site do museu para saber um pouco sobre a história da instituição e seu acervo. Se possível, assista vídeos sobre o lugar e pesquise sobre as obras de arte, objetos, documentos, conceitos e experiências que constituem o patrimônio salvaguardado.

2. Faça uma visita prévia
Realize uma visita prévia à instituição visando mapear um roteiro para o grupo, de acordo com os pontos interessantes ao estudo coletivo.

3. Organize uma roda de conversa
Estimule o interesse pelo museu com perguntas como: o que é um museu? Quem organiza as exposições? Como pode ser constituído um acervo? O que é identidade? As obras apresentadas lidam com realidades como as que você vivencia? Em que aspectos? Você acredita que essas diferenças e similaridades afetam sua vida? Afetam o seu bairro, sua família e sua educação? Por quê? Como podemos criar leituras sobre o país e nossa cidade a partir do contato com o acervo exposto?


2ª etapa: durante a visita

4. Acolha os alunos
Acolher tem como objetivo criar um contexto confortável para que o grupo se expresse de forma coletiva ou individualmente, sem receio de estar sob avaliação, ainda que o educador esteja cumprindo a função de qualificar a interação do grupo com as propostas de investigação oferecidas. Esse primeiro momento é uma conversa introdutória na qual é interessante abordar as expectativas do grupo em relação à visita, sondar ou reforçar conhecimentos trabalhados anteriormente, observar e falar sobre as primeiras impressões diante do contato com o local, o edifício e os primeiros elementos do acervo em exibição.

5. Identificação do grupo
Ao chegar ao museu, é importante identificar o grupo na recepção ou bilheteria para facilitar o acesso. Informe-se sobre onde guardar mochilas, bolsas e lanches para, em seguida, escolher um lugar para sentar-se com o grupo ou ir ao indicado para essa primeira atividade. A conversa inicial deve usar perguntas disparadoras que estimulem o diálogo. As respostas darão indícios aos responsáveis envolvidos de como conduzir a visita, que peças valorizar e que limites teóricos e conceituais abordar, desenvolver ou evitar a fim de manter o maior número de pessoas conectadas com a atividade.

6. Faça com que os alunos entendam a visita
Vale enfatizar a importância da qualidade desse momento como espaço para o debate e a construção de reflexões, no qual são permitidas divagações que levam em conta a subjetividade de cada participante. A ação de acolhimento deve tomar entre 10 e 15 minutos; encerrada essa etapa é hora de investigar!

7. Escolha as obras
Nesse momento, é interessante que o educador opte por investigar de quatro a cinco obras, objetos, conceitos, experiências ou documentos de modo mais detido, sentando-se com o grupo diante dos itens escolhidos, observando-os com cuidado e trocando impressões. No trajeto entre uma obra e outra será possível liberar os participantes para que façam pequenos passeios de caráter mais livre, a fim de explorar melhor e reconhecer os conteúdos presentes na exposição. O professor pode, inclusive, sugerir que os alunos circulem dentro do museu por uns cinco minutos e observem objetos, obras, textos, etc. para depois reunir o grupo novamente e promover uma troca de impressões acerca do que viram.

8. Faixa-etária
Há assuntos mais ou menos apropriados e interessantes para cada faixa etária, porém fica a cargo do professor avaliar quais obras ou temas são complexos e devem ou não ser debatidos. O momento do acolhimento pode ajudar nesse julgamento e nas escolhas que deverão ser feitas para a visita. É importante utilizar linguagem simples e acessível, que possibilite amplo entendimento de todos. Para crianças pequenas, pedir que identifiquem um elemento em pinturas ou fotografias, como frutas, vasos ou até outras crianças representadas pode ser bem divertido. Para adolescentes ou adultos, pode-se levar uma poesia ou texto que se relacione a um objeto no acervo. É importante sempre contextualizar obras, objetos e conteúdos ao fim das dinâmicas propostas.

9. Faça um balanço da experiência
Tão importante quanto os dois momentos anteriores da visita, o encerramento encaminha o grupo para um balanço qualitativo sobre a vivência dentro do museu. As impressões de cada um servem como parâmetro para mensurar o que foi apreendido pelo grupo durante a visita. É importante encerrar, então, lançando provocações de caráter mais conclusivo, por exemplo: se você fosse o criador deste museu e tivesse de apresentar apenas uma obra ou experiência que tivesse força suficiente para falar da importância das questões discutidas na visita, o que você apresentaria ao público? Por qual razão?


3ª etapa: pós-visita

10. Recapitule a experiência
São inúmeras as possibilidades de atividades para dar continuidade e aprofundamento às temáticas trabalhadas na visita. De volta à escola, é possível recapitular com a turma o que aconteceu no museu, as falas e reflexões diante das obras de arte. A partir daí pode-se dar sequência à investigação, trazendo obras e conteúdos que não fazem parte do acervo do museu, mas que poderiam estar lá.

11. Provoque reflexões
É possível propor um cine-debate com a exibição de algum filme que tenha relação com o museu visitado. Após assistir ao filme com toda a turma, vale abrir uma roda de conversa com a seguinte provocação: vocês encontraram relações entre o museu que visitamos e esse filme? Quais? É possível também propor uma pesquisa a ser feita em casa. Por exemplo, solicite que tragam para a aula imagens de jornais e revistas que se conectem ao tema do museu visitado. Com o grupo reunido, peça que formem trios e que, a partir das imagens coletadas, construam cartazes utilizando cola e cartolina. Esses produtos podem ser expostos pelos corredores, pátio e outros lugares de circulação pública.

12. Arremate o conhecimento
Essas são algumas alternativas para fechar o trabalho com os conteúdos mobilizados durante a visita, portanto, não se esgotam as atividades que podem ser realizadas. A ideia desse momento é realmente arrematar o conhecimento produzido ao longo do processo e quem sabe, abrir novas discussões e levar pessoas que não participaram da visita a pensarem sobre os conteúdos trabalhados e as possibilidades de aprendizagem em espaços fora da sala de aula.