Ir ao conteúdo principal Ir ao menu Principal Ir ao menu de Guias
Notícias
5 4 3 2 1

Grêmio escolar: saiba por que vale a pena ajudar os alunos organizar um e como apoiá-los

Na perspectiva da gestão democrática, os grêmios podem representar uma boa parceria e canal entre os estudantes e a gestão da escola

POR:
Beatriz Vichessi
Crédito: Getty Images

Protagonismo estudantil. Se fosse necessário explicar somente com duas palavras o que significa ter um grêmio na escola, seria com essas. “É um exercício para os alunos desenvolverem habilidades fundamentais na sociedade: discutir problemas, defender ideias, propor soluções. Uma possibilidade de desempenhar um papel político, um currículo aplicado”, diz Leandro Raphael Vicente, professor da EE Professora Luciane do Espírito Santo, em São Paulo, que leciona Filosofia, é coordenador da área de Ciências Humanas e um dos conselheiros do grêmio.

Outra boa forma de explicar a importância do grêmio escolar é se valer da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) e do Plano Nacional da Educação (PNE). Ambos falam de gestão democrática, o que implica na participação efetiva e ativa de todos os atores da comunidade escolar, representados assim: Associação de Pais e Mestres (APM), conselho de escola e grêmio. “Esse último representa todo estudante matriculado na escola”, explica Sonia Maria Brancaglion, técnica educacional da Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo. “No CE Professor Agostinho Pereira, em Pato Branco, no Paraná, o grêmio é considerado realmente parte da gestão a ponto de participar de um grupo de Whatsapp com os gestores”, diz Elair Damaceno, agente educacional que acompanha os gremistas de perto, diariamente. O diretor, Élcio Slongo, completa: "a parceria é tão forte que os estudantes têm a chave da escola para fazer reuniões aos finais de semana, se for o caso, e durante a semana, podem usar a sala da diretoria ou a dos professores. As reuniões deles são tão importantes para a escola como qualquer outra”.

O que faz e o que não faz um grêmio
Esqueça a imagem do grêmio como a reunião da turma da bagunça, da instituição que só quer saber de festas. Isso são coisas do passado. Também não pense no grêmio como uma instituição simplesmente tarefeira. Lembre-se do papel protagonista dos alunos. Isso quer dizer que eles devem ser convidados para conceber a festa junina da escola em parceria com a gestão, pensar nas atrações e no cronograma de organização, por exemplo. Jamais chamados somente para cumprir atividades como montar as barracas, servir os lanches, etc. Sonia reforça que a turma tem de ser corresponsável pela escola. “Muitos gestores relatam que por causa do grêmio, é notável o quanto os alunos amadureceram. Aprenderam a reivindicar, olhar mais para o próximo, entendem as regras que precisam ser respeitadas, sabem a função de cada um na escola, se sentem parte dela”.

Formar grupos de estudo, promover semanas culturais, campeonatos esportivos e aulas livres sobre os mais diversos temas são algumas das possibilidades de ações gremistas. Laís Ribeiro Cardoso é aluna do 2º ano do Ensino Médio da EE Professora Luciane do Espírito Santo. Vice-presidente da chapa Evolução Gremista, ela conta que uma das ações bacanas realizadas foi colocar nos banheiros da escola uma caixinha da higiene, com itens variados, para casos de emergência. “Tem pasta de dente, sabonete... E colocamos algumas frases de incentivo também, como “Você é linda do jeito que é” e “Você também pode ser sensível”, que também promovem reflexões”, diz a aluna.

Já no CE Professor Agostinho Pereira, o grêmio promove um curso de dança com o professor de Arte e Filosofia, à noite. “A iniciativa foi dos alunos e dele. As aulas são semanais e, mesmo na ausência do educador, os estudantes dão conta”, fala Élcio. Mas as possibilidades, não se esgotam aí. A gestão atual do grêmio da EE Professora Helena Cury de Tacca, em Franca (SP), por exemplo lidera a realização de uma campanha contra pequenas corrupções. “Em cada degrau da escada da escola, colocamos uma placa, com uma delas: Furar a fila, falsificar documento, colar na prova, entre outras. O objetivo era despertar a consciência de todos. E colocamos cartazes explicando os problemas causados por essas atitudes”, relata Otávio Henrique da Silva Leme, 16 anos, aluno do 3º ano do Ensino Médio e diretor financeiro do grêmio.

O papel da gestão
Embora não seja obrigatório toda escola ter um grêmio, é papel da gestão apoiar a organização. A boa notícia é que não se trata de um processo burocrático nem custoso. Aliás, não é preciso investir nenhum recurso financeiro. “Só boa vontade e parceria entre gestão e alunos”, diz Sonia. Evidentemente, algumas ações planejadas pelos alunos do grêmio podem precisar de dinheiro, como pintar a quadra ou instalar um sistema de rádio na escola. Nesse caso, a moçada pode requisitar a verba para a gestão ou então arrecadar. Somas pequenas podem ser administradas pelos estudantes e é interessante que eles tenham um livro caixa, para o grupo saber o que foi feito com o dinheiro e quanto custou cada ação. Mas quantias mais robustas devem ficar à cargo da APM. Sonia reforça que lidar com valores é uma boa oportunidade para crianças e jovens se envolverem com dinheiro de forma responsável.

Ainda falando em recursos financeiros, algumas redes disponibilizam verbas para serem usadas de acordo com decisões exclusivas do grêmio escolar. A rede estadual paulista, por exemplo, fez em 2018 o Orçamento Participativo Jovem. Os estudantes, articulados pelo grêmio, receberam cinco mil reais, e tinham de olhar para escola e definir o que seria feito com o dinheiro em relação à infraestrutura, exclusivamente. Como deixar a escola mais bonita, aconchegante, atrativa? Comprar materiais esportivos ou plantas para colocar no ambiente? São questões que devem ser discutidas e acordadas entre os estudantes com o apoio dos gestores.

Como montar um grêmio em 5 passos

1. Mobilize a comunidade estudantil
Para começar, é importante convidar as turmas - inclusive do Ensino Fundamental 1 - para conversar sobre o que é democracia, o que é representatividade, o que é e porque vale a pena formar um grêmio. Professores podem ser convidados para dar aulas sobre os temas citados, alunos de outras escolas podem ser chamados para contar sua experiência como gremistas, etc.

2. Defina o funcionamento do grêmio
Hora de compor o estatuto, o conjunto de regras do grêmio. Para essa etapa, a gestão escolar pode oferecer exemplos, tal como outros grêmios, e ajudar a compor a espinha dorsal do documento. Exemplo: A Secretaria Municipal de Educação de Atibaia (SP) fornece um modelo e apoia diretamente os grêmios escolares, fazendo um encontro desde 2017 com todas as 21 diretorias gremistas. “Temos 26 escolas, as que são muito pequenas e fazem parte de polos, participam do grêmio desse polo”, conta Eliane Doratiotto, diretora do departamento de Educação da secretaria de educação de Atibaia.  

3. Estimule chapas e propostas
Levantar quais alunos gostariam de formar chapas para se candidatar à gestão. Quando estiverem organizadas e com suas propostas e cargos bem definidos, a gestão pode auxiliar na organização do calendário de atividades do processo eleitoral, incluindo debate entre as chapas com participação dos alunos, que podem fazer perguntas sobre os planos de cada uma.

4. Organize uma eleição
A votação, propriamente dita, pode ser feita com cédulas de papel, computadores que simulam o processo eletrônico e até urnas eletrônicas. Vale falar com a justiça eleitoral local e perguntar como a unidade local pode colaborar com o processo, inclusive falando sobre propaganda eleitoral, processo de apuração de votos, etc. Se todo esse roteiro começar a ser realizado no início do ano letivo, é possível realizar a eleição em maio, dando posse à chapa eleita no mesmo mês, que fica no poder por um ano, geralmente. Exemplos: No CE Professor Agostinho Pereira, a votação é a cada dois anos, e para contribuir com a organização das chapas, cerca de três meses antes das eleições, os alunos que querem se candidatar, são convidados a fazer um estágio no grêmio, para saber como esse organismo funciona. Já no processo eleitoral da EE Professora Luciane do Espírito Santo, o grupo simulou muitos eventos das eleições tradicionais. Leandro conta que a turma organizou debate, que foi gravado em vídeo, e as chapas apresentaram propostas nas redes sociais.

5. Construa um plano de trabalho
Depois que toma posse, a primeira coisa a ser feita pela chapa vencedora é traçar um bom plano de trabalho - definindo o que fazer, quem fará, em qual tempo e como. É imprescindível considerar as propostas apresentadas em campanha e o que mais os membros da diretoria gremista acharem válido - por que não, por exemplo, incluir alguma proposta da chapa da oposição? Exemplo: Na EE Professora Luciane do Espírito Santo, a diretoria gremista se organiza para seguir um cronograma mensal, estabelecendo uma ação maior por mês (outras, menores, podem ser regulares e se repetirem mensalmente). Com os professores conselheiros, o grêmio se reúne a cada 15 dias para contar o que pensam em fazer, pedir orientações para viabilizar ideias.