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Pesquisa: Ensino Médio integral aumenta chances de chegar ao Ensino Superior

Alunos pernambucanos da modalidade têm 63% de chances de chegar à próxima etapa de ensino; alunos de escolas de tempo parcial tem 46% de chance

POR:
Vinicius de Oliveira, do Porvir*
Estudantes do Ensino Médio reunidos em Jaboatão, Pernambuco
Foto: Pedro Menezes/Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco

Existe um filme já conhecido sobre o Ensino Médio que, invariavelmente, apresenta no roteiro baixa aprendizagem e altos índices de evasão e de distorção entre idade e série. Os personagens podem até mudar, mas os episódios se repetem ano após ano e, pouco a pouco, o público se afasta sem conhecer casos transformadores como o do impacto da política de Educação integral.

Um dos protagonistas dessa última história é Pernambuco. Em 2007, o estado enfrentava uma taxa de abandono de 24%, ou seja, um em cada quatro estudantes não completava a etapa, o que colocava a rede na 26ª posição no quadro nacional. De uma escola em tempo integral, com processo seletivo, aos poucos o projeto foi se abrindo a todos os alunos da rede. Atualmente, segundo dados da secretaria, 412 das 760 escolas de Ensino Médio estão em tempo integral, o que atinge 54% das escolas e 57% das matrículas, antecipando a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) prevista para 2024, que prevê que pelo menos metade das escolas ampliem sua jornada.

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 “Dez anos atrás o Brasil acreditava que escola integral era um sonho impossível, que o estudante precisava trabalhar, que o custo era impossível de ser pago, que não haveria adesão. Pernambuco mostrou que isso não é verdade a partir do momento que os pais e alunos entenderam que [a Educação integral] pode fazer a diferença na vida deles”, diz o secretário Frederico da Costa Amâncio, que atribui ainda a virada nos resultados educacionais a outros três fatores: monitoramento de metas, gestão por resultado e avaliação das escolas.

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Mas como quantificar essa diferença? Com um olhar para além dos rankings dos exames nacionais, um estudo realizado pelo LEARN/FGV (Laboratório de Pesquisa e Avaliação em Aprendizagem da Fundação Getúlio Vargas) e Instituto Sonho Grande avaliou as condições de vida de 2.814 estudantes que concluíram o ensino médio nas escolas estaduais do estado, entre os anos de 2009 e 2014.

Pesquisadores concluíram que alunos formados nas escolas de tempo parcial têm 46% de chance de ingressar no Ensino Superior, enquanto entre os egressos das escolas integrais essa chance sobe para 63%. Outros benefícios estão ligados a equidade e ao empoderamento de estudantes pardos ou pretos no mercado de trabalho. A diferença salarial que chega a 10% na escola parcial desaparece quando se olha para escolas integrais.

E aqueles que completam o Ensino Médio integral optam, com maior frequência, por carreiras com maior valor agregado, tais como atividades ligadas ao setor financeiro (e menos inserção na área comercial), além de maior presença no setor educacional e de saúde.

A escola integral de Pernambuco

A ampliação da jornada para 45 horas semanais, por si só não explica os resultados, segundo explica Vladimir Ponczek, professor da escola de economia de São Paulo da FGV e coordenador do LEARN. “Ampliar horário em sala de aula não traz grandes resultados no longo prazo. Agora, a ampliação de jornada com trabalho com o socioemocional combinado ao cognitivo, aí sim existe um efeito”, explica o professor, que vê a possibilidade de acesso ao Ensino Superior como importante, especialmente no Brasil, em razão da diferença salarial em relação a quem tem apenas a Educação Básica no currículo.

Síntese de Indicadores Sociais 2018, do Instituto Brasileiro de Educação e Estatística (IBGE), mostra que, no Brasil diploma universitário rende salário 2,5 vezes maior do em relação a alguém com Ensino Médio, enquanto em países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) esse valor é apenas 1,6 vezes maior.

A transformação de uma escola tradicional, com menos horas e pautada pelo conteúdo, para esse outro modelo, mais flexível, exige mudanças na gestão. “No programa iniciado pelo Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE) em Pernambuco foi feita a  revisão e a reforma da infraestrutura da escola, que precisa ter refeitório, quadra, uma biblioteca e sala de informática”, disse Rangel Barbosa, diretor de projeto do Instituto Sonho Grande.

“Também é feita uma revisão do modelo pedagógico para incluir elementos focados no protagonismo do estudante e seu projeto de vida, além de ações para formação do corpo acadêmico”, completa.

Para Amâncio, secretário de Educação do estado, quando o aluno tem a possibilidade de ficar por sete horas na escola, o professor consegue aprofundar o trabalho pedagógico, com vistas ao desenvolvimento de competências. “A gente plantou há 12 anos a semente da Educação interdimensional, do trabalho com protagonismo, projeto de vida e das competências socioemocionais que hoje estão na BNCC (Base Nacional Comum Curricular)”. Após atingir a liderança no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2015, o estado caiu para terceira posição em 2017, ano em que se destacou por apresentar a menor desigualdade de aprendizagem entre estudantes de nível socioeconômico mais baixo e mais alto.

Novo Ensino Médio

Como nas outras redes estaduais, o momento em Pernambuco é de discutir a implantação do Novo Ensino Médio. “Nosso time está discutindo isso agora. Estamos tentando não perder de vista que mesmo a escola regular precisa desenvolver outras competências com os estudantes e criar disciplinas transversais”, disse Amâncio.

Dentro da secretaria, segundo ele, a estratégia é ter uma visão mais ampla sobre os itinerários. “A gente não pode achar que todo esse esforço para Novo Ensino Médio e BNCC foi para ter mais aula da mesma coisa. Por exemplo, iniciação científica, algo que desenvolve habilidades e aprofunda o conhecimento, pode estar presente em qualquer itinerário formativo, não só nos da área de exatas”.

*Reportagem publicada originalmente no Porvir