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O valor de cada minuto

Racionalizar o fluxo de pessoas nos corredores e investir em planejamento de atividades evita o desperdício do tempo de aula

POR:
Ana Gonzaga
EE Leonor Zacharias, de São Paulo, criou pausa maior para evitar saída do aluno das aulas. Foto: Marina Piedade
Intervalo extra EE Leonor Zacharias, de São Paulo, criou pausa maior para evitar saída do aluno das aulas

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), os ensinos Fundamental e Médio devem oferecer uma carga horária anual de 800 horas/aula, dividida em pelo menos 200 dias de efetivo trabalho escolar. Porém vale a pergunta: quanto desse tempo os alunos passam realmente realizando atividades pedagógicas? Um estudo feito pelo Instituto Unibanco, de São Paulo, em 2010, com 36 turmas de três grandes regiões metropolitanas do Brasil, indicou que apenas 43% do total - ou seja, 344 horas - é gasto com o ensino de fato. E o que ocorre com o restante? É desperdiçado nos horários de entrada dos alunos na sala, nas trocas de professores, na conferência da lista de presença - sempre momentos de muito tumulto - e na organização de materiais e do espaço antes do início da aula.

"O problema é ainda mais marcante no Ensino Médio, pois os alunos têm mais autonomia e uma grande necessidade de convivência em grupo", explica Wanda Engel, doutora em Educação e conselheira do Instituto Unibanco. "Qualquer minuto livre é usado para conversar com os amigos e a ida para a sala é retardada tanto na entrada como no intervalo", completa. Mesmo com essa necessidade social, não é possível deixar que metade do tempo que o professor passa com o aluno escorra pelo ralo, pois certamente isso fará diferença no resultado da aprendizagem.

Esse foi um dos aspectos considerados pelo projeto Socialização, criado para turmas do Ensino Médio do período noturno na EE Leonor Fernandes Costa Zacharias, em Parelheiros, na periferia de São Paulo. "Os professores tinham um minuto para mudar de sala. Ainda assim, alunos saíam para ir ao banheiro ou bater papo. Com isso perdiam-se de dez a 15 minutos entre cada aula - quase uma hora por dia", conta o vice-diretor, Rodrigo Alves da Silva. Para mudar esse quadro, a equipe gestora definiu um intervalo extra de cinco minutos entre duas aulas do período. O sinal bate e os estudantes vão ao banheiro, bebem água e conversam. O sinal toca novamente e eles retornam. A proposta aumentou o tempo útil das aulas e garantiu à instituição o terceiro lugar no Prêmio Gestão Escolar em 2011 do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).

Bem-sucedida, a ideia foi parcialmente implantada na segunda etapa do Ensino Fundamental. As turmas passaram a ter um intervalo extra por dia: o primeiro é para as turmas de 5º e 6º anos, e o segundo, para as de 7º e 8º. "Se saíssem todos de uma vez, o fluxo de gente fora da sala seria muito grande", afirma o vice-diretor. Do 1º ao 4º ano, optou-se pelo recreio dirigido: "Depois do lanche, as crianças participam de atividades planejadas e voltam juntas para a sala, evitando a dispersão".

Salas-ambiente deixam os materiais organizados e prontos para o uso

Para evitar atrasos, aluna da Nícia Giraldi, de Sertãozinho (SP), preenche o diário entrega aos professores. Foto: Gustavo Lourenção/GLFotografia
Controle de faltas Para evitar atrasos, aluna da Nícia Giraldi, de Sertãozinho (SP), preenche o diário entrega aos professores

Na EE Nícia Fabíola Zanutto Giraldi, em Sertãozinho, a 341 quilômetros de São Paulo, o projeto de salas- ambiente proposto pela Secretaria Estadual de Educação resolveu o problema do desperdício de tempo na arrumação de materiais ao concentrar toda a estrutura necessária para o trabalho de uma disciplina em apenas um lugar. Na sala de Ciências, por exemplo, há pia e tudo o que é necessário para os experimentos. Na de Matemática, o quadro é dividido em quadrantes e há um armário para guardar réguas, esquadros, transferidores e os demais instrumentos específicos de cada conteúdo. "A planilha de presença é preenchida pelo professor e levada à outra sala pelo representante de classe, que também monitora a troca de sala em horários predeterminados. Esse controle garante que os alunos não fiquem circulando à toa", conta a diretora, Cássia Regina Furtado.

Outra medida interessante é planejar a distribuição das turmas dentro do prédio de forma a facilitar a circulação. O ideal é que as salas do 1º ano, por exemplo, fiquem concentradas em um andar. "Toda escola deveria ter um plano de fluxo das pessoas, pensando nos deslocamentos", afirma Wanda Engel. Essa organização é útil principalmente nos momentos de entrada, recreio e saída. Quanto mais gente estiver circulando ao mesmo tempo, maior será a dificuldade de alunos e professores mudarem de lugar. Uma saída é programar intervalos intercalados e escalonar horários de entrada e de merenda de acordo com as faixas etárias. Também vale usar portarias distintas do prédio para evitar o encontro dos alunos que chegam com os que saem.

Muitas crianças chegam mais cedo à escola - e o período antes do início oficial da aula também pode ser bem utilizado. Afinal, a aprendizagem pode acontecer em todos os momentos. "O ingresso à sala demanda acolhimento e planejamento. Uma opção é propor uma roda de conversa logo que os primeiros estudantes chegam a fim de discutir a rotina. Enquanto isso, os demais vão se acomodando", sugere Débora Dias Gomes, pedagoga e especialista em Gestão Escolar da Esil Educacional, do Rio de Janeiro.

Mudança de atividades ajuda na concentração

A perda de tempo não acontece só nos pátios e corredores: "Minutos importantes são desperdiçados em sala de aula, principalmente se o docente não tem clareza sobre o projeto pedagógico nem conta com um plano de aula definido. Além disso, principalmente em classes numerosas, é preciso pedir silêncio a toda hora", diz a socióloga Gisela Wajskop, diretora acadêmica do Instituto Singularidades, em São Paulo. A equipe gestora deve orientar os professores a fazer um planejamento detalhado da aula, encadeando bem as atividades e prevendo propostas extras para o grupo não ficar sem trabalho.

Seja com turmas grandes ou pequenas, é preciso organização. "O docente tem de saber quais conteúdos quer que o grupo aprenda para direcionar as tarefas de acordo com os objetivos. Avisar que material será usado e o que deve ser feito com ele mantém a atenção e evita a dispersão na transição entre as atividades. As pesquisas indicam que o cérebro humano passa por um pico e um vale de atenção a cada 90 minutos, indo da concentração total à distração absoluta. Daí a necessidade de diversificar as ações e iniciar novos ciclos de alerta - a troca de temas, de ambiente ou de professores é um recurso que pode ajudar tanto em aulas simples como nas dobradas.

De olho no relógio

Dicas para otimizar o uso do tempo em sala:

- Defina regras claras sobre pontualidade, que sejam válidas para alunos, professores e funcionários, com o apoio do Conselho Escolar. O objetivo é criar uma cultura em que o atraso não é bem-vindo. O tema deve ser tratado na formação para que os docentes notem como a pontualidade, o planejamento e o compartilhamento de objetivos tornam cada minuto de trabalho mais produtivo.

- Promova a troca de experiências nos encontros formativos. Isso ajuda os professores a elaborar melhor o planejamento e a organizar a rotina.

- Faça uma distribuição racional das turmas pelo prédio a fim de facilitar a locomoção de todos nos intervalos.

- Não marque reuniões de equipe no horário letivo.

- Use murais, bilhetes e e-mails para se comunicar com professores e alunos a fim de evitar a interrupção das aulas.

- Agende o atendimento aos pais para que o professor não precise abandonar a sala.

Quer saber mais?

CONTATOS
EE Leonor Fernandes Costa Zacharias
, tel. (11) 5978-6382
EE Nícia Fabíola Zanutto Giraldi, tel. (16) 3942-8929 

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