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Leia dicas e respostas da especialista em Psicologia da Educação, Catarina Iavelberg, sobre a vida escolar dos alunos e sobre a relação entre a instituição e a família

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Catarina Iavelberg
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Formar autores da vida

Precisamos resgatar a intenção artística dos alunos ao elaborar textos e lembrá-los do efeito sobre os leitores

POR:
Catarina Iavelberg
Catarina Iavelberg. Foto: Tamires Kopp Nosso Aluno

Catarina Iavelberg é assessora psicoeducacional especializada em Psicologia da Educação

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"Eu odeio ler." "Eu odeio escrever." Por que será que boa parte dos alunos reage tão mal às propostas de leitura e escrita? Acredito que o modo como algumas escolas promovem o ensino de procedimentos nessas áreas pode comprometer o prazer pela literatura e a capacidade de criação textual dos estudantes.

Muitas propostas têm como objetivo o reconhecimento das especificidades de um gênero e a escrita seguindo tais características. Os alunos leem, por exemplo, um conjunto de crônicas ou contos, levantam coletivamente a estrutura deles, constroem um modelo, planejam uma produção seguindo o formato aprendido e partem para a ação. Provável resultado: histórias padronizadas, com linguagem empobrecida e incapazes de surpreender alguém. O que ensinamos com esse tipo de prática? Que a leitura de uma obra literária se presta ao reconhecimento e à duplicação dos pormenores de sua estrutura? Que aprender a escrever significa conhecer um modelo e dominar um conjunto de procedimentos predefinidos?

Interessada na articulação entre a leitura e a escrita literária no ensino, a pesquisadora francesa Catherine Tauveron propõe que seja desenvolvida com o aluno uma postura de autor. Segundo ela, enquanto a escola não propiciar os meios para o estudante se tornar autor de seu texto, ele será simplesmente um produtor.

Para concretizar essa postura, é preciso reconhecer a existência da autoria e ter uma intenção artística. Nesse sentido, se a escola pretende que os estudantes alcancem esse nível de proficiência, a leitura de obras literárias precisa fomentar a análise da linguagem empregada pelos escritores e de como ela afeta a recepção pelo leitor. Quais são os propósitos do texto? Quais sensações ou sentimentos ele provoca? Essa sensibilização para a estética de um material é um primeiro passo para transformar a relação com a leitura e a escrita.

A literatura produz sensações em seus leitores (diverte, emociona, assusta, inquieta, problematiza etc.). Esses efeitos são criados pelo autor por meio de escolhas conscientes, como o emprego de determinado vocabulário, a construção de frases e o uso de figuras de linguagem. O ponto a ser destacado é a possibilidade de trabalho pedagógico com esses elementos literários.

As produções dos alunos também podem ser lidas e apreciadas como textos literários. As escolhas realizadas pelos autores, não raras vezes, chegam a envolver e sensibilizar professores, colegas e pais. É importante promover a circulação dos materiais e a apreciação deles em murais, jornais, revistas, sites e saraus.

Mas a preocupação em formar autores não precisa ficar restrita ao trabalho com a escrita e a leitura literária, ela deve se estender a todas as esferas da escolaridade. Os gestores podem, então, questionar os professores sobre como é possível formar autores em outras áreas de conhecimento. Em última análise, o que significa ser autor da própria vida? As respostas a essas dúvidas podem abrir novas possibilidades para o trabalho realizado na escola.