Como organizar a reposição de aulas após paralisações?
Duas greves gerais fecharam as escolas brasileiras em 2017. Confira dicas de como reorganizar o calendário escolar
POR: Laís Semis
Todo ano, durante as paralisações, surge a mesma questão: como garantir que, mesmo com as greves, os alunos tenham seu direito a aulas garantido? No próximo dia 28/4 acontece a segunda greve geral nacional deste ano. De acordo com a Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE), a previsão é de que 4 milhões de profissionais adiram ao movimento. E os professores também devem integrar essa mobilização. Diante desse cenário de escolas que amanhecem fechadas, cabe à gestão se reorganizar para garantir o cumprimento da lei e que não haja perdas na aprendizagem dos alunos.
Para cumprir os 200 dias letivos determinados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), são realizadas reposições. Quando e como elas são feitas pode variar de acordo com a rede, mas algumas dicas podem ajudar a direção e a coordenação pedagógica a pensar para que os períodos sejam proveitosos para os alunos. Veja abaixo algumas delas.
1) Pense na reposição logo
Não deixe para pensar a reposição apenas quando a secretaria de Educação exigir. Em eventos pontuais -- uma paralisação com data específica, como a do dia 28 -- levante com o corpo docente possibilidades sobre como as aulas perdidas poderão ser respostas posteriormente ao conversar com os professores para se preparar para o evento. "Além de informar sobre a decisão da escola e justificá-la para a comunidade, cabe neste momento esclarecer como será a reposição”, explica Clécio Lima Sousa, formador de gestores da Comunidade dos Gestores Maranhenses (CGM). “Esse posicionamento demonstra que a escola se preocupa com as questões sociais que estão sendo mobilizadas mas não se esquece do comprometimento e zelo pela aprendizagem dos alunos, demonstrando credibilidade”, pontua o formador.
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DICAS PARA PLANEJAR AS REPOSIÇÕES - Ao informar à comunidade escolar sobre a perda da aula, apresente também as estratégias de reposição pensadas. Mostrar o comprometimento com a aprendizagem ajuda na credibilidade da imagem da instituição e favorece o apoio dos estudantes e seus responsáveis; - Tente planejar a reposição dentro do próprio mês ou bimestre em que a aula foi perdida. Isso favorece que todos os conteúdos previstos para aquele bimestre sejam cumpridos; - Compartilhe as possibilidades de datas com sua equipe. Decisões democráticas tendem a ser mais aceitas; - Estude possibilidades que tenham o menor impacto para o comunidade e favoreçam a presença dos alunos; - Deliberado o cronograma, apresente a proposta para a Diretoria Regional de Ensino ou outro órgão responsável pela sua rede de acordo com a legislação local |
2) Não deixe para depois
De acordo com Clécio, os diretores devem procurar repor dentro do mesmo mês ou bimestre, que fecha a cada 50 dias letivos. Essa é uma forma de se ter um controle do andamento do ano (evitando o possível acúmulo de reposições) e garantir que o conteúdo estabelecido seja aplicado no tempo previsto. “Se deixar para observar e resolver a questão em dezembro, há pouca coisa de fato que se pode fazer para reverter o quadro ou organizar o cronograma de acordo com as necessidades da instituição”, aponta.
3) Envolva toda a equipe
Quem trabalha as possibilidades de datas é a gestão. “Apesar disso, a decisão cabe à comunidade. Por isso, sempre apresentamos para o corpo docente alternativas e conversamos sobre elas. Às vezes, alguém da equipe consegue enxergar outras propostas mais interessantes”, conta Valdecir Nunes de Lima, vice-diretora do CE Dr. Gastão Vidigal, em Maringá, no Paraná. Depois de definido internamente, a escola deve apresentar a proposta e submetê-la à aprovação da Secretaria de Educação. “Só a partir da aprovação é que o calendário começa a valer. Eles podem fazer sugestões até as partes entrarem em acordo”, diz Valdecir. O formador de gestores Clécio atenta que, como as escolas estão hierarquicamente filiadas a diferentes instâncias (município, estado, federação ou rede particular), não há uma prática equalizada para todo o país sobre o órgão a quem a proposta deve ser entregue. “O diretor tem de verificar a legislação vigente da rede da qual faz parte”, considera.
Como escolas resolveram no passado
Os estudantes e pais, salvo em raras exceções, não participam dessa consulta. Em 2015, a rede estadual do Paraná teve um ano atípico que envolveu negociações com estes atores e com a Secretaria. Em fevereiro daquele ano, cerca de 90% dos professores aderiram à uma greve de mais de 40 dias. No CE Dr. Gastão Vidigal foram duas greves que somaram quase 60 dias perdidos de aula. Valdecir relembra que houve muita polêmica sobre como cumprir a reposição. “Vimos que não seria possível suprir mesmo que usássemos todos os recessos e sábados do ano. Negociamos com a Secretaria para tivéssemos seis aulas por dia e chegamos a um acordo porque, apesar da resistência, conseguimos provar que seria a única forma de resolver”, conta. Assim, até o mês de julho, a instituição trabalhou normalmente com cinco aulas. Os dias da semana no segundo semestre passaram a ter seis, de forma que ao fim de cada semana, se completava um dia de aula. Os sábados e feriados eram compostos por cinco aulas diárias. A escola funcionou até a véspera de Natal e manteve as férias de janeiro. O calendário de 2015 pegou a primeira quinzena de fevereiro de 2016, quando se concluiu o ano letivo. Ainda assim, o Colégio Dr. Gastão Vidigal não conseguiu repor os quase dois meses que precisava, mas chegou bem próximo.
RELEMBRE A MOBILIZAÇÃO DE 2015: ''Na greve, ocupei a Assembleia e enfrentei a tropa de choque''
A vice-diretora ressalta que todo o trabalho foi feito com muita seriedade e que a comunidade acompanhou o processo. “Nos reunimos com mais de mil pais e responsáveis e fizemos uma exposição bem detalhada do calendário, explicando o que são dias letivos e dias trabalhados e qual era nossa proposta. Procuramos evidenciar a importância do acréscimo da aula e do cumprimento do calendário”, relembra. Outra conversa foi feita com os estudantes para sensibilizá-los de que a reposição não era um castigo. Como nem todas as escolas paranaenses tiveram o mesmo tempo de aderência à greve, sendo o número de dias de reposição diferente, parte das escolas conseguiram cumprir os 200 dias com aulas no sábado.
Na rede estadual de São Paulo, os gestores definem a compensação em acordo com o Conselho de Escola, formado por pais, alunos e professores e com funções consultiva, fiscal e mobilizadora. Após a deliberação, a proposta é encaminhada para avaliação do supervisor da unidade de ensino e homologação da Diretoria Regional de Ensino. “Apesar disso, mesmo em situações de paralisação e outros possíveis imprevistos, as Diretorias trabalham para que as aulas sejam garantidas aos alunos. No caso de haver faltas pontuais dos docentes, as regionais contam com um cadastro de professores substitutos que são acionados para cobrir eventuais ausências”, informa a Secretaria Estadual de Educação de São Paulo.
No caso de poucos dias perdidos de aula, Valdecir tenta buscar alternativas que não impactem tanto a rotina dos estudantes. “Como toda reposição é doída por tirá-los do seu planejamento, buscamos trocar, por exemplo, um dia de semana previsto para planejamento dos professores por um sábado para liberar a data para reposição. Isso porque ter aulas no sábado também envolve, por exemplo, aprovação de transporte escolar e é mais difícil de ser aceito pelos alunos”, esclarece.
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