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Como uma escola usou a festa junina para bancar melhorias em sua estrutura

Em Cotia, familiares e equipe escolar trabalham juntos para angariar fundos que são investidos na aprendizagem das crianças

POR:
Monise Cardoso
Crédito: Rita Mayumi

Era para ser uma manhã comum, mas os dias de maio e junho são sempre atípicos na EM Edith dos Santos Silva, localizada em Cotia, região metropolitana de São Paulo. Na escola, a preparação para a festa junina da comunidade agita os corredores e a rotina da diretora Luciene Baia Lopes e do coordenador Rogério Bernardo da Silva, que volta e meia param o trabalho para receber as famílias dos alunos levando doações e equipamentos que serão usados na comemoração. Na manhã em que GESTÃO ESCOLAR visitou a instituição, dona Tânia, avó de um dos alunos do 5º ano, surgiu na porta da sala dos gestores carregando um fogareiro de duas bocas. Graças a ela, pela primeira vez, a festa irá vender tapiocas.

A comemoração é tradição na instituição desde que Luciene assumiu o cargo de diretora. Com a chegada dela, estabeleceu-se um foco maior na aproximação e no diálogo com as famílias e se tornou comum o envolvimento cada vez maior dos pais de alunos com a escola. É graças ao comprometimento deles que, hoje, as turmas têm laboratórios bem equipados, sala de brinquedos, recursos multimídia e uma biblioteca ampla, bem organizada e com um extenso catálogo de títulos. Tudo conquistado com o dinheiro arrecadado na festa junina, organizada e viabilizada com doações da comunidade. “Aqui, os pais contribuem com alimentos, materiais, mão de obra e boas ideias”, explica a diretora.

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A estratégia do coordenador pedagógico e da diretora para conquistar a fidelidade das famílias tem nome: gestão democrática. Todas as decisões tomadas, desde as barracas que farão parte das atrações até o destino do dinheiro arrecadado, passa por uma assembleia formada por dez representantes e depois é validada por todos os responsáveis pelos alunos em reuniões pedagógicas. “A assembleia nasceu depois que disponibilizamos um questionário de avaliação pós-festa e vimos que os pais tinham muita coisa para sugerir”, conta Rogério. Além disso, o total arrecadado e o destino do dinheiro são apresentados aos familiares de maneira muito detalhada em reuniões de prestação de contas.

Crédito: Rita Mayumi

Para Maura Barbosa, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa Cedac, promover eventos na escola para levantar fundos é uma forma de assegurar um ambiente positivo para os alunos mais rapidamente, já que a liberação de verbas pelas secretarias tende a ser demorada. “Tomemos cuidado para que o poder público não deixe de participar dos movimentos na escola. E é importante que a secretaria reconheça e enalteça esse tipo de trabalho até para ampliar a discussão da gestão participativa dentro da rede”, defende.

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Passo a passo

Veja abaixo algumas dicas dos gestores da EM Edith dos Santos Silva sobre como se organizar para arrecadar de dinheiro com a festa junina:

1) Forme uma assembleia

A escola tem uma assembleia formada por um grupo de dez pais ou responsáveis pelos alunos. Esse grupo começa a se reunir três meses antes da data de realização da festa e é responsável por dar novas ideias, delegar tarefas, aprovar o planejamento de gastos e o orçamento e organizar as doações. Com tudo validado pelos representantes, os gestores levam as decisões para todos os outros pais em uma reunião geral. “Usamos a ocasião para fazer os avisos da festa. Neste momento, eles aprovam as decisões e também propõem melhorias”, explica Luciene.

2) Faça um diagnóstico das necessidades

O coordenador pedagógico se reúne com as professoras para levantar quais são as mudanças necessárias tanto na estrutura da escola, quanto nos materiais e espaços. Tudo é registrado em uma planilha, assim como o orçamento de gastos para compra de materiais e execução das reformas. “Organizamos tudo em apresentações de slides e listamos em uma ata. Na reunião geral, os familiares presentes aprovam os registros e assinam a ata”, diz Rogério.

Crédito: Rita Mayumi

3) Se reúna com pautas definidas

Em média, a assembleia se reúne quatro vezes. Na maioria dos encontros, três perguntas são norteadoras: O que? Quem? Quando?

Reunião 1: O tempo da primeira reunião é usado para um diagnóstico da festa anterior: O que deu certo? O que precisamos mudar? Vale incluir novas barracas, brincadeiras, etc.? Essa discussão é feita com base nas respostas de um questionário respondido pelos convidados ao final da festa anterior. Mais rigor com prazos e tarefas é uma das resoluções deste ano, um ponto identificado a partir das experiências do ano passado. “Uma mãe assumiu muitas responsabilidades e, por isso, acabou não conseguindo ter a agilidade que precisávamos para não atrasar os preparativos. Este ano estamos dividindo melhor as funções”, explica Rogério.

Reunião 2: É o momento de discutir as tarefas: quem vai ficar com cada barraca e quem vai atrás dos equipamentos como fogão, panelas, alimentos, rádio e decoração, por exemplo. As responsabilidades que não ganham um dono na assembleia são levadas para a reunião geral de pais. Uma planilha com tudo o que falta é exibida em um retroprojetor e os gestores têm uma conversa sincera, objetiva e bem-humorada com os familiares no momento de pedir ajuda. “Ano passado eu improvisei um leilão de doações. Comecei com 2 quilos de carne e eles iam aumentando e assumindo os lances. Foi muito divertido”, lembra Luciene.

Reunião 3: É hora de aparar as arestas e definir os últimos detalhes. Nessa reunião, fica definido quem serão os responsáveis pelo recrutamento das pessoas que trabalharão na barraca no dia do evento. E é o momento de verificar se todos os combinados poderão ser cumpridos. “ A essa altura, a maioria já trouxe o que prometeu. Para quem ainda não conseguiu, a gente ajuda a pensar em novas alternativas”, explica Luciene.

4) Preste contas

Mais uma vez os slides entram em cena, agora para mostrar ponto a ponto os resultados financeiros. Tudo é elencado: total de arrecadação; total por barraca; gastos por atração; gasto com alimentos; gastos com equipamentos; gastos com mão de obra. Além disso, assim que o dinheiro começa a ser investido nas ações previstas lá no início do processo, é hora de voltar a reunir as famílias para mais prestação de contas. “Os pais precisam ver o resultado de forma concreta. Não adianta pegar o dinheiro e investir apenas em papel. Papel é útil, mas a confiança vem com resultados claros, que sejam visualizados por todos. E claro, isso tem que estar atrelado a aprendizagem dos meninos”, diz Luciene.

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