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O que aprendi com uma professora que não acredita em reclamar da Educação

Reclamamos do sistema, dos professores, da família… mas é na experiência de docentes motivados que vemos como o ensino público tem jeito

POR:
Marlucia Brandão
A professora norte-americana Katherine K. Merseth durante palestra no evento da Rede Conectando Saberes, em São Paulo   Foto: Acervo pessoal

Por três momentos na minha vida ocupei um cargo de gestão, incluindo neste momento em que estou na direção da EMEIEF Boa Vista do Sul, em Marataízes (ES). Gerir uma escola não é tarefa fácil, ainda mais para quem acredita que essa missão tem que ser realizada de forma solitária.

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Acredito verdadeiramente em uma gestão compartilhada, democrática e principalmente humanizada. Temos que gerir todas as aflições de uma escola, desde a falta do gás de cozinha para fazer a merenda às dificuldades de aprendizagem dos nossos alunos. Mas também acredito que ficar apenas reclamando não traz resultado.

Em maio, tive a oportunidade de participar de mais um encontro da Rede Conectando Saberes, uma iniciativa da Fundação Lemann que reúne educadores com o intuito de buscar uma educação pública transformadora para todos os estudantes. Com o tema "Engajando para Conectar", o evento convidou a professora Katherine K. Merseth, da Universidade de Harvard, para conversar conosco. Em sua palestra, ela reafirmou que a escola pública tem jeito e que não foi reclamando que países como Finlândia, Singapura, Japão e Estados Unidos têm conseguido avanços na Educação. Foi, sim, com estudo, estratégia, formação de professores, planejamento e o envolvimento de todos os atores que fazem parte desse espaço transformador, que chamamos de escola.

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Temos o mau hábito de reclamar de tudo! Reclamamos do sistema, dos professores, da família. E o que mais me chama atenção nos encontros da Rede Conectando Saberes é que todos professores, gestores, estudiosos da Educação estão buscando caminhos para fazer acontecer essa Educação, de norte a sul, com ou sem estrutura, com ou sem material pedagógico necessário. São pessoas capazes de inspirar outros profissionais com o poder de transformação e a seriedade com que tratam a Educação pública. Eles fazem do limão uma limonada. E, assim, ganham um novo fôlego novo para as batalhas diárias dentro desse universo mágico e complexo, que chamamos de escola e nos mostram que a aprendizagem, se bem planejada e com propósito, tem o poder de vencer as dificuldades do dia a dia de uma escola.

Ouvi experiências de colegas que, com pouquíssimos recursos e com a estrutura física da escola comprometida, conseguem ofertar uma educação de qualidade. Como docente, não sou capaz de descrever como isso me reanima, bem como em meu papel de gestora.

Ouvir da professora Katherine K. Merseth que “o fator que mais influencia o desempenho do estudante é um professor motivado e decidido a aprender” serve como impulso para o desejo que nós, professores e gestores que integramos a Rede Conectando Saberes e todos os docentes comprometidos deste Brasil, sigamos em frente com entusiasmo e dedicação.

A diretora Marlucia Brandão ao lado de Débora Quitéria em encontro da Rede Conectando Saberes, em São Paulo   Foto: Acervo pessoal

Acredito que é no poder da troca de experiências exitosas e nas parcerias firmadas com aqueles que acreditam, assim como nós, numa Educação verdadeira e transformadora, que podemos ajudar e levar para a nossa realidade escolar aquilo que deu certo em outras regiões até mesmo em solos áridos da Educação.

Segundo Katherine Merseth, toda escola se estrutura em pontos precisos. “O diretor da escola pública tem a função de definir expectativas altas e claras, monitorando sua implementação” e “O aprendizado de professores e estudantes está interligado”, disse ela no encontro. Essas duas colocações dependerão de um trabalho coletivo, organizado e compartilhado, em que todos os atores famílias, alunos, comunidade escolar, professores, gestores, órgãos públicos estejam imbuídos de um mesmo objetivo: ofertar e receber uma educação de qualidade. Para todos e todas.

 

Marlucia Brandão é diretora da EMEIEF Boa Vista do Sul, em Marataízes-ES, desde 2016, e professora de Língua Portuguesa, com especialização em Linguística Aplicada ao Português, Psicopedagogia Institucional e Ciências da Educação. Deu aulas em todas as etapas, da alfabetização à Educação de Jovens e Adultos (EJA). Também foi Secretária de Educação de Marataízes entre 2011 e 2012.

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