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A verdadeira função do coordenador pedagógico

Quando o coordenador consegue fazer com que a escola compreenda tanto o sucesso quanto o fracasso como coletivos, ele cumpre sua função

POR:
Joice Lamb
Foto: Getty Images

Não escrevo este texto para mais uma vez listar que o coordenador deve ou não fazer na escola. Sei que temos muitas funções e que, muitas vezes, não conseguimos cumprir todas a contento e então ficamos frustrados e achando que nossa função burocrática nos anula. Sou defensora da ideia de que devemos escolher nossas batalhas, mas de forma alguma devemos nos esconder da responsabilidade de trazer luz a necessidades da função e de buscar reconhecimento nos nossos espaços de trabalho – para nós e para os nossos colegas.

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Quando decidi ser coordenadora o fiz porque sentia que nenhum coordenador estava realmente enxergando a escola e tentando buscar soluções para os problemas existentes. Penso que a maior dificuldade da escola pública é conseguir se enxergar para além das dificuldades do sistema e das questões sociais. Não é possível um trabalho de sucesso se as pessoas – todas as pessoas –, não conhecem a realidade da escola. O coordenador precisa ilustrar que 2% de reprovação podem representar um índice baixo no universo de uma rede, mas que dentro da escola estamos tratando do Eduardo, da Jéssica, do Estevão, da Francine. E que o fracasso deles é um fracasso coletivo, tanto quanto o sucesso dos 97% dos alunos também é. O coordenador deve mostrar que mesmo com o melhor Ideb entre as escolas de Fundamental completo da rede, apenas 37% dos alunos apresentam um rendimento adequado em Matemática. Não importa ser melhor que os outros, é preciso ser o melhor que você pode ser. Para isso, é preciso se enxergar.

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Sei que esta não seria a função mais aplaudida na escola e que precisa de muito tato para não parecer que você quer apenas depreciar as conquistas feitas. Por isso, é importante que o coordenador também possa ser uma pessoa que incentiva os professores a desenvolver projetos e tenta fazer conexões entre as pessoas na escola, para que todos estejam juntos tecendo a mesma rede.

Gosto de comparar escola com uma trama que estamos todos tecendo. Inicialmente, os fios estão bastante espaçados e deixam passar muitas coisas, boas e más. Neste momento, o coordenador precisa ter paciência e aceitar o tempo que todas as pessoas precisam para assimilar as mudanças e compreender o trabalho em equipe. Observar e divulgar as pequenas conquistas de cada professor, demonstrando que isso constrói o sucesso coletivo é importante. Muitas vezes, os professores não conseguem perceber que seus projetos não estimulam apenas o sucesso dos seus alunos, mas da escola e não os divulgam para não dar a entender que querem apenas “aparecer”.

Quando o coordenador consegue fazer com que a escola compreenda tanto o sucesso quanto o fracasso como coletivos e que tudo isso ajuda a tecer essa rede que sustenta uma escola viva, na qual o crescimento dos alunos acontece pela ação direta dos projetos desenvolvidos pelos professores, ele cumpre sua função principal. Só a ação causa uma reação. Isso é preciso ser mostrado, analisado, discutido.

Existem pessoas que pensam que o tempo passando e um ano letivo cheio de aulas chegando ao final basta para que os alunos aprendam e que se os alunos não aprendem, o problema é deles e de suas famílias. A escola já faz muito, dizem. Os professores estão envolvidos com o trabalho diário com os alunos e precisam que o coordenador amarre as pontas soltas, que ele traga novos fios e assuma a responsabilidade de tecer, junto com eles e com o restante da comunidade escolar, as soluções necessárias. Não é só uma lista de afazeres, é mais do que isso. Posso dizer que ser coordenador na escola pública brasileira é “segurar” os sonhos de sucesso destas crianças e destes jovens em redes construídas com um fio muito frágil que a sociedade nos oferece para trabalhar e que, constantemente, é rompido pela ação daqueles que não compreendem o que se passa entre nossos muros. Através dessa reflexão cheia de imagens poéticas quero dizer a meus colegas coordenadores que o problema e a solução estão dentro do espaço da sua escola. Olhe para dentro.

Joice Maria Lamb é professora da rede municipal de Novo Hamburgo-RS desde 1991 e já teve turmas em quase todos os anos do Fundamental I e II. Atualmente, atua como coordenadora pedagógica da EMEF Profª Adolfina J. M. Dienfenthäler. É formada em Letras, tem especialização em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica e foi uma das 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 2017.

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