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10 coisas que ninguém te conta antes de assumir a coordenação

Três coordenadoras pedagógicas compartilham as surpresas após assumir a rotina da coordenação

POR:
Laís Semis
Crédito: Getty Images

Joice Maria Lamb conhecia bem as atribuições que competiam ao cargo e como era a rotina de trabalho quando iniciou sua trajetória como coordenadora pedagógica em 2012. “Apesar disso, achava que algumas situações seriam muito mais fáceis de lidar na prática”, conta Joice, que trabalha na EMEF Profª Adolfina J. M. Dienfenthäler, em Novo Hamburgo (RS). Uma boa parte dos gestores escolares, porém, não conhece a fundo as demandas e processos do cargo. Sirlene Solimões, da EM Dr. Sergio Alfredo Pessoa Figueiredo, em Manaus (AM), tinha conhecimento apenas do que vivenciava como professora. “Não imaginava todo o trabalho que era atribuído à coordenação. Tinha uma visão ilusória de que não era tanta coisa assim”. Para superar os obstáculos trazidos pelas novas demandas, as formações e trocas de experiência com coordenadores de outras escolas foram essenciais.

Para quem está chegando agora ao cargo, o volume e a variedade de tarefas podem causar até um certo desespero. O principal é ter em mente que “ninguém sabe tudo”, como diz a própria Joice, e que os problemas da escola não têm como ser resolvidos num estalar de dedos. “Nenhum coordenador vai solucionar todos os problemas da escola nas primeiras semanas. É preciso segurar a ansiedade e mergulhar no diagnóstico da instituição para entender as necessidades dos professores e alunos”, aconselha Marta Silva Nascimento Teixeira, da EMEB Francisco Batistini Paquito, em São Bernardo do Campo (SP). Para ajudar quem está pensando em assumir ou acabou de chegar ao cargo, ouvimos os conselhos de Joice, Sirlene e Marta – que contam a seguir quais foram as maiores surpresas que tiveram como novatas na coordenação.

1. Todos os conflitos e problemas vão parar na sala do coordenador

As atribuições prescritas pela legislação focam na rotina pedagógica, na atuação junto ao professor, na melhoria da qualidade do ensino. “Entrei achando que minha função se limitaria ao pedagógico”, confessa Marta. De repente, lá estavam alunos com problemas de comportamento, brigas entre as crianças, rusgas entre a equipe. “Tudo acaba parando na sala do coordenador. Fiquei impressionada”. Marta conseguiu transformar a situação ao investir em trabalhos preventivos de clima escolar: conselho mirim, assembleias, mediação de conflitos entre pares foram algumas das ações. “Se não tiver um trabalho preventivo, não funciona”.

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2. A rotina é tão intensa, que se você não tiver em mente as atribuições do cargo, acaba acumulando trabalho dos outros 

Garantir a realização do horário de trabalho pedagógico coletivo, observar práticas pedagógicas, conhecer e acompanhar os resultados de aprendizagem da escola. Que lindo seria se tudo acontecesse como o planejado e o coordenador pudesse focar apenas no que lhe compete! “Quando a gente chega na escola, o grande susto é que você se torna uma espécie de ‘bombril’, com mil e uma utilidades”, desabafa Marta. “Sempre haverá muito trabalho para se fazer na escola e se você não se cuidar, acaba assumindo tarefas que não são da função. Eu entro na escola e sou sugada”, diz Joice. É a impressora que quebra, aquele horário de entrada que exige sua presença, o professor que falta e sobra para você assumir a aula. Só que nada disso está ligado ao que realmente é (ou deveria ser) o foco do coordenador. “No começo, eu me sentia só apagando incêndios. Os objetivos estavam sendo atropelados pelos problemas imediatos. Com o tempo, fui aprendendo a me organizar e lidar com imprevistos para que não dominassem a minha rotina”, conta Marta.

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3. Mesmo sendo muito próxima dos professores, a relação com os colegas de trabalho passa a ser bem diferente

Como a formação continuada dos professores é uma das principais responsabilidades do coordenador, ele costuma ser uma figura próxima dos docentes. No entanto, uma coisa é ser par, outra é ser o “parceiro experiente”. A mudança de papel impacta essa relação de proximidade. “Mudou o jeito que as pessoas falavam comigo e o que eu exigia delas”, conta Joice. A sensação é maior quando você assume o cargo na mesma escola em que era docente. “Tem um pouco de conflito em relação ao seu papel agora”, diz Marta. “Você não é mais a colega. É uma nova relação que você tem de construir”. Para ela, essa mudança é mais fácil quando se está alocado em uma instituição diferente, já que as duas partes têm uma clareza maior de qual é a relação desde o início.

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4. Não basta trabalhar a formação continuada dos professores, é preciso fortalecer a formação inicial 

Observar o professor em ação na sala de aula e acompanhar os resultados de aprendizagem para coletar dados e planejar os encontros de formação continuada dos professores. O momento dedicado ao horário de trabalho pedagógico coletivo (HTPC) tem a intenção de aprimorar a prática pedagógica e, consequentemente, a aprendizagem dos alunos. No entanto, os coordenadores se veem suprindo deficiências dos cursos de Pedagogia e licenciaturas. “Muitos professores chegam sem noções básicas, defasagens que se espera que eles aprendam na formação inicial”, desabafa Marta. Para piorar, em escolas com grande rotatividade, o trabalho de formação parece sempre voltar à estaca zero. “Todo ano você está com um grupo novo, iniciando formação. É duro”.

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5. O relógio (ou o tempo) é seu maior inimigo

Para quem acompanha do lado de fora, a impressão é de que durante o período de aulas, há tempo de sobra para o coordenador fazer as coisas. A verdade é que – ainda que indiretamente – você tem é mais salas para cuidar. “Eu tenho 24 turmas para acompanhar, mais de 700 alunos. Sou a única coordenadora, não tenho parceira, então a demanda é muito grande”, afirma Marta. Enquanto isso, a lista de atividades corre solta pelo dia: estudos e planejamentos, encontros de formação, reuniões, mapeamento de dados, atendimento aos professores, conversas com os pais, pedidos vindos da direção. Ao tentar encaixar o número de demandas na carga horária, pode acabar “sobrando” coisa. “É difícil, mas com o tempo aprendi que manter uma rotina é essencial. Você precisa ser bem organizada, tentar ao máximo não assumir atribuições que não são do cargo e ter tranquilidade para saber que não vai dar conta de fazer tudo ao mesmo tempo. É preciso elencar prioridades”, explica a coordenadora paulista.

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6. Alguém aí falou em relação complexa e profunda? As conversas com os pais serão muito mais complicadas do que você pode imaginar

“Tudo que vem dos pais é uma surpresa”, define Sirlene. As coordenadoras garantem: a relação com a família é bem diferente daquela que se tinha sendo professora. Marta, por exemplo, trabalhou por mais de uma década na mesma comunidade, já estava acostumada com os pais e responsáveis, mas viu o universo de famílias se multiplicar. Com essa multiplicação, surgiram cobranças cada vez mais distantes da aprendizagem – a questão, geralmente, que mais atrai os responsáveis para conversas com os pais. “Não esperava ter que lidar com problemas de agressão dentro das famílias, pais incapazes de manter um diálogo, pessoas que não aceitam o que você diz e partem para agressões verbais”, conta Marta. Ela diz que no início foi bem difícil lidar com essa dinâmica, já que como professora sempre havia tido boas relações com os pais. Os responsáveis tendem a trazer discussões de fora para dentro da escola, mas há também o movimento inverso, de intervenção no que acontece dentro dos muros. Quando a escola de Sirlene adotou o regime de tempo integral, os pais começaram a aparecer em peso na hora do almoço. “Eles foram resistentes à alimentação fornecida pela secretaria. Então, quando iniciamos o modelo, muitos preferiam trazer a comida de casa do que comer a da escola. Isso durou algum tempo. Eu nunca imaginei que poderia se tornar uma questão”.

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7. Briga de crianças? Resolver conflitos entre os adultos, às vezes, é mais difícil

Embora os alunos indisciplinados devam ser encaminhados ao coordenador somente para questões pedagógicas – e não qualquer briga entre colegas – é comum eles terminem na sala do coordenador quando surge um entrevero em sala de aula. Das mordidas ao amiguinho na creche às agressões físicas das crianças maiores, ninguém poderia imaginar que os adultos são os que dão mais trabalho. “A gente pensa que as coisas se resolvem melhor quando as crianças crescem, mas é ilusão, temos que mediar tudo”, fala Joice. “Da criança, você espera tudo. Dos adultos, você acha que sabe o que pode vir. Mas quando você olha bem, tem menos conflitos entre alunos do que funcionários”.

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8. Você achava que bastava uma boa ideia para que os professores abraçassem a causa. Nem sempre é bem assim…

Você acaba de assumir a coordenação e apresenta várias propostas inovadoras e ações diferenciadas, com a melhor das intenções. Diante de ideias tão empolgantes, que levam em conta não só as necessidades da escola e docentes, mas também métodos interessantes, é claro que a equipe vai se unir e fazer acontecer, certo? Não. “Eu achava que seria assim, que teríamos as ideias e os professores topariam tudo”, revela Joice. Foi exatamente o que fez quando chegou à coordenação: trouxe um projeto que considerava maravilhoso para trabalhar a leitura. Não saiu do papel. “Pareceu capricho meu querendo emplacar. Dei um passo para trás e levantei as estatísticas da escola”. Assim, a coordenadora mostrou que se tratava de um problema real da escola, que tinha alunos do 6º ano com dificuldade de leitura e escrita. “Eu mostrei o problema específico da escola e não algo genérico de leitura. É preciso compreender isso, antes de sair dando ideias”.

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9. Dinheiro não é com você, o seu negócio é desenvolver poder de negociação

Ok, o poder de negociação pode não envolver dinheiro, mas essa articulação com a equipe pode ser tão intensa e desgastante quanto ter de assinar pagamentos. Até porque qualquer tópico pode virar tema de polêmica, desacordo ou insatisfação. A distribuição da grade horária, a disponibilidade para participar de eventos e atividades propostas pela escola fora do horário, o desenvolvimento de novos projetos e metodologias, o uso dos espaços coletivos… “Há resistência para negociar pontos que envolvem a participação da equipe. Então, você tem que saber entrar em acordo, alinhar informações, destacar a importância e fazê-los levar em conta não apenas suas posições individuais”, comenta Sirlene.  “Se você não esclarece e aponta a importância, acaba sendo visto apenas como um fiscalizador que está ali para cobrar”, desabafa.

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10. Quando o expediente acaba, você tenta desligar da escola, mas não consegue - e os professores colaboram para isso

Antes de assumir o posto (ou olhando de longe, lá da sala de aula), já deve ter passado pela sua cabeça que seria ótimo ficar concentrado em sua salinha, sem a presença de alunos, com todos os professores em ação com suas turmas, sem interrupções – de pessoas e demandas não previstas. Só que na vida real, a rotina do coordenador pedagógico é uma “maratona” diária contra o tempo. “Eu não imaginava que o coordenador tinha todo o trabalho que lhe cabe”, admite Sirlene. Que, é bom frisar, não se resume ao expediente escolar. “Você vai para casa no fim do dia, sai de férias, mas continua ligado na escola. Você nunca desliga”, diz ela. “E acontece também de não te deixarem desligar”. Um fator que colaborou muito para intensificar essa relação foi a tecnologia. “Sempre estou recebendo WhatsApp de professor fora do horário e até de final de semana pedindo sugestões de atividades ou ajuda com alguma outra coisa”. E você vai dizer não?

E você, coordenador? Qual foi o choque de realidade que quase o derrubou da cadeira? Teve outras surpresas ao ingressar na carreira? Conte para GESTÃO ESCOLAR e compartilhe conosco nos comentários!

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