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Como inserir o trabalho em equipe entre os professores

Coordenador pedagógico pode indicar o caminho para o corpo docente praticar o esforço coletivo

POR:
Ewerton de Souza
Foto: Getty Images

Uma das competências que a escola tem buscado estimular em crianças, jovens e adultos é a capacidade de trabalhar em equipe, de forma colaborativa, visando um objetivo em comum. Para a escola, enquanto comunidade de aprendizagem, e partindo do pressuposto de que nela todos aprendem uns com os outros, essa competência não é somente algo que se espera do estudante ao final de seu processo formativo, mas é a própria forma como se devem construir as demais aprendizagens no meio escolar.

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No entanto, a questão que se pode colocar é: se os alunos devem aprender a trabalhar e aprender de modo colaborativo, os professores não devem também agir do mesmo modo? É possível cobrar de nossos educandos que saibam trabalhar coletivamente e ignorar que, muitas vezes, o próprio trabalho da escola não é realizado dessa forma?

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 De fato, a cultura do trabalho na escola impôs aos professores uma ação extremamente solitária. O professor pisa na sala de aula e, daquele momento em diante, é somente ele e os alunos. Antes disso, planeja suas aulas sozinho. Depois disso, analisa os resultados do processo de aprendizagem sozinho.

Para isso contribuem a organização clássica de um professor para um determinado grupo de estudantes, a falta de tempos e espaços na rotina docente para o encontro do educador com seus colegas, mas também a construção do professor enquanto profissional da certeza e da verdade, jamais compartilhada ou negociada com outros sujeitos, educadores ou educandos.

Assim, construir um trabalho autenticamente coletivo é um grande desafio. Já disse que é papel do coordenador pedagógico estimular, organizar e articular o grupo de professores sob sua coordenação para que realmente se constituam em uma equipe. Transformar o professor em um profissional não solitário, mas solidário é tarefa que requer tanto paciência e escuta quanto firmeza e segurança.

Construção do trabalho em equipe

Em nossa escola temos tido a grata e desafiadora experiência de, ao longo desses quatro anos, construir um trabalho em equipe no qual o planejamento, as tomadas de decisão, as análises e avaliações têm sido feitas coletivamente, com a escuta de todos e visando objetivos em comum a partir de princípios compartilhados por todo o grupo.

Esses dias, conversando com nossos docentes, compartilhávamos como avançamos neste desafio. Quantas dificuldades do trabalho em grupo foram superadas. Lembro que, quando começamos, em 2015, o primeiro passo tomado foi nos colocar de forma crítica diante das seguintes questões: somos realmente uma equipe? Atuamos conjuntamente? Ouvimos uns aos outros? Negociamos intenções, interesses? Compartilhamos pontos de vista de forma livre e respeitosa?

À época, como coordenador pedagógico, junto com minha colega de função, pensamos na seguinte experiência para iniciar uma discussão: fizemos uma apreciação de algumas obras da artista plástica Tomie Ohtake e, depois, propusemos aos professores, divididos em pequenos grupos, que realizassem coletivamente uma intervenção artística sobre um acetato no qual havia vários espaços em branco e um ou outro recorte das obras que apreciaram. A proposta era construir um objeto artístico em equipe que estabelecesse diálogo com o que já estava posto.

A experiência que começamos ali permitiu que todos, coordenadores e professores, percebessem quais eram as interações entre nós e como negociávamos – ou não – as intenções do que queríamos fazer na obra. Lembro que, em um dos grupos, dividiu-se o espaço em que seria realizada a intervenção em tantas partes quanto eram os professores e cada docente aplicou as tintas como julgava melhor. Ao final, tínhamos ali uma obra fragmentada, nitidamente composta de partes que não dialogavam. Na época pensei como isso era representativo da forma como trabalhamos na escola. Cada um no seu quadrado, de modo compartimentado, sem que nossas ações pedagógicas conversassem com as dos colegas. Ou, quando isso acontecia, com dois ou três colegas, mas por uma questão de afinidade pessoal e não de trabalho em equipe planejado, sistematizado e negociado coletivamente.

Dessa vivência conseguimos refletir melhor sobre nossa prática enquanto equipe docente e responder criticamente às perguntas que nos fizemos no início. Isso me ajudou como coordenador a pensar o que precisa mudar e traçar uma estratégia para fazê-lo.

Como colocar em prática

Desde então trabalhamos realmente em equipe. Organizamos nosso trabalho de modo que sejam favorecidos os momentos de estudo e tomada de decisões em conjunto e acredito que, da experiência desenvolvida ao longo desses anos, posso sugerir alguns caminhos:

  • Colocar em xeque se realmente o grupo de docentes se constitui como equipe é um ponto inicial que não podemos ignorar se queremos realmente fazer um trabalho coletivo e colaborativo;
  • Organizar os tempos de modo a privilegiar a interação entre os docentes é outro ponto importante, recordando-se sempre de que a equação entre o tempo que efetivamente temos e as demandas a que temos de responder é fundamental, afinal desenvolver um trabalho em equipe viável é fazer a realidade dialogar com aquilo que acreditamos ser ideal;
  • Embora certamente deve haver momentos para a reunião de todos os docentes para estudo ou tomada de decisões maiores em relação ao projeto da escola, é interessante dividir os professores em equipes menores que atuam, por exemplo, nas mesmas turmas, pois isso otimiza o tempo dando mais oportunidade de todos os docentes se manifestarem na definição das ações didáticas, bem como se apropriarem do que será coletivamente desenvolvido com os educandos;
  • A presença de um eixo temático é muito proveitosa para articular o trabalho em equipe, pois cria um ponto no qual os professores com suas disciplinas ou áreas do conhecimento podem se debruçar;
  • Estabelecer tempos para cada ação coletiva dentro de um cronograma a ser seguido por tantos quantos forem os grupos de trabalho ajuda a viabilizar que todos caminhem juntos.

Até aqui colocamos como trabalho coletivo os processos de planejamento, organização, preparação e avaliação das ações didático-pedagógicas. Contudo, outra experiência que ajuda a fortalecer os vínculos do trabalho em equipe é a docência compartilhada. Favorecer momentos nos quais os professores tenham a oportunidade de trabalhar em conjunto na sala de aula com os educandos impõe desafios que ajudam cada docente a perceber a ação pedagógica de seu colega e compreendê-lo melhor, afinando mais a equipe na hora da tomada de decisões e negociação do que será realizado com os alunos.

Por fim, cabe lembrar que num autêntico trabalho coletivo não há disputa entre este ou aquele professor, há sim o compartilhamento das potencialidades de cada profissional a fim de que seja alcançado o objetivo construído coletivamente. A origem da palavra equipe refere-se a um conjunto de pessoas que preparam uma embarcação para viagem. Olha como essa palavra expressa bem a razão de uma equipe ser tão importante para a escola! Afinal, tem melhor e mais prazerosa forma de fazer a viagem pelo conhecimento que acompanhado de outras pessoas?

Ewerton Fernandes de Souza é coordenador geral no CIEJA Clóvis Caitano Miquelazzo, escola da prefeitura de São Paulo que lida exclusivamente com Educação de Jovens e Adultos, especialmente na faixa etária dos 15 aos 18 anos. Foi um dos 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 de 2017.

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