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A escola que eu sonhava… não era bem assim

A coordenadora Joice Lamb fala sobre o mito da escola perfeita e como é preciso transpassar a idealização para reconhecer os esforços, méritos e conquistas da escola real

POR:
Joice Lamb
Crédito: Getty Images

Quando eu iniciei no trabalho docente eu imaginava uma escola perfeita. Imaginava também que se eu quisesse, mesmo encontrando escolas não tão perfeitas, poderia mudá-las com a minha vontade e o meu desejo. Não foi bem assim! Então, eu pensei em entrar na gestão escolar e, assim, eu poderia fazer a minha escola perfeita.

Fui diretora e agora, sou coordenadora pedagógica. Mas... não foi bem assim, de novo! A escola que eu sonhava não estava se materializando do jeito que eu queria – mesmo com o meu enorme esforço. Pensei que era só eu explicar minhas ideias geniais que as pessoas entenderiam e pronto: a escola perfeita estaria criada.

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Hoje, eu acho que temos a escola perfeita materializada onde eu trabalho. Mas não é a escola perfeita, porque não tem problemas ou porque todo mundo faz o que eu penso que seja o melhor. Nossa escola é perfeita porque está em construção e, junto com todo mundo, eu participo da construção.

Muitas vezes, o coordenador ou o diretor tem grandes sonhos que ele sonha sozinho. Acho que um sonho, sonhado sozinho chega a ser pesadelo, porque a gente não consegue sair dele e não consegue trazer os outros para dentro. Também não adianta só explicar para os outros suas ideias, porque eles também têm ideias que, às vezes, não se complementam.

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Não penso que é possível mobilizar professores para se engajarem em projetos apenas falando ou mesmo mandando. Cada escola tem uma dinâmica interna que está implícita nas ações do grupo. O coordenador precisa perceber isso e, junto com a equipe escolar, desenvolver um projeto harmônico e sustentável. Harmônico porque tem que tentar encaminhar todos para a mesma linguagem e sustentável porque as ações têm que continuar existindo, mesmo quando o foco está em outra área.

O começo de tudo deve ser a gestão democrática. Espaço de fala livre. Assembleias. Alguém poderia dizer que se o problema é a alfabetização, deveríamos começar por um projeto de leitura. Ou, se é Matemática, comecemos por um projeto de jogos. Não. O primeiro projeto da escola deve ser assegurar a liberdade, a confiança, a segurança de que tudo o que for decidido em assembleia será cumprido ou, pelo menos, haverá a tentativa – que deverá ser novamente discutida em assembleias, se não der certo. Os professores e os alunos não precisam ser mandados, dirigidos ou tutorados. Todos precisam juntos construir o caminho e andar por ele. Se a gente anda por um caminho que outro construiu, não dá valor ao caminho, só a chegada.

Parece mais fácil, a curto prazo, pegar um projeto pronto (um que já deu certo) e aplicar. Se todo mundo aplicar direitinho, funciona. Pode até funcionar, mas não se sustenta a longo prazo porque se você tirar a apostila, ninguém sabe o que fazer. Por outro lado, um projeto que foi construído a partir de uma necessidade real da escola, decidido em conjunto, aplicado e analisado em encontros frequentes, se mantém mesmo quando as pessoas que tiveram a primeira saem da escola.

A equipe diretiva tem o dever de garantir que as decisões de reuniões ou assembleias sejam cumpridas. Os professores e alunos sentem-se seguros e valorizados quando o espaço democrático é respeitado. Dessa forma, não é necessário inventar bônus ou presentinhos para motivar os professores, porque eles vão fazer o que combinaram juntos e também vão saber que se não fizerem o assunto será tema de uma nova reunião. De uma certa forma, o grupo se auto regula e os gestores têm mais tempo para viabilizar as ideias discutidas.

É função da equipe gestora da escola executar os aspectos técnicos para que as propostas possam acontecer e não deixar tudo para os professores, porque eles estão com os alunos a maior parte do tempo. Cronogramas, avisos, bilhetes, planilhas, atas, relatórios, relatos, e-mails são necessários e precisam estar prontos em tempo hábil para que as ações não fracassem antes mesmo de serem implementadas. Escolas onde a comunicação funciona bem, os professores sentem-se muito mais confiantes de que seus projetos possam alcançar o sucesso. Tomando essas questões para si, o coordenador e sua equipe também participam dos projetos e implicam-se no sucesso ou no fracasso. Em uma escola democrática todos são responsáveis.

Como eu disse no início: não basta ter ideias geniais, precisa compartilhar.

Um abraço,

Joice Maria Lamb

Professora da rede municipal de Novo Hamburgo-RS desde 1991 e já teve turmas em quase todos os anos do Fundamental I e II. Atualmente, atua como coordenadora pedagógica da EMEF Profª Adolfina J. M. Dienfenthäler. É formada em Letras, tem especialização em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica e foi uma das 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 2017.

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