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Monitoria aluno-aluno: colaboração que gera bons resultados

Ainda dá tempo de estabelecer esse tipo de atividade para que os alunos ajudem na recuperação uns dos outros

POR:
Nairim Bernardo
Alunas estudam reunidas em volta de uma mesa em uma biblioteca
Foto: Getty Images

Parceria é uma reunião de indivíduos que se unem para alcançar um objetivo em comum. Partindo dessa afirmação, já parou para pensar que os alunos não precisam ser colocados em uma competição, mas que podem ajudar uns aos outros para que todos alcancem os objetivos de aprendizagem? A monitoria aluno-aluno é uma alternativa para que eles colaborem entre si, o que trará resultados positivos para quem oferece e também para quem recebe a ajuda. 

O ideal é que essa iniciativa faça parte do projeto-político-pedagógico da escola e seja desenvolvida durante todo o ano letivo, mas é possível organizar algumas atividades de monitoria no terceiro bimestre para que alunos com dificuldades consigam melhorar seu desempenho até o final do ano. Essa é mais uma matéria de GESTÃO ESCOLAR com dicas de como tornar o terceiro bimestre um período de recuperação.

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“A monitoria aluno-aluno é uma estratégia pedagógica de aprendizagem para que o aluno tenha acesso ao conteúdo através de uma linguagem mais acessível”, define Patrícia da Silva Cavalheiro, doutora em Educação em Ciências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “E como o estudante vai explicar o conteúdo pro outro? Ele vai procurar uma forma que já o fez aprender e acredita que vá fazer o outro entender também. Observo que várias vezes o monitor pergunta ‘Você entendeu o que eu disse?’, porque está preocupado em se fazer claro”. Em sua tese “Monitoria como estratégia pedagógica para o ensino de Ciências no Nível Fundamental”, Patrícia aborda importantes conceitos de Vygotsky sobre interação social como um motor de aprendizagem e desenvolvimento intelectual, o que se coloca como mais um motivo para a adoção da monitoria aluno-aluno no ambiente escolar.

Se você, gestor escolar ou professor, deseja experimentar essa possibilidade na sua escola, é preciso primeiro saber que existem diversas formas desse modelo de monitoria acontecer. Estabeleça seus objetivos, escolha o que melhor se adapta à realidade da sua escola e faça um bom planejamento antes de convidar os alunos a participarem.

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Monitoria entre estudantes da mesma classe

Nathaly Caldas é professora de Língua Portuguesa no 2º ano da Escola de Referência em Ensino Médio Professor Trajano De Mendonça, em Recife (PE), e define monitoria aluno-aluno como “Um voto de confiança que o professor dá aos alunos, além de uma situação social bem importante para eles”. A professora conta como o projeto começou, “Fizemos um levantamento do desempenho de notas do terceiro bimestre e vimos que 50% dos alunos estavam abaixo da média. Junto com a coordenação e direção estabelecemos ações para recuperar esse índice e uma delas foi a monitoria aluno-aluno. Foram feitos 10 encontros em caráter experimental e resolvemos continuar”.

Funciona assim: cinco monitores de cada turma recebem um material de estudos que é feito, corrigido e discutido com a professora. Na semana seguinte, divididos em grupos de oito alunos, eles aplicam esse material com os colegas. Nathaly fica na sala acompanhando as monitorias e intervém quando necessário, o que, segundo ela, raramente ocorre. Hoje, uma das seis aulas semanais da disciplina é dedicada exclusivamente a monitoria e ela diz perceber bons resultados, “Muitas vezes, o aluno tem vergonha de tirar a dúvida com o professor, mas com o colega ele se sente mais à vontade por estar em uma relação socialmente mais confortável. E eles ganham protagonismo em seu próprio estudo”.

A coordenação acompanhou os encontros de testes e, em conjunto com a professora, avaliou o quanto os alunos conseguiram progredir. Os resultados observados foram um sinal de que a monitoria deveria continuar. De um ano para o outro, a nota da escola em uma avaliação externa, o Sistema de Avaliação da Educação de Pernambuco (Saepe), passou de 4,99 para 5,53. “Quem tem dificuldades recebe uma ajuda a mais para aprender e o monitor também não se acomoda por já ter uma nota boa, ele tem que estudar e se preparar para ajudar os colegas. Eles aprendem com os colegas e nós aprendemos com eles”, diz Carlos Eduardo da Silva, diretor da escola. 

Monitoria entre turmas

Sabe aquele ditado que diz que a grama do vizinho sempre é mais verde? Às vezes ele faz muito sentido dentro do ambiente escolar. Quando o professor de uma turma só tem elogios para fazer sobre os alunos e o de outra está enfrentando dificuldades, eles podem se unir para que a colaboração proporcione resultados positivos para todos. Foi o que fizeram as professoras Fernanda Zerbinatti e Kelly Cristina Andrade, responsáveis pelos 5º anos da Emeb Professora Erminia Paggi, em São Bernardo do Campo (SP). As duas turmas estão participando de um projeto sobre sustentabilidade e Fernanda considerou que esse seria um bom momento para uni-las, “A classe dela era muito indisciplinada e tinha dificuldades para entender e cumprir responsabilidades. Eu disse então que a minha turma poderia ajudá-los a ressignificar o lugar de estudantes da escola. E as crianças estavam bem felizes em poder ajudar os amigos”.

Funciona assim: Os horários foram organizados de modo que as turmas passassem as duas aulas dedicadas ao trabalho na biblioteca juntas. As crianças foram divididas em grupos, pensados nas potencialidades e dificuldades de cada um, com funções específicas pré-definidas: orador, controlador do tempo, escrivão e organizador do material. Os objetivos da monitoria foram explicados para elas e, assim, iniciaram o trabalho. “Esse trabalho de apoio já acontecia na turma e eles conseguiram estender esse modelo de ajuda para outra classe. Eles se perceberam muito capazes e responsáveis e os alunos de ambas as turmas ficaram mais focados e estudam para poder contribuir com o grupo”, diz Fernanda.

A professora conta que, no início, a equipe da escola não acreditava muito no projeto, o que a impulsionou a mostrar que era preciso mudar o processo de ensino e aprendizagem. “A criança precisa e pode aprender. Se a resposta não vem de um jeito, ela vem de outro. Enquanto professora, preciso permitir aos alunos novas experiências”, defende. 

Monitoria para turmas mais novas

Patrícia da Silva Cavalheiro é professora há 26 anos e desde o início da carreira trabalhava com a monitoria aluno-aluno em sala de aula. Um dia, percebeu que alguns alunos continuavam na escola no contraturno e, como não tinham mais atividades programadas, estavam dispostos a participar e ajudar no que fosse preciso. Surgiu então a ideia de que eles poderiam prestar monitoria para alunos de turmas mais novas, o projeto “Monitoria em Ciências nas Séries Iniciais”. Hoje, ela é assessora na Associação Central Sul-Rio-Grandense das Escolas Adventistas e capacita os gestores que querem instituir o modelo em suas escolas.

Funciona assim: a escola define seus objetivos e decide em qual disciplina quer aplicar o projeto. O próximo passo é escolher um professor que será responsável pela monitoria, dar as orientações e um cronograma de conteúdos que deverão ser trabalhados - cronograma esse montado pela professora regente da turma que receberá os monitores. O professor escolhe aproximadamente sete monitores, que recebem funções específicas no grupo: líder, secretário, fotógrafo e chefe de materiais. O professor regente passa para o professor responsável pela monitoria o assunto que eles devem trabalhar e, por 15 dias, eles pesquisam o conteúdo, materiais extras e possíveis experimentos que podem ser feitos. O grupo comparece à uma aula da turma da qual é monitor e apresenta o que foi estudado.

“Os alunos com dificuldades são o que mais têm retorno com essas atividades. Nas entrevistas que fazemos, eles dizem que a linguagem simplificada facilitava muito, que com os monitores eles entendem melhor. No contato entre eles, crianças e adolescentes conseguem produzir o que chamamos de aprendizagem significativa”, diz Patrícia.

Gestor, confira algumas dicas de como começar o trabalho de monitoria aluno-aluno em sua escola: 

Planeje

Em conjunto com a equipe, gestores e professores, defina os objetivos dessa ação e qual a viabilidade de realizá-la em sua escola. Raramente será possível ou mesmo necessário instituir a monitoria em todas as disciplinas, portanto, defina onde estão as maiores necessidades. Estabeleça também se a monitoria acontecerá no período regular de aulas ou no contraturno.

Os estudantes precisam estar envolvidos nesse planejamento, “É importante conversar com os alunos, eles gostam de se sentir parte do processo. Então, quando você divide as responsabilidades, eles participam. Junto com eles, o professor pode estabelecer metas para que cada um supere as próprias dificuldades”, sugere Nathaly.

Oriente os professores

O diretor Carlos Eduardo diz que que é importante que o professor mantenha a responsabilidade sobre o aprendizado, “Ele não pode jogar as responsabilidades em cima dos monitores. O docente tem que formar os monitores e permanecer em sala acompanhando a monitoria”.

Escolha e prepare os monitores

Se engana quem acha que o melhor monitor será necessariamente o aluno com as notas mais altas. Nota pode sim ser um critério de escolha, mas comportamento e necessidades de interação entre o grupo também devem ser levados em conta, além da vontade e disponibilidade em colaborar. “Para selecionar o monitor, é preciso levar em consideração o protagonismo dele perante a turma, mesmo que não seja positivo. Um aluno indisciplinado pode ser monitor justamente para que a responsabilidade ajude a reverter esse comportamento”, sugere Nathaly.

Depois que os alunos forem selecionados, e aceitaram o desafio, é preciso marcar uma reunião para explicar o que é esperado de um monitor e também fazer um estudo de reforço com o professor sobre os conteúdos que eles terão de trabalhar com os colegas. Sendo assim, também é preciso avaliar a disponibilidade de tempo de todos os envolvidos.

Durante o ano é sugerido que haja uma rotativa na monitoria, para que o máximo de alunos tenha essa oportunidade.

Organize os grupos de trabalho

O ideal é separar a turma em grupos de, no máximo, oito alunos (que pode ser menor caso haja necessidade). O professor deve ficar atento para que muitos alunos com dificuldades não estejam no mesmo grupo, para que o monitor não fique sobrecarregado.

Avalie os resultados

Além de avaliar os resultados gerais da turma, é preciso dar devolutivas específicas para quem desempenhou a monitoria. Não faltar, ser pontual, respeitar os colegas e se preparar bem para ajudar a turma são bons critérios para uma boa avaliação. 

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