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3 atitudes do gestor inovador

Romper com o autoritarismo é uma das estratégias importantes para garantir que as escolas respondam às demandas dos estudantes e da sociedade em que vivemos

POR:
Cláudio Neto
Precisamos adequar nossa maneira de gerir às características e às necessidades dos estudantes e da sociedade em que vivemos. Foto: GettyImages

"Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem." (Rosa Luxemburgo)

Atuando na Educação pública há quase três décadas – nos últimos dez anos como gestor escolar – e conciliando a carreira de educador com a de pesquisador, eu acho que posso me arriscar a concluir duas coisas: primeiro que a figura do gestor escolar é fundamental no quadro de profissionais da Educação, e segundo que o modelo clássico de escola não responde às exigências das crianças e jovens que ocupam hoje as salas de aula.

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Por isso, algo que ainda precisa ser devidamente compreendido pelos profissionais da área é que o papel clássico do gestor escolar deve ser repensado. Não há mais lugar para atitudes autoritárias voltadas para a fiscalização e para o controle de alunos e professores. A atitude da gestão escolar deve ser compatível com a natureza solidária do processo educativo.

Qual é o perfil do gestor da escola atual?

Em primeiro lugar, é importante entendermos que a gestão escolar é um campo de saberes que são necessários para organizar e implementar ações e promoção da aprendizagem. E todo gestor precisa agir com base em conhecimentos teóricos e metodológicos que possibilitem pensar como realizar essa tarefa. 

Em razão disso, é preciso romper com a velha dicotomia burocrático versus pedagógico, pois não é possível assumir uma ou outra característica separadamente. O que caracteriza um gestor adequado a nossa realidade atual é a capacidade de articular as dimensões administrativas e pedagógicas na sua prática cotidiana.

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Na minha visão, há três principais fatores sobre os quais os  gestores devem repensar sua ação:

1) O tipo de liderança

No universo escolar, já prevalece um certo consenso de que não há mais lugar para uma liderança centralizadora. Nos dias atuais, o gestor não pode ser quem decide tudo sozinho e dá ordens. Pelo contrário, o diálogo e o respeito são fundamentais para construir coletivamente uma proposta educacional consistente. Deve-se abandonar definitivamente o papel do diretor que manda e não considera a opinião do grupo. Ao contrário disso, assume-se uma liderança que tem a sua legitimidade fundada na democracia, voltada para a construção coletiva. O diretor discute, decide coletivamente e encaminha as decisões da equipe escolar.

2) A relação com o território.

A escola não é uma ilha distante e isolada da sociedade, principalmente do seu bairro e da cidade. O gestor assume a atitude de articular a relação com o entorno e além dele.

Cada vez mais, as escolas estão desenvolvendo estudos do meio e, com isso, estão proporcionando o conhecimento do que está além dos seus muros. Hoje em dia, não é tão raro encontrar um grupo de alunos e professores dentro de um ônibus, de um metro ou mesmo a pé pela cidade.

Na minha escola, por exemplo, nós contamos com o apoio do Instituto Corrida Amiga, uma ONG que apoia e ajuda a iniciar educadores e alunos nas saídas a pé pela cidade de São Paulo. Com isso, estudantes e professores exploram o território e fazem da escola e da cidade espaços de aprendizagem.

3) A concepção do processo de ensino-aprendizagem

A ideia clássica da escola centrada no ensino e no professor transmissor de conteúdo é a face mais ultrapassada de um processo educacional que ainda persiste em muitos lugares. A Educação hoje está assentada na concepção da escola como o lugar de aprender e onde alunos têm um papel ativo nesse processo.

Voltando à ideia do estudo do meio citada acima: essa experiência prima pelo movimento e pela descoberta. Isso, é claro, não significa deixar de lado nem as tradições, nem as inovações (uma outra falsa dicotomia muito comum). A escola é simultaneamente tradição e inovação, já que, como bem dizia Paulo Freire, “o velho e novo têm valor na medida em que são válidos”. Inovar a partir das boas tradições é uma das grandes funções da Educação.

O que faz um gestor atual

Esses três fatores resumem os processos que ocorrem em uma escola e que marcam a atuação da gestão. São as atitudes do diretor que vão determinar o tipo de trabalho a ser desenvolvido no dia a dia da escola e que indicam a natureza democrática ou autoritária da gestão. Além dos exemplos dados acima, podemos incluir:

- Ter uma atuação baseada em princípios e valores públicos;
- Apostar na autonomia e no protagonismo de alunos e professores;
- Pautar-se pela coerência, mesmo quanto o certo contraria a maioria;
- Saber que o limite da liberdade individual é a violação de direitos; 
- Ser um líder e não um chefe;
- Saber delegar funções e desconcentrar o poder;
- Exercer a autoridade fundada nos saberes do seu campo de atuação, no respeito e na solidariedade;

Dentre as coisas mais importantes da minha caminhada está a capacidade de aprender a sorrir e a chorar na exata medida dos meus colegas de trabalho. Alegrias e contratempos fazem parte da jornada de um gestor e tudo que importa é a convicção de estar no caminho certo. Esta certeza, no entanto, não nasce do personalismo e da arrogância de quem acha que sabe tudo, mas da consciência de que educar é um ato coletivo e da crença de que a escola deve ser democrática, inclusiva e transformadora.

Um abraço,

Cláudio Neto.

Cláudio Marques da Silva Neto é diretor da EMEF Infante Dom Henrique, em São Paulo. Tem experiência em direitos humanos, formação docente, cultura escolar, indisciplina, violência e gênero. É mestre e doutor em Educação pela Universidade de São Paulo (USP).

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