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Autoavaliação: modelos para Educação Infantil e anos iniciais

Entenda a importância de iniciar a reflexão sobre a aprendizagem desde pequenos e confira um modelo para download

POR:
Camila Zentner
Crédito: Getty Images

A importância da avaliação no processo de ensino-aprendizagem é amplamente discutida. No entanto, pouco se fala da autoavaliação. Conscientes ou não, estamos avaliando o outro o tempo todo, mas nem tão facilmente fazemos isso com nós mesmos – exatamente porque estamos habituados que o outro diga o que, em nós, está bom ou o que precisamos melhorar. É o movimento que passamos desde pequenos em provas, notas e outras avaliações. Porém, quem melhor poderia dizer sobre sua própria aprendizagem do que quem está vivendo ela?

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O objetivo da autoavaliação é exatamente inserir o aluno como parte ativa de seu processo de ensino e aprendizagem em todas as etapas, inclusive na avaliação. A prática promove ao aluno o desenvolvimento da autorregulação, que é a capacidade de gerenciar comportamentos, pensamentos e sentimentos, assumindo uma postura crítica, responsável e autônoma para com sua própria aprendizagem.

Na prática

Em nossa escola a autoavaliação é prevista no planejamento semanal dos professores e é desenvolvida da Educação Infantil até o Ensino Fundamental – as duas etapas que a nossa unidade abrange. Ela pode ser realizada ao final do dia, de uma semana ou quinzena de trabalho. Se, por exemplo, a turma segue sequências didáticas ou roteiros de estudo para desenvolver determinados conteúdos, a autoavaliação surge ao final do processo para avaliar, em conjunto com o professor, se o aluno alcançou todos os objetivos propostos para aquele período.

Para os pequenos

Na Educação Infantil, de forma lúdica, cada professor cria instrumentos para realizar o exercício da autoavaliação com as crianças desde pequenas. Pode ser com fichas, adesivos coloridos, fazendo “joinha” com as mãos, colocando pregadores em carinhas (como na imagem ao lado) etc. Neste último caso, semanalmente, o professor propõe um aspecto da aprendizagem que será avaliado, com o cuidado de não focar apenas nas atitudes – embora, nesta faixa etária, seja um tema para eles de mais fácil compreensão. Cada criança tem um pregador com seu nome e deve colocar em uma das carinhas que fazem alusão a um farol (sendo verde como uma avaliação positiva; amarelo como regular e vermelha, negativa). O aluno coloca o pregador na cor em que se avalia durante a semana.

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É importante que o professor tenha o cuidado para que a criança não permaneça sempre em uma avaliação negativa. Por exemplo, se você analisa toda semana um mesmo aspecto na autoavaliação (como a relação entre os colegas) e existem crianças com essa dificuldade, é preciso saber que elas poderão seguir por várias semanas com a mesma avaliação. Mesmo que se esforcem para melhorar, às vezes, levam um tempo maior para alcançar uma mudança de comportamento. Por isso, é importante propor outros pontos para serem analisados na autoavaliação. Dessa forma, todo mundo se destaca em alguma coisa e tem avaliações positivas a respeito de si também, o que proporciona o bom desenvolvimento da autoimagem.

A organização do material ou brinquedos da sala, a participação nas brincadeiras, na roda de histórias ou no projeto são algumas das variáveis possíveis para análise. Lembrando que a autoavaliação na Educação Infantil é sempre acompanhada por uma roda de conversa, buscando fazer deste um momento de reflexão entre os pequenos. Jamais pode ter caráter punitivo ou de julgamento por parte dos colegas e do professor. Estabelecer um ambiente amistoso e de confiança durante a autoavaliação é essencial.

Para os anos iniciais

Nos primeiros anos do Ensino Fundamental, a autoavaliação pode começar também pelas carinhas, que podem ser desenhadas na lousa ou em folhas impressas e são selecionadas pelos alunos para ilustrar o sentimento de cada um frente ao período de trabalho determinado, considerando alguns aspectos levantados pelo professor. O cumprimento dos prazos na entrega das lições de casa, o estudo da semana sobre multiplicação e a colaboração com os colegas são alguns exemplos de aspectos abordados na autoavaliação. Lembre-se de que o professor precisa deixar claro para turma o que será avaliado e o ideal é que a definição dos critérios da autoavaliação seja feita de forma coletiva.

Ao longo da Educação Básica

O instrumento vai se ampliando ao longo dos anos que a criança está na escola: da identificação por carinhas, a autoavaliação passa para um quadro com opções para pintar ou assinalar, até chegar a pequenos formulários para a escrita do aluno sobre seu processo de ensino-aprendizagem. Clicando aqui, você confere um modelo de autoavaliação elaborado por dois professores que, na época, atuavam no 4º e 5º ano da nossa escola. No Ensino Fundamental, a autoavaliação pode ser feita de forma dialogada em rodas de conversa ou com preenchimento individual para posterior anotação do professor e conversa com cada aluno. O acompanhamento e a intervenção do professor tem total importância nesse processo. Não basta somente ao aluno detectar suas dificuldades, é preciso estabelecer junto ao seu parceiro mais experiente, no caso o professor, as ações necessárias para avançar.

Para realizar todo esse trabalho, nossa escola se inspirou na Escola da Ponte, famosa instituição escolar localizada em Vila das Aves, em Portugal, e que tem a autoavaliação como uma prática constante e necessária para o projeto que desenvolvem. No livro “Escola da Ponte: uma escola pública em debate”, pesquisadoras brasileiras que ficaram em imersão na instituição por alguns meses relataram como é realizado esse trabalho:

 “Ao final de cada dia, as crianças fazem a avaliação do que foi feito, o que estabelece maior coerência: planejou, avaliou. Para todo ‘plano do dia’ acontece uma autoavaliação, para que eles tenham a dimensão das intenções cumpridas, ou não. Além das avaliações do dia, tem a avaliação da quinzena, naquela eles registram: O que aprendi nesta quinzena? O que mais gostei de aprender nesta quinzena? Mas ainda não aprendi a... Por quê? Outros projetos que gostaria de desenvolver...”.

As pesquisadoras ainda destacam que, por ser uma atividade complexa, precisa ser praticada cotidianamente, pois ensina a necessidade da reflexão no processo de construção do conhecimento. Apesar dos exemplos, cada escola deve procurar o seu jeito próprio de fazer a autoavaliação das crianças, de acordo com o projeto político-pedagógico (PPP). No entanto, os princípios devem ser sempre os mesmos a nortear esse urgente e fundamental trabalho: colocar o aluno como coparticipante de seu processo de ensino-aprendizagem, incluindo sua avaliação e dando-lhes a oportunidade de exercer seu olhar crítico para si e para o mundo ao seu redor.

Um abraço,

Camila Zentner

Camila Zentner Tesche é formada em Pedagogia com especialização em Educação Infantil pela Universidade de São Paulo (USP) e está na coordenação pedagógica da Escola da Prefeitura de Guarulhos Manuel Bandeira há 10 anos. A EPG atende a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I e, desde 2015, faz parte do mapa de escolas inovadoras do MEC.

PARA SABER MAIS:

“Escola da Ponte: Uma escola pública em debate”, de José Pacheco e Maria de Fátima Pacheco. – São Paulo: Cortez, 2015.
“A importância da autoavaliação do aluno no processo de ensino e aprendizagem”

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