Evasão escolar: como identificar os sinais de que o aluno vai largar a escola (e o que fazer para que ele volte)
Prestando atenção aos sinais, é possível trabalhar juntamente com a família para que o aluno retome as aulas e encontre significado na escola
POR: Marlucia BrandãoQuando estamos em um lugar onde não nos sentimos bem ou que não faz muito sentido para nossa vida, nasce em nós um desejo imenso de sair correndo dali. Algumas vezes, tomamos a decisão de sair mesmo, mas outras permanecemos para agradar alguém. Na escola não é diferente.
Se analisarmos bem, vamos perceber que o abandono escolar tem seu ápice nos anos finais do Ensino Fundamental II e no Ensino Médio, coincidindo justamente com o período de grandes transformações físicas e emocionais que acompanha a adolescência.
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Encarar essa fase da adolescência dentro da escola é um grande desafio para todos, principalmente para os próprios alunos. Chegamos a considerá-la uma espécie de “novo nascimento”. Entendemos que alunos nessa fase enfrentam um processo de amadurecimento físico e emocional importantíssimo e a maioria das experiências vividas nesse período inclui o desenvolvimento da identidade, da independência social e econômica e da aquisição das competências necessárias para relacionar-se consigo e com o outro. Muitos abandonam a escola no intuito de conquistar coisas que julgam necessárias: roupas, sapatos, celular, entre outros.
Para entender bem o fantasma da evasão escolar que ainda hoje assombra nossas escolas, precisamos, antes de tudo, enxergar a Educação Básica como um todo e não como períodos fragmentados. Estamos falando de 14 anos de estudo, às vezes vividos em quatro escolas diferentes.
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Dos 4 aos 17 anos, a criança e depois o adolescente passa por grandes transformações. Para que esse aluno permaneça na escola, algo a mais deve ser agregado ao ato de ensinar e aprender. O aluno precisa estar sempre motivado a seguir em frente e a acreditar que esse tempo escolar é de suma importância para a sua vida adulta.
A escola do século XX na qual eu e milhões de brasileiros estudaram era um dos poucos lugares que tínhamos para ir – e a tecnologia, hoje disponibilizada, era apenas um sonho distante. Atualmente, a escola disputa a atenção do aluno com uma tecnologia avançada e ao alcance da mão, com uma diversidade absurda de possibilidades.
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Nesse contexto do século XXI, é preciso que a escola se reinvente e se transforme em um espaço significativo para o aluno, no qual ele tenha prazer de estar e estudar. E que esse mesmo aluno se torne protagonista dentro do seu processo de ensino-aprendizagem, começando desde a Educação Infantil e prosseguindo até o Ensino Médio.
A escola precisa sempre rever a sua prática e entender que não dá mais para ofertar uma Educação do século passado ao aluno do século XXI e que ela precisa, urgentemente, reescrever sua história para cada segmento.
Vocês que acompanham os posts do Blog Direção sabem que “estou” gestora da EMEIEF Boa Vista do Sul em Marataízes, no Espírito Santo, e que nossa escola oferta desde a Educação Infantil até o 9º ano do Fundamental. O nosso maior desafio era o alto índice de reprovação e a evasão escolar. Perdíamos nossos adolescentes para a pesca e/ou o trabalho na lavoura e as nossas meninas para os relacionamentos juvenis – elas fugiam do dia para a noite com seus namorados e abandonavam a escola –, fato considerado “normal” pelas famílias e pela comunidade local.
Desde 2017 estamos empenhados – toda a equipe escolar – em transformar a escola em um espaço real de aprendizagem, do qual o aluno sinta prazer de fazer parte.
Os alunos não abandonam os estudos de forma repentina. É possível perceber três principais sinais de que o aluno está ficando desinteressado pela vida escolar:
- a atenção do aluno em sala diminui bastante, ficando alheio a tudo;
- o aluno deixa de fazer os deveres de casa;
- as faltas tornam-se frequentes.
O corpo docente deve estar sempre atento a esses sinais e assim que percebê-los, se mobilizar de várias maneiras:
- os professores devem sinalizar a ausência do aluno ao pedagogo;
- o pedagogo deve ligar imediatamente para a família do aluno.
E se a falta persistir por mais de três dias sem justificativa médica, os responsáveis devem ser convidados à escola pela direção para uma conversa franca e direta sobre suas responsabilidades e sobre a importância de lutarem juntos para que o aluno volte às suas atividades escolares.
E para que esse aluno retorne e fique na escola, é importante criar mecanismos para que a escola se torne um espaço transformador, capaz de empoderar o aluno, para que ele sinta o desejo e a necessidade de permanecer nesse local, vendo-o como um espaço rico em possibilidades e ali continue construindo sua história.
Um abraço,
Marlucia Brandão
Diretora da EMEIEF Boa Vista do Sul, em Marataízes-ES, desde 2016, e professora de Língua Portuguesa, com especialização em Linguística Aplicada ao Português, Psicopedagogia Institucional e Ciências da Educação. Deu aulas em todas as etapas, da alfabetização à Educação de Jovens e Adultos (EJA). Também foi Secretária de Educação de Marataízes entre 2011 e 2012.
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