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Como manter os estudantes interessados

Veja como o coordenador pode desfazer tensões e estabelecer o diálogo entre alunos e professores

POR:
Ewerton de Souza
Estudante em sala de aula com lousa ao fundo, com mão na cabeça e lápis na mão, visivelmente entediado, olha para a câmera
Foto: Getty Images

Certamente uma das dificuldades que os educadores lidam cotidianamente na escola consiste no envolvimento dos estudantes nas atividades que lhe são propostas. Muitas vezes, a angústia de vê-los interessados nas aulas e participantes dos processos de aprendizagem nos fazem crer que nada lhes interessa. No entanto, cabe-nos perguntar: será que estamos falando a mesma língua que eles? Como torná-los interessados nos conteúdos que a escola obrigatoriamente deve oferecer?

Creio que estamos diante de um problema principalmente de comunicação. Dentre os muitos pressupostos referentes à arte de se comunicar, um dos mais importantes é conhecer o interlocutor, aquele para quem eu destino a mensagem. Saber quem são meus educandos, do que eles gostam, o que lhes motiva e o que lhes preocupa é fundamental para iniciar um processo comunicativo que resultará em aprendizagens significativas.

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O problema é que, muitas vezes, a diferença geracional, origens culturais diversas e o processo de formação docente, entre outros, afastam professores e estudantes e geram ruídos e barreiras no ato comunicacional que é parte essencial do processo de ensino e aprendizagem. Diante desse desafio, podemos nos perguntar como o Coordenador Pedagógico pode atuar junto à equipe docente para derrubar essas barreiras, solucionar esses ruídos e propiciar aos professores experiências que lhes permitam conhecer os educandos?

Sem dúvida a atuação do Coordenador Pedagógico será valiosa durante os processos formativos se este conseguir proporcionar experiências que façam seus pares imergirem na realidade das crianças e jovens da escola para compreender o meio social de onde eles vêm e a cultura que lhes é subjacente.

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Primeiro passo? O Coordenador Pedagógico precisa ele mesmo colocar-se em contato com as crianças e jovens, conhecê-los, a fim de que possa elaborar estratégias que propiciem aos professores essas experiências. Mas como? Com certeza observar é imprescindível. O Coordenador Pedagógico já se encontra frequentemente em contato com os educandos no apoio que lhes presta diante de suas dificuldades de aprendizagem, na articulação da proposta pedagógica. Aqui a questão é afinar a sensibilidade para perceber quais são os valores que estão presentes nos estudantes, bem como suas predileções, expectativas, angústias. Isso acontece tanto nos atendimentos aos educandos quanto em momentos de descontração como atividades observadas junto aos professores, intervalos, festas...

Outra observação importante para o Coordenador Pedagógico é perceber como se dão as relações entre professores e estudantes. O que os educadores lhe relatam? Como percebem seus alunos? O que lhes incomoda nas atitudes tomadas por eles? Isso pode revelar muito sobre qual é a imagem que os educadores têm dos educandos e, por conseguinte, perceber que valores estão em jogo no conflito entre uns e outros.

Desarmando professores

Uma vez conhecedor das crianças e jovens, bem como de seus professores, o Coordenador Pedagógico pode pensar em momentos durante as jornadas formativas para proporcionar essas experiências ao grupo. No entanto, o primeiro exercício fundamental a esse processo de conhecimento dos educandos é gerar na equipe uma postura de escuta. É necessário desarmar os professores, desconstruir visões distorcidas que tenham dos educandos. Permitir-lhes compreender que a aprendizagem somente acontece quando há parceria – talvez cumplicidade – entre aqueles que ensinam e aqueles que aprendem. Desfazer tensões é urgente para um processo de ensino e aprendizagem bem-sucedido.

Essa postura de escuta à qual aludi pressupõe uma disposição por parte do educador em realmente ouvir o educando. Escutar é atitude de respeito para com o outro. Nesse sentido, para sensibilizar os ouvidos dos professores para a escuta de seus alunos, podem ajudar a exposição a textos, documentários, filmes, músicas que versem sobre as culturas infantis e/ou juvenis que estão implicadas, inclusive, com materiais colhidos dos próprios estudantes. Aproveito para relatar algumas estratégias que possam ajudar neste processo de conhecimento dos educandos:

  • Mediar rodas de conversas com os estudantes sobre temáticas que lhes interessam, sobre questões de aprendizagem e possibilitar que dois ou três professores participem, por vez, desses momentos pode proporcionar aos docentes a compreensão da imagem que as crianças e jovens têm da escola;
  • Realizar imersões no território convidando um ou outro educando para que mostre a comunidade aos seus professores durante as jornadas formativas pode desenvolver na equipe uma percepção mais cuidada das vulnerabilidades e dos riscos aos quais os educandos estão expostos no seu cotidiano, mas também pode favorecer a percepção das relações afetivas que as crianças e os jovens desenvolvem em relação aos espaços da comunidade;
  • Estimular os professores a desenvolver certas atividades combinadas para escutar suas turmas e depois compartilhar suas impressões com o coletivo docente pode contribuir para a compreensão dos perfis dos estudantes da comunidade escolar;
  • Sugerir momentos em que professores e educandos possam interagir em espaços de descontração e, quem sabe, atuar juntos em momentos lúdicos pode estreitar os laços e favorecer o conhecimento mútuo e a geração de empatia entre esses sujeitos.

Há muitas outras possibilidades que desafiam a imaginação do coordenador pedagógico, mas nem sempre precisam ser grandiosas ou exigir exaustivas preparações. Recordo-me, quando ainda atuava em sala de aula, que tinha o costume de proporcionar como atividade inicial aos meus estudantes a brincadeira, à época muito comum entre eles, de responder a cadernos de enquete. Por meio daqueles cadernos eu passava a conhecer seus gostos, suas expectativas, suas opiniões... Atividades similares são possíveis hoje, por exemplo, utilizando as redes sociais.

O objetivo desse processo de conhecimento não é permanecer estagnado em atividades que agradem aos estudantes, mas que não lhes proporcionem imergir em realidades sociais e culturais que eles desconhecem. Pelo contrário, a intenção desta ação de escuta respeitosa e de conhecimento dos estudantes é criar espaço de diálogo entre professor e aluno nos quais, partindo dos saberes e da realidade dessas crianças e jovens, possa-se identificar pontes que farão conexão aos conteúdos escolares que devem ser oferecidos pela escola. Seria um erro fatal deixar os educandos restritos ao seu mundo sem lhes abrir as portas de novos conhecimentos, mas, por outro lado, fazê-lo sem considerar a riqueza de suas subjetividades seria propor um processo de ensino – e só de ensino – que desconsideraria a riqueza humana que trazem consigo.

Ewerton Fernandes de Souza é coordenador geral no CIEJA Clóvis Caitano Miquelazzo, escola da prefeitura de São Paulo que lida exclusivamente com Educação de Jovens e Adultos, especialmente na faixa etária dos 15 aos 18 anos. Foi um dos 50 finalistas do Prêmio Educador Nota 10 de 2017.

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