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Como organizar atividades no contraturno escolar e ajudar no aprendizado

Estenda o período de aulas para alunos com dificuldades e evite um problema maior no final do ano

POR:
Nairim Bernardo
Aluna sentada em uma carteira recebe orientações do professor, os dois estão em segundo plano, com o primeiro plano desfocado
Foto: Getty Images

Você já desejou que seu dia durasse mais do que 24 horas, para que conseguisse fazer tudo o que precisa? Pois, assim como você, muitos alunos precisam apenas de um pouco mais de tempo para conseguir aprender os conteúdos propostos. Aplicar aulas de reforço no contraturno escolar e trazer para elas uma nova abordagem didática pode ser uma opção para ajudar quem está com baixo desempenho a se recuperar antes do fim do ano.

A Escola Maria Yêdda Frota está localizada na cidade cearense de Sobral (CE) e, assim como outras da rede, oferece atividades de recuperação e reforço no contraturno. A iniciativa faz parte do projeto-político-pedagógico da escola e acontece durante todo o período letivo. “No início do ano, fazemos o diagnóstico inicial das crianças e identificamos as que têm alguma dificuldade, seja na área que for”, conta Domingos Sávio Ferreira, diretor da escola. “Na sequência, conversamos com eles e com as famílias sobre a possibilidade de aplicação do reforço escolar no contraturno”. Participam do projeto alunos de todos os anos da escola, que atende do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, e as turmas são formadas não necessariamente pela idade, mas de acordo com as habilidades e competências que eles ainda não dominam.

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São incluídos nesse trabalho os professores substitutos, professores de apoio e os docentes que têm carga horária diária de 8 horas. Os professores que dão aula no período regular geralmente não ficam com os mesmos alunos no contraturno. Todos eles recebem acompanhamento constante das três coordenadoras pedagógicas da escola. No contraturno, as crianças têm aula durante o período completo e realizam suas atividades em diversos espaços disponíveis: sala de leitura, refeitório e quadra.

“Nosso foco é consolidar a aprendizagem através de um momento de reforço e qualificação do ensino. E percebemos os resultados quando aplicamos as avaliações gerais ao final de todos os meses, os resultados são claros”, conta o diretor Domingos. “O 3º e o 4º bimestre não podem servir para punir um estudante, eles têm que ser uma continuidade do processo de aprendizagem. Aqui, temos várias estratégias motivacionais para os alunos compreenderem que ainda não acabou, que dá tempo de aprender. A equipe é comprometida, acolhemos bem as famílias, fazemos acompanhamento da frequência, das tarefas, dos resultados de aprendizagem, aplicamos as atividades no contraturno. A escola está localizada numa região de alta vulnerabilidade social, mas fico feliz em dizer que as crianças aprendem”.

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E você, também está pensando em oferecer aulas de reforço na sua escola? GESTÃO ESCOLAR está fazendo uma série de matérias sobre o terceiro bimestre e formas de recuperar o desempenho escolar dos alunos antes que o encerramento do ano traga a notícia de uma reprovação. Veja abaixo algumas dicas de como promover atividades no contraturno:

Selecione os participantes e faça grupos pequenos

Para saber quais alunos precisam participar dessas atividades é preciso primeiro compreender quais exatamente são suas necessidades, o que deve ser feito a partir de um acompanhamento sistemático de seu desempenho. “É importante estar atento a todos os períodos de avaliação: sala de aula, atividades, provas, pré-conselhos e conselho, para conseguirmos traçar quais as dificuldades das crianças e agrupá-las conforme suas necessidades aproximadas”, diz Muriele Massucato, coordenadora pedagógica da rede municipal de São Bernardo do Campo (SP). Segundo ela, o objetivo é que os grupos sejam concisos para que o professor consiga trabalhar os conteúdos de modo mais focado. Sendo assim, recomenda-se que uma turma de reforço seja composta por até 15 alunos.  

Professores e gestores precisam estar bem alinhados

Definir quem ficará responsável pelas aulas do contraturno dependerá de quais profissionais estão disponíveis na sua escola e em quais períodos. É altamente recomendado que o professor do reforço não seja o mesmo que dá aulas para aquela criança no período regular, pois um docente com formas diferentes de ensinar terá mais chances de atingir suas necessidades. Entretanto, Muriele adverte sobre esse ponto, “O professor do período regular tem que manter a responsabilidade sobre o aluno e continuar se esforçando em ensiná-lo, não pode achar que tudo fica a cargo do professor do contraturno. O período regular também precisa trazer propostas para ajudar o aluno”.

É bastante importante também que o planejamento de aulas seja de autoria do docente que irá executá-las. Tudo precisa ser feito em parceria com a coordenação, que deverá manter o vínculo entre o que o aluno está estudando e quais conteúdos precisam ser reforçados.

Planeje o roteiro de atividades

O coordenador pedagógico é essencial no planejamento das aulas. Ele ajudará o professor a montar uma sequência didática em que as aulas se liguem e que traga a proposta de gradação das dificuldades. Antes de começar a executar a sequência, o professor já precisa saber quais são seus objetivos e onde quer chegar. Esses objetivos serão definidos com base no desempenho que o aluno apresentou nas avaliações, no que era esperado e no que é possível conseguir.

Além disso, “é bem importante que essa aula não seja uma repetição do que já foi visto no turno regular. As dificuldades têm que ser sanadas com outra abordagem”, esclarece Muriele. “Ter aula em dois turnos deixa as crianças cansadas, por isso orientamos que seja uma abordagem mais lúdica e prazerosa para melhores resultados”.

Em alguns casos, quando o aluno está com um desempenho ruim em muitas disciplinas e conteúdos, não será possível sanar todas as dificuldades ao mesmo tempo. Portanto, a solução é que coordenadores e professores do período regular priorizem o que deve ser trabalhado na recuperação.

Converse com os alunos

Suely dos Santos Pereira é professora e ficou responsável pelas atividades de apoio escolar por cinco anos na EMEF Professora Célia Regina Andery Braga, localizada no bairro de Cidade Tiradentes, extremo da Zona Leste da capital paulista.  Ela conta que trabalhava com turmas do 4º ao 9º ano e tinha o objetivo inicial de fazer atividades de reforço em Língua Portuguesa e Matemática. “Mas eu percebia que os alunos não frequentavam muito essas aulas. Para reverter essa situação, fui conversando com eles e, além do reforço, começamos a desenvolver projetos sobre temas pelos quais eles se interessavam, como bullying, por exemplo.”

Para atrair os alunos a escola também tinha o cuidado de não marcar as aulas no mesmo horário em que os alunos participavam de outros projetos extracurriculares. Portanto, principalmente se estabelecidas no decorrer do ano, procure fazer com que as atividades no contraturno não entrem em conflito com outras de interesse dos alunos.

Ao longo do trabalho a professora conta que percebeu que o material didático que a escola tinha disponível também não agradava muito a turma, por isso, procurava fazer adaptações. “Além de ter uma parceria muito grande com a coordenadora, eu fazia muitas pesquisas na internet e sondava muito o que eles gostavam e precisavam para que eu pudesse trazer materiais que resolvessem alguns problemas relacionados à aprendizagem”, comenta a professora. 

Organize a logística

Cabe à gestão pensar nas questões logísticas para realização de aulas no contraturno. Existe uma sala de aula disponível na escola ou será preciso adaptar outro espaço? Também é importante estabelecer como esses alunos virão para essas aulas: se ficarem direto de um período para o outro é necessário oferecer um descanso. Do contrário, converse com a família para saber se haverá alguém para buscá-lo e levá-lo de volta. 

Outra questão bastante importante diz respeito à alimentação, cuja distribuição não depende só da escola. “A maioria dos alunos almoça em casa e volta para as aulas, mas temos alguns que, por morarem longe, almoçam na escola. Precisamos contar quantos eram e explicamos a situação para a Secretaria de Educação, que nos repassa a merenda”, explica o diretor Domingos.

Entenda e desfaça a resistência

Suely traz uma reflexão sobre as atividades de recuperação, “Geralmente, os participantes são alunos com histórias familiares e trajetórias escolares muito difíceis que acabam dificultando a aprendizagem. O educador tem que estar preparado profissional e psicologicamente para estar de braços abertos e entender que essas crianças precisam muito dele”. Ela conta que, em alguns casos, a primeira dificuldade era fazer com que os alunos frequentassem as aulas, já que tinham vergonha de precisar participar das atividades. “Fizemos uma votação com os alunos para escolher um nome que eles gostassem mais, tiramos as palavras “recuperação” e “reforço” do nome dessas aulas e ficou “Grupo de Estudos do Célia””.

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