Conforme eu havia prometido para vocês no post anterior, hoje vou explicar o passo a passo de uma reunião de tematização da prática, com foco na Educação Infantil. Na EI, as crianças estão adquirindo diversas competências comunicativas, então, a roda de conversa diária, se faz necessária. Disponibilizo para aqui vocês um documento com os objetivos e as orientações didáticas da roda de conversa.
Observando as salas de aula, me dei conta de que esse momento muitas vezes estava sendo usado pelo professor para dar sermão nas crianças, às vezes apenas para explicar uma atividade ou ainda para que a participação das crianças fosse apenas respondendo em coro aquilo que se espera delas: “Quem gosta de ir fazer pintura na parede de azulejo?” “Eu!!!”, “E pode pintar em cima do trabalho do amigo?” “Não!” e assim por diante.
Outra situação comum era a coibição da fala dos pequenos que pareciam ‘fugir’ do assunto definido pelo professor. Ora, se na vida real nós mudamos de assunto a todo momento porque as crianças não podem? Talvez porque nós ‘marcamos ’ as nossas fugidas; “falando em lavar o carro lembrei que preciso ligar para minha irmã.” Fazemos isso o tempo todo porque uma palavra nos faz lembrar de algo e com as crianças não é diferente, apenas ainda não aprenderam a sinalizar que estão de fato se lembrando de outra coisa.
Tendo isso em vista pesquisei e estudei mais sobre o assunto, selecionei textos que fundamentassem teoricamente e combinei com uma professora que filmaria sua roda de conversa, é claro que a escolha não é aleatória, é sempre o melhor exemplo possível e ajudamos a planejar para ficar ainda melhor. A filmagem deve ter no máximo 15 minutos.
A tematização em si
Com a filmagem pronta, primeiramente assisti apenas com a professora que foi filmada, emrespeito e para que ela se visse primeiramente. Assisti mais 3 vezes para elaborar 3 ou 4 questões que remetessem ao conteúdo que deveria ser evidenciado. Em 2 encontros de formação lemos o texto “A conversa na escola” (do livro Como dialogar com los ninõs, El lenguage infantil: Sus funciones de Joan Tough da editora El Ateneo), a escolha desse texto foi em função de ser um relato analítico de conversas em classes de infantil, e de cara interessou e instigou os professores. É fundamental que estes estejam mobilizados para o conteúdo que será tematizado.
No encontro com os professores, escrevi as questões na lousa para que eles soubessem o que observar no vídeo, organizei o grupo em 3 duplas e 1 trio considerando seus saberes e interação. A principal questão era ‘Que intervenções e em quais momentos a professora poderia ter efetuado para potencializar a participação oral das crianças?’ Cada grupo tinha que refletir a partir do vídeo e registrar sua resposta em 1 cartolina. Fixamos as 4 cartolinas na lousa e líamos as respostas num processo de análise e dialética. Escolhíamos a que estava mais completa e por vezes ainda acrescentávamos mais detalhes para ficar ainda mais esclarecedora.
Porque tem que ser em duplas ou trios primeiro? A aprendizagem se dá pela interação e negociação com o saber do outro e ter que escrever eu preciso me mobilizar cognitivamente para convencer ou explicitar para o outro. Quando temos que selecionar qual seria a resposta mais adequada é preciso compreender o ponto de vista e os conteúdos focados pelo outro novamente num processo de debate e reflexão, sempre alicerçado pela teoria.
No encontro de formação seguinte lemos o texto “As Rodas de Conversa” (de Regina Scarpa) que explicita os diferentes tipos de roda que acontecem na escola e analisa um bom modelo onde professor e crianças realmente conversam como na vida social real. Resultado? As rodas de conversa em sala de aula passaram a acontecer de fato!
E como andam as rodas de conversa na sua escola? Você tem feito observações nas salas de aula para saber se elas são feitas diariamente?