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13 coisas que ninguém te conta sobre ser gestor na Educação Infantil

Três gestoras contam como a dinâmica do dia a dia na Educação Infantil é cheia de surpresas

POR:
Dimítria Coutinho
Crédito: Getty Images

Todo mundo pode ter uma ideia do que faz um gestor de Educação Infantil, mas algumas coisas ninguém imagina que vá passar até, de fato, se tornar um. Quem garante isso são as gestoras Eni Pereira de Souza, Leninha Ruiz e Laudicea de Barros Leite Pereira.

Eni é diretora de Educação Infantil há 20 anos e, hoje, atua na EMEI Armando de Arruda Pereira, na capital de São Paulo. Leninha Ruiz é professora no Instituto Vera Cruz e já foi coordenadora de Educação Infantil por 15 anos em São José dos Campos, no interior de São Paulo. Também de São José dos Campos, Laudicea é orientadora pedagógica na NEI Profa. Marianita de Oliveira Pereira Santos, cargo com o qual tem contato há mais de 25 anos.

"A gente dorme professora e acorda orientadora pedagógica sem nenhum curso preparatório, não tem um manualzinho", resume Laudicea. Por isso, há muitas descobertas ao longo da trajetória como gestora escolar. Abaixo, trazemos algumas das surpresas que elas encontraram ao se tornarem gestoras na Educação Infantil:

1. Você acha que sabe o que é uma criança arteira, até assumir a gestão em Educação Infantil

Se você acha que sabe o que é uma criança arteira, espere até começar a receber casos diários na sua sala. Leninha conta que algumas crianças fazem coisas tão inimagináveis que até as professoras ficam abaladas. E, claro, sobra para a gestora lidar com a situação. “Uma vez, uma professora chegou na minha sala com um monte de cabelo na mão. Um aluninho dela, de 4 ou 5 anos, tinha arrancado um tanto de cabelo de uma outra criança. A professora chegou branca e tremendo”, lembra Leninha.

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2. Em muitos momentos, a escola se transforma em pronto-socorro de crianças machucadas

Com tanta criança em um mesmo espaço, é normal que acidentes aconteçam e os pequenos acabem se machucando. “São situações que você age meio como um pronto-socorro com crianças pequenas”, brinca Leninha. Ela lembra de dois casos mais graves: em um, um menino bateu a cabeça no vidro e o quebrou com a testa; em outro, duas crianças se trombaram e uma acabou com a orelha cortada. Nessas horas, apesar do coração apertado, ela afirma: “tem que ter sangue frio”. “A diretora que trabalhava comigo passava mal de ver criança com sangue, e eu tinha mais tranquilidade”, lembra. Além do sangue frio, Leninha diz que é preciso conhecer bastante o protocolo da escola para casos como esses - seja ligar para os pais ou prestar atendimento, por exemplo - para não deixar a decisão para a hora do desespero.

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3. Os pais das crianças vão ser seus parceiros
Em comparação com as outras etapas de ensino, os pais e responsáveis com filhos nessa etapa de ensino são muito mais próximos das atividades escolares. Como seus filhos estão iniciando essa caminhada educacional, no geral, eles têm muito mais interesse em acompanhar de perto tudo o que acontece com os pequenos. E isso tende a ser bastante positivo. “A relação é muito mais forte, os pais são mais presentes. Eles querem ajudar, criam um vínculo com a professora, que é bem diferente dos anos posteriores e ajuda bastante”, conta Leninha. Eni conta que, na escola que trabalhava anteriormente, os pais compareciam em peso nas reuniões, o que era bastante positivo. Agora, ela também tem uma relação bem interessante com os responsáveis. Como a escola que Eni trabalha realiza muitos passeios com as crianças, os pais também são convidados a participar – o que aumenta ainda mais essa relação de parceria com a escola.

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4. Apesar de parceiros, alguns pais vão extrapolar os limites de superproteção
Apesar do lado positivo dessa aproximação dos pais, alguns acabam sendo superprotetores. Nesses casos, eles tendem a achar que a escola também deve agir dessa maneira, o que pode gerar alguns conflitos. “Quanto mais superprotetora a mãe, parece que atrai: acontece tudo com a criança”, brinca Laudicea. A orientadora lembra de uma mãe que tinha muito medo do filho se machucar. Um dia, ele caiu, bateu a testa e ficou com um galo bem grande. A mãe ficou muito brava e foi até a escola. “Ela falou para mim: eu quero que na hora do parque vocês amarrem ele na cadeira, porque eu não quero que ele brinque, porque eu não quero que ele se machuque”, conta Laudicea. Claro que não foi o que aconteceu...

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5. Em um universo tão cheio de crianças, você vai estranhar a quantidade de problemas entre adultos que precisa resolver
Além de resolver problemas que dizem respeito ao mundo das crianças, também faz parte da função do gestor lidar com eventuais problemas que possam surgir dentro da equipe de funcionários. “É papel do gestor promover a interação e criar um clima bom, e isso é uma dificuldade. Quando se fala em gestão de escola, parece que vai cuidar só do projeto político pedagógico, do relacionamento com as famílias, mas não é assim. Acho que lidar com a gestão de pessoas é algo a aprender”, opina Leninha. Tanto ela, quanto Laudicea garantem que não são poucos os conflitos a serem geridos. Alguns exemplos que elas citam são grupos fechados de professores, conflitos entre funcionários e educadores e professoras que são grosseiras com as crianças.

Laudicea lembra de um caso específico que chamou muito sua atenção. “Tinha uma funcionária que as colegas incentivavam que ela fosse extremamente austera com as crianças, com gritos e ameaças”, relembra. “Apesar de incentivar esse comportamento, depois falavam mal por trás. E para as crianças, elas falavam: olha, se você não obedecer, vou te mandar para a sala da fulana, a fulana vai conversar com você. Então, as crianças morriam de medo dessa pessoa”. Em situações como essa, Laudicea diz que cabe ao gestor conversar com todas as partes e encontrar a melhor solução para a situação, fazendo realmente a gestão do conflito.

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6. 
E, às vezes, você vai passar mais tempo com adultos do que com crianças
Se você escolheu sua profissão porque ama lidar com crianças, saiba que, na gestão em Educação Infantil, você pode acabar passando mais tempo com adultos do que com os pequenos. “Na direção, o contato com as crianças acaba diminuindo”, confessa Eni. Leninha conta que, enquanto coordenadora pedagógica, ela atuava muito na formação de professores e, portanto, passava grande parte do seu tempo dedicada a isso. Apesar de ser fã do contato com os pequenos, ela diz que a tarefa com os adultos também é muito importante para que o trabalho realizado com as crianças seja o melhor possível. “A gente aprende também a gostar muito desse trabalho de formação do adulto. Eu sou encantada com isso, acho super bacana atuar com essa questão, conquistar as professoras, fazer um trabalho para fazer valer a concepção de aprendizagem que a gente tem”, afirma Leninha.

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7. 
Nem sempre os colegas entenderão suas decisões

Muitos acham que gestor é a pessoa que manda e desmanda quando quiser. Mas, na prática, pode ser difícil tomar decisões que não são apoiadas pelos colegas. Laudicea conta que, muitas vezes, os funcionários da creche cobram decisões da equipe gestora sobre determinados assuntos mas, quando a decisão chega, eles nem sempre reagem de forma positiva. E aí cabe ao gestor ter convicção da sua decisão e coragem para mantê-la.

Ela se recorda de uma situação com uma determinada funcionária que vinha apresentando problemas de comportamento, e muitos colegas vinham cobrar que a equipe gestora tomasse uma atitude. Quando Laudicea decidiu transferir a funcionária, a reação não foi tão positiva quanto ela esperava. “Algumas pessoas vinham me procurar, chateadas, dizendo: nossa, mas você vai transferir a fulana, você não tem coração? E era uma coisa muito louca, porque do mesmo jeito que elas sabiam que aquela pessoa não tinha condição de ficar mais naquela função, elas achavam também que não era certo, porque isso ia prejudicar a pessoa”, relata a orientadora. “O grupo cobra uma ação, mas quando você toma a atitude, o grupo fica também receoso, não fica confortável com isso”.

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8. Você vai ter que ser muito, mas muito próximo dos professores
Se a função de gestor pode parecer, muitas vezes, independente do restante dos funcionários, isso é mera impressão. O tempo todo, é preciso estar próximo dos professores, que podem dar informações valiosas sobre as crianças. Leninha conta que o gestor tem que estar atento a tudo o que acontece com as crianças e, para isso, os professores são grandes aliados. Segundo ela, às vezes, os pais chegam na escola em busca de informações a respeito de algum acontecimento envolvendo o filho e, se o gestor não tiver um bom relacionamento com os professores, ele não consegue passar confiança para aquele pai.

Além disso, Laudicea aponta que, com tantas salas, é impossível saber de tudo sem outros olhos para ajudar. “Algumas coisas acontecem no interior da sala e você não consegue perceber se alguém não te der uma sinalização. Por isso, a parceria com a equipe é muito importante”. A orientadora diz que também é necessário entender as demandas dos professores e olhar para eles sem superioridade. “É fundamental você ter uma postura de parceiro com seu grupo de professor, pensar junto com eles, entrar na sala e entender o que ele está vivendo. Você nunca está acima, você está ao lado deles”.

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9. Você é responsável pelas crianças

Pode parecer muita pressão quando pensamos em crianças tão novas, mas é a verdade: elas são de responsabilidade da escola e, muitas vezes, o gestor representa a escola. Leninha exemplifica esse tipo de situação contando sobre os passeios externos promovidos pela escola. “Eu saí de São José dos Campos para ir no zoológico de São Paulo, com quatro ônibus cheios de crianças sob nossa responsabilidade”, lembra ela. Em situações como essas, a ex-gestora conta que a organização era a principal aliada - e conferir nunca era demais.

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10. O cargo de gestão vem acompanhado de (muita) burocracia

Olhando de fora, não parece que um gestor tem tanta burocracia para resolver  – ainda mais se as crianças são pequenas e ainda não precisam realizar provas e os casos de indisciplina não são tão graves. Mas, segundo Eni, as documentações são várias e, em alguns dias, ela passa mais tempo olhando para a tela do computador do que fazendo qualquer outra coisa. A diretora confessa que, quando era professora, não desconfiava que os gestores fizessem tanto trabalho administrativo. E Eni diz que isso se repete com os professores que trabalham com ela. “A gente fica muito preso na parte burocrática. Eu não esperava. E os professores pensam: mas ela ficou o dia inteiro naquele computador, como que é isso?”, conta, em meio a risadas.

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11. Algumas situações com crianças vão cortar seu coração

Gestores de escolas públicas geralmente acabam lidando com crianças de diferentes situações sociais, e essa pode não ser uma tarefa muito fácil, sobretudo quando as crianças estão em situação de vulnerabilidade social. Quando as crianças são mais novas, isso pode ser ainda mais difícil de encarar. Laudicea lembra de uma situação que vivenciou em uma das escolas que já atuou. Na ocasião, duas crianças irmãs estavam chegando sujas na escola e, por isso, as demais não queriam brincar com elas. Laudicea conversou com a mãe e soube que a família realmente não tinha condições de dar banhos nas crianças, devido a questões na casa. Para a gestora, nessas horas é preciso agir com sensibilidade. Junto às professoras, ela decidiu que as meninas tomariam banhos diários na escola, que também realizou uma campanha para arrecadar roupas novas para elas. “Essa é uma situação que eu jamais pensei que eu iria vivenciar”, confessa Laudicea.

Eni também já passou por situações de cortar o coração. Enquanto gestora, ela teve que lidar com alguns casos de crianças que eram violentadas em casa. Quando a escola percebe isso, diz Eni, é necessário contatar o conselho tutelar. “Já tive até caso de pai que perdeu a guarda por conta das denúncias da gente. Porque a gente não pode ser conivente com nenhum tipo de violência contra a criança".

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12. 
Para lidar com crianças, tem que entrar na brincadeira
Apesar de afirmar que o contato com as crianças diminuiu bastante desde que se tornou diretora, Eni diz que gosta de estar próxima dos pequenos, e se esforça sempre para isso. A diretora gosta de participar de todos os passeios que a escola faz, e aproveita para entrar no mundo das crianças. “Enquanto diretora, eu particularmente gosto de acompanhar as crianças em passeios. Inclusive, em um cortejo que fizemos até a Biblioteca Monteiro Lobato. Alguns professores se fantasiaram, eu também me fantasiei. Tem que entrar na brincadeira. Eu gosto dessa parte”, conta com alegria.

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13. Muitas vezes, o fofurômetro vai explodir!
Apesar dos conflitos e de situações difíceis de encarar, lidar diariamente com crianças também pode gerar muitos momentos bonitinhos, como bem descreve Laudicea. Ela se lembra de uma situação específica em que ficou surpresa com a reação de uma das crianças. Em determinada ocasião, a mãe de uma menina queria que Laudicea conseguisse uma vaga na creche para seu outro filho, para que eles estudassem juntos. Como as vagas estavam esgotadas, a gestora não conseguiu ajudar, e a mãe acabou ficando muito brava com ela. Laudicea conta que, a partir dessa situação, essa mãe passou a tratá-la sempre com rispidez. Certo dia, a filha dela chegou até Laudicea, deu um abraço e disse: “Tia, eu não sei porque a minha mãe não gosta de você, eu já falei para ela que você é tão boazinha para a gente, que você brinca com a gente”. Além disso, quem nunca fica encantando com tantas outras atitudes e falas dos pequenos?

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